Agência reduz nota do Brasil e deixa país mais longe de ser 'bom pagador'
A agência de classificação de risco Fitch reduziu, nesta sexta-feira (23), a nota de crédito do Brasil de "BB" para "BB-", com perspectiva estável. Com isso, o país fica ainda mais longe do chamado grau de investimento, uma espécie de "selo de bom pagador".
É o segundo corte da nota brasileira por uma agência neste ano. Em janeiro, a Standard & Poor's também rebaixou a classificação do país, de "BB" para "BB-".
A primeira agência a tirar o grau de investimento do Brasil foi a S&P, em setembro de 2015. Desde então, as principais agências (Fitch, Moody's e S&P) fizeram sucessivos cortes na nota do país.
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Desistência da reforma foi gota d'água
Em comunicado, a Fitch afirmou que o rebaixamento do Brasil reflete "persistentes e grandes deficits fiscais, além da crescente e elevada dívida pública". A gota d'água foi a desistência do governo de prosseguir com a reforma da Previdência neste momento, o que foi classificado pela agência como "grande retrocesso na agenda de reformas".
Na segunda-feira (19), o governo jogou a toalha sobre a votação da reforma e apresentou um conjunto de medidas, boa parte já em tramitação no Congresso. Apesar de esperada, a desistência oficializou o adiamento da reforma, que é vista pelo mercado como fundamental para equilibrar as contas públicas. Na terça-feira (20), a Fitch havia dado sinais de que o rebaixamento estava por vir.
Governo segue comprometido, diz Fazenda
Logo após o rebaixamento da nota, o ministério da Fazenda afirmou, em nota, que o governo segue comprometido em progredir com a agenda de reformas macro e microeconômicas destinadas a garantir o equilíbrio das contas públicas
O ministério apontou que a Fitch, ao reduzir a nota brasileira, reconheceu "que os fundamentos macroeconômicos brasileiros permitem tanto absorver choques internacionais e domésticos como garantir a sustentabilidade da dívida pública".
A Fazenda, contudo, não fez nenhuma menção direta à reforma Previdência em sua nota.
Nota indica risco de calote
Um governo ou empresa consegue dinheiro vendendo títulos no mercado. Os investidores compram papéis com a promessa de receberem o dinheiro de volta no futuro com juros. Quando um governo ou empresa tem avaliação ruim, considera-se que há risco de dar um calote e não pagar esses investidores.
Se houver desconfiança sobre essa devolução, fica difícil conseguir vender esses títulos, e é preciso pagar mais juros aos investidores para compensar o risco maior. O rating, ou classificação de risco, indica aos investidores se um país, empresa ou negócio é considerado um bom pagador ou não.
O chamado grau de investimento, por exemplo, indica que tem baixo risco de dar calote, e que as aplicações financeiras feitas por investidores estrangeiros nesse país ou empresa terão risco próximo a zero.
Agências falharam na crise de 2008/2009
A classificação das agências de risco é um instrumento relevante para o mercado, uma vez que fornece aos potenciais credores uma opinião supostamente independente a respeito do risco de calote de países, empresas e negócios.
Porém, as agências foram muito criticadas por terem falhado na crise global de 2008/2009. Elas deram boas notas para operações de vendas de hipotecas imobiliárias nos EUA que afundaram bancos e investidores e geraram a grande crise financeira.
(Com agências)
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