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Fundos com dívidas das Casas Bahia receberão depois, mas perderão menos

No final de abril, o Grupo Casas Bahia comunicou ao mercado ter alcançado um acordo de recuperação extrajudicial (RE) com seus principais credores, Banco do Brasil e Bradesco, para ajustar suas dívidas. Na prática, a empresa está renegociando os débitos e alongando os prazos de pagamento.

Os credores, que são principalmente fundos, vão demorar mais para receber o valor investido. Mas, em comparação com uma recuperação judicial, as dívidas têm um desconto menor, o que pode ser uma vantagem.

O que é recuperação extrajudicial

Recuperação extrajudicial é uma alternativa para evitar insolvência. Enquanto a recuperação judicial (RJ) acontece com a supervisão do Poder Judiciário e é vista como o último recurso de uma companhia, a recuperação extrajudicial ocorre por meio da reestruturação das dívidas diretamente com os credores.

Como a dívida da Casas Bahia mudou

Antes da mudança, a Casas Bahia tinha dívidas de R$ 4,8 bilhões a serem pagas até 2027. Cerca de R$ 3,87 bilhões eram referentes à amortização da dívida e outros R$ 951 milhões em juros. Nesse plano pré-acordo, havia ainda mais R$ 62 milhões a serem pagos até 2029.

Após o acordo, a empresa vai desembolsar mais precisamente R$ 498 milhões até 2027. A partir de 2028, a empresa deverá pagar outros R$ 5,97. Ou seja, até 2027, a companhia diminuiu o valor a ser pago em R$ 4,3 bilhões (já que ainda tem R$ 500 milhões a serem pagos), adiando esse pagamento. O valor é referente à amortização e juros de quatro debêntures e CCBs (Cédulas de Crédito Bancário), com o custo de CDI mais 2,70%.

A dívida também ficou 1,5 ponto percentual mais barata, uma economia referente a juros de R$ 60 milhões por ano. Além disso, o prazo médio para resolver as pendências passa de 22 para 72 meses. Dessa forma, os maiores gastos com a dívida começam a partir de 2029, quando deverá fazer o aporte de R$ 1,1 bilhão.

E o que acontece com os credores?

Maior parte dos credores são fundos de investimento. O credor antigo passa a ser credor da nova debênture e há um período de carência para pagar as obrigações. Após a emissão das novas debêntures, uma opção para o investidor que tem um valor alocado é negociar as debêntures no mercado secundário. Dessa forma, ele pode receber antes do prazo de vencimento. Como os credores deram o aval, essa mudança é automática para eles.

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Dívidas serão concentradas em uma única debênture. Elas serão emitidas em três séries. A primeira não é conversível em ações e tem como objetivo alongar o pagamento da dívida. Por outro lado, a segunda série é voltada aos bancos credores, visa manter as atuais condições de crédito e é conversível em ações, o que fica a critério do debenturista, a partir do 18º mês da data de emissão. Já a terceira série não é conversível em ações e conta com garantias reais como forma de incentivo.

As séries de debêntures das Casas Bahia:

  • Primeira série é de R$ 1,5 bilhão (sem os juros), carência principal de 30 meses e remuneração de CDI + 1,5% ao ano. Ela vence em novembro de 2029 e tem quatro parcelas anuais a partir de novembro de 2026.
  • Segunda série tem pagamento de R$ 2,6 bilhões para parceiros (sem os juros), remuneração de CDI + 1% ao ano e vencimento em 2030. Os credores poderão fazer a conversão em ações.
  • Terceira série é voltada a parceiros, tem pagamento de CDI + 1% a.a. e vence em novembro de 2030.

Acionistas podem participar de emissão primária de nova debênture. Neste caso, todo o valor que os acionistas decidirem dar em crédito para a companhia seria destinado exclusivamente para pagar parte das pendências, diz Fabrício Silvestre, analista de renda fixa da Levante Inside Corp.

É uma boa mudança?

Processo é considerado mais rápido e barato. Segundo Raony Rossetti, CEO da plataforma de educação financeira Melver, apesar de não oferecer a mesma proteção legal que uma RJ, é uma maneira que permite mais flexibilidade às partes envolvidas nas negociações.

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Ganha-ganha para as partes. Rossetti diz que a operação melhora a estrutura de capital da companhia, dando maior fôlego para a operação e mantendo a relação com fornecedores intacta, diferente do caminho de recuperação judicial. Ainda, o alongamento do prazo gera maior segurança em relação à sua saúde financeira.

Investidores também são favorecidos. O CEO da Melver diz que, em um processo de recuperação judicial, geralmente há um desconto sobre o valor devido pela empresa que pode ultrapassar 50% do total. Além disso, os credores perdem parte da influência com a inclusão na mesma negociação de dívidas trabalhistas e de fornecedores. Dessa forma, com a recuperação extrajudicial, os investidores ainda podem recuperar todo o valor aportado na empresa.

O reperfilamento da dívida é uma estratégia utilizada para ajustar as condições de pagamento. Trata-se de um processo delicado, que envolve a renegociação dos termos do crédito, como prazos de pagamento, taxas de juros e montantes devidos. O objetivo principal do reperfilamento é tornar os pagamentos mais sustentáveis e gerenciáveis para o devedor, evitando assim o risco de inadimplência.
Raony Rossetti, CEO da Melver

O que acontece com as ações

Primeira reação do mercado foi positiva. Agora, a expectativa é que a varejista consiga focar mais na reestruturação do operacional, que precisa de atenção, principalmente, dado o cenário muito mais acirrado no e-commerce, com players internacionais, como os asiáticos, investindo pesado no Brasil, diz Caroline Sanchez, analista de varejo da Levante Inside Corp.

Prejuízo

Operação no vermelho. No quarto trimestre de 2023, as vendas nas lojas físicas caíram 7,3%, enquanto no digital o recuo foi de 5,8%. Além disso, o prejuízo de 2023 foi quase oito vezes maior do que o registrado no ano anterior, segundo a analista da Levante.

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Já no primeiro trimestre do ano, a empresa teve prejuízo de R$ 261 milhões, melhora de 12,2% frente ao mesmo período de 2023. O resultado veio mesmo com uma queda de Ebitda ajustado de 42,6%, que ficou em R$ 387 milhões, e uma diminuição de receita líquida de 13,7%, batendo em R$ 6,3 bilhões.

A queda de receitas já era prevista. Em seu plano de recuperação de resultados, Casas Bahia já havia dito que voltaria ao básico, ou seja, às categorias de bens duráveis nas quais é especialista, saindo de produtos de baixo valor agregado que traziam custos de estoque.

Recuperação deve dar fôlego para que a empresa foque na operação. Segundo Caroline, isso não deve se refletir de forma expressiva no curto prazo, uma vez que os ajustes ainda estão em curso, a exemplo do fechamento de lojas. Ela diz que o olhar sobre as ações pede cautela, com a previsão de intensa volatilidade nos próximos meses. A recomendação da Levante para BHIA3 é neutra.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.

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