Por que o dólar está subindo tanto e ultrapassou R$ 5,30?
O dólar subiu tanto esta semana que ultrapassou os R$ 5,42 na quarta-feira (6), chegando ao maior valor desde 24 de janeiro, quase seis meses. A mola propulsora desse aumento foi acionada no começo de junho, quando o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) trocou a ideia de compensar os estados que viessem a zerar o ICMS de combustíveis pela chamada "PEC Kamikaze". Hoje, a moeda chegou a bater o valor de R$ 5,36, mas, por volta do meio-dia, a queda é de quase 1%, chegando a R$ 5,295.
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) foi aprovada na comissão especial da Câmara dos Deputados ontem (7), e deverá ser votada no plenário da Casa ainda na terça-feira (12). A proposta libera R$ 41 bilhões para que Bolsonaro (PL) conceda extensão do valor do Auxílio Brasil e um bônus de R$ 1.000 a caminhoneiros. Os benefícios, porém, só valem até o fim do ano.
Foi a perspectiva de maiores gastos governamentais que fez o dólar disparar esta semana, segundo Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest. "Quando o governo gasta demais, ele aumenta a dívida pública", diz ela. Uma dívida maior eleva a inflação e espanta os investidores. Consequentemente, eles levam seus dólares daqui para outros mercados. E, com menos dinheiro, em circulação no Brasil, o real se desvaloriza.
Crise mundial também atrapalha
"Mas o fator preponderante de alta do dólar é o panorama mundial", diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. A previsão de recessão em vários países, inclusive nos Estados Unidos, considerada a economia mais estável do mundo, pode afetar diretamente o mercado nacional. "Como os EUA são grandes parceiros comerciais do Brasil, assim como a China, se eles entram em recessão, comprarão menos de nós", acrescenta Cristiane.
Hoje, por exemplo, o Itaú BBA revisou para baixo sua estimativa para o PIB (Produto Interno Bruto) mundial. Prevendo uma desaceleração econômica se intensificando, o banco, que tinha expectativa de crescimento de 3%, agora aposta em 2,9% para 2022, com maior risco de recessão nos EUA e na zona do euro.
"Essa preocupação global faz os investidores tirarem seu dinheiro de mercados emergentes, como o Brasil. E como tem havido muita especulação de que os Estados Unidos devem subir seus juros novamente, eles migram para lá, em busca de uma aplicação mais segura", explica Cristiane. E a aplicação mais segura do mundo são os títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
O dólar vai continuar disparando?
Com todo esse cenário, a moeda norte-americana, que estava cotada em R$ 4,73 no dia 27 de maio, vem numa escalada desde então. O pico aconteceu na quarta-feira, quando, na máxima do dia, o dólar atingiu R$ 5,46. A moeda não chegava a esse valor desde janeiro. Hoje, até o meio-dia, o dólar estava sendo vendido com queda de 1,09%, a R$ 5,28.
Vale a pena comprar dólar?
"Eu compraria", diz a economista do Banco Ourinvest. O real, segundo ela, historicamente se desvaloriza nos meses que antecedem eleições presidenciais no Brasil. Então, no curto prazo, o dólar de ser um bom investimento.
Mas Sanchez é mais cético. Ele acredita que a moeda norte-americana deve voltar a R$ 5,05 até o final do ano, com a expectativa de que a recessão mundial se torne mais amena. "As eleições fazem a moeda oscilar muito. Num dia cai, no outro sobe", diz.
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