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Mundo não tem opção e vai seguir comprando carne brasileira, diz entidade

Funcionário seleciona peça de boi em açougue na zona norte de São Paulo (SP). (20.mar.2017) - Leonardo Benassatto/Framephoto/Estadão Conteúdo
Funcionário seleciona peça de boi em açougue na zona norte de São Paulo (SP). (20.mar.2017) Imagem: Leonardo Benassatto/Framephoto/Estadão Conteúdo

Aiuri Rebello

Do UOL, em São Paulo

27/03/2017 13h58

O mercado mundial simplesmente não tem opção e vai continuar comprando a carne brasileira assim que "passar o susto" causado pela Operação Carne Fraca. Com 40% do mercado mundial de frangos, cerca de 20% do de carne bovina e 13% do mercado de suínos, a participação do Brasil nas exportações de carnes mundo afora é simplesmente grande demais para ser substituída de maneira ágil.

Essa é a opinião de José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), que congrega grandes exportadores brasileiros, incluindo frigoríficos. Apesar disso, a entidade estima que o impacto nas exportações brasileiras será de cerca de US$ 1 bilhão de prejuízo em 2017, até que a confiança seja retomada e a situação, normalizada.

A queda das exportações brasileiras de carne registradas pelo Ministério do Desenvolvimento foi abrupta: de uma média de US$ 63 milhões por dia para cerca de US$ 74 mil por dia, segundo números apresentados ao Palácio do Planalto. De acordo com a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), o prejuízo foi de US$ 130 milhões só na primeira semana da crise.

"Fora o Brasil, o mundo tem apenas mais dois grande produtores de carne bovina no mundo: Estados Unidos e Austrália", afirma Castro. "Os Estados Unidos têm um mercado interno muito forte e não têm como suprir a fatia brasileira. Já a Austrália teria que multiplicar muitas vezes a própria produção. Como criar um rebanho leva tempo, e as pessoas não vão deixar de comer carne, não há alternativa imediata ao produto brasileiro no curto e médio prazo", diz ele.

De acordo com o governo brasileiro, Chile e Egito retomaram as exportações de carne brasileira normalmente após alguns dias de restrições. No sábado (25), o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, anunciou que a China também iria retomar as exportações normalmente.

A JBS (Friboi e Seara), gigante do ramo que teve o nome envolvido no escândalo, disse nesta segunda-feira (27) que não pretende demitir nenhum dos 125 mil funcionários no Brasil, e que espera a normalização da produção em breve. Na quinta (23), a empresa anunciou que havia suspendido a produção de carne bovina em 33 de suas 36 unidades no país por três dias.

95% dos embutidos são para consumo interno

De acordo com a Associação de Comércio Exterior do Brasil, mesmo a criação de frangos --que crescem mais rápido que bois ou porcos, por exemplo -- não tem como ser suprida por outro exportador de uma hora para a outra.

"O maior problema na Operação Carne Fraca foi constatado na produção e fiscalização de embutidos, miúdos. Hora, pelo menos 95% de tudo que é produzido nessa área fica no mercado interno brasileiro, não é exportado. No final, assim que as coisas ficarem mais claras, os países vão suspender os embargos e voltar a comprar normalmente", acredita o presidente da entidade.

Em 2016, o Brasil exportou US$ 11,6 bilhões em carne suína, bovina e de frango. Para 2017, a expectativa da associação era que esse valor chegasse a mais de US$ 12,7 bilhões, mas a meta foi revista, em US$ 1 bilhão a menos, após a Operação Carne Fraca. "A forma como a operação foi anunciada foi um desastre, não tinha a menor necessidade disso", afirma Castro.

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O que foi dito sobre a operação

Na quinta-feira (23), o UOL revelou que a CGU apontava que fiscais do ministério da Agricultura no Paraná faziam vista grossa para irregularidades nos frigoríficos e deixaram de aplicar quase meio milhão de reais em multas no ano de 2014. 

A Polícia Federal produziu apenas um laudo técnico em uma das 21 empresas investigadas para embasar a Operação Carne Fraca, e usou informações de outro laudo de 2015, que faz parte de um processo administrativo do Ministério da Agricultura. O governo tinha conhecimento das suspeitas de fraude pelo menos desde outubro de 2015.

A APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais) divulgou nota afirmando que as conclusões da operação sobre os danos à saúde pública não têm embasamento científico. Segundo a entidade, os peritos federais foram acionados pela PF apenas uma vez durante as investigações e o laudo resultante desse trabalho não comprovou tais danos.

A equipe da PF que atua no caso defendeu a operação e disse que ainda há muito material sob sigilo. Apesar das críticas sobre a falta de laudos técnicos, o delegado defendeu a operação com base em outras provas da investigação, como escutas, depoimentos e quebras de sigilo bancário.

A Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais) defendeu a atuação dos agentes federais, mas criticou a forma como as investigações foram divulgadas.

As empresas envolvidas, dentre elas algumas das maiores do ramo no país, como a BRF (dona das marcas Perdigão e Sadia) e a JBS (dona das marca Friboi e Seara), negam envolvimento nas irregularidades.

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