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Análise: A Argentina está diante de uma nova falência estatal?

O presidente da Argentina, Mauricio Macri - AP
O presidente da Argentina, Mauricio Macri Imagem: AP

Mischa Ehrhardt

Da Deutsche Welle

14/08/2019 11h43

Mercados financeiros reagiram mal à derrota de Macri nas primárias da Argentina. A Bolsa de Valores e a moeda do país despencaram, e o medo de calote da dívida paira entre investidores. Na Argentina, uma mudança de poder se torna cada vez mais provável. Isso levou, no início desta semana, a uma forte turbulência nos mercados financeiros do país.

No mercado de ações, cotações de empresas caíram drasticamente, e o S&P Merval, principal índice da Bolsa de Valores da Argentina, despencou cerca de 30% na segunda-feira (12). Calculadas em dólares, as perdas chegam a quase 50%. É o segundo maior "crash" mundial de uma Bolsa de Valores desde 1950. Após as eleições primárias para a presidência, a moeda argentina, o peso, despencou em relação dólar.

Assim os investidores nos mercados financeiros reagiram ao resultado surpreendentemente claro das eleições primárias do último fim de semana. No último domingo (11), o presidente Mauricio Macri sofreu um sério golpe eleitoral. As primárias servem para reduzir a gama de candidatos --e elas são consideradas um termômetro para a eleição presidencial, agendada para outubro.

Nesta terça-feira (13), no entanto, o índice Merval se recuperou e pôde pelo menos recuperar parte das perdas.

O retorno dos peronistas

Após a contagem dos votos no último domingo, Macri ficou claramente atrás de seu adversário, Alberto Fernandéz, que vem da ala peronista de centro-esquerda. E sua aliada e candidata a vice é a ex-presidente da Argentina Christina Kirchner. Ela e Fernandéz conquistaram 47% dos votos, enquanto a chapa de Macri conseguiu apenas 32% da preferência dos eleitores.

Com isso é grande a probabilidade de que Fernandéz e Kirchner possam chegar ao poder logo no primeiro turno da eleição presidencial. "No passado, o balanço do governo Kirchner não foi dos melhores. E agora os investidores estão preocupados com o reescalonamento da dívida", diz Mauricio Vargas, da empresa de investimento Union Investment.

Reescalonamento da dívida, nesse caso, é a transcrição eufêmica de cortes da dívida, em que os investidores poderiam perder pelo menos parte de seu capital investido.

Christina Kirchner já tem experiência com esses planos. Pois em seu mandato deu-se a luta contra os proprietários de títulos que não quiseram participar do reescalonamento da dívida pública. É por isso que se atribui a ela --em contraste a Macri-- um relacionamento muito tenso com os investidores estrangeiros.

"Do ponto de vista do capital e do investidor, só se pode esperar que, metaforicamente falando, isso tudo não termine num banho de sangue que afaste os investidores internacionais", diz Vargas.

Cristina Kirchner e Alberto Fernández - Divulgação/Frente de Todos - Divulgação/Frente de Todos
A ex-presidente Cristina Kirchner participa de ato político ao lado do candidato à presidência Alberto Fernández
Imagem: Divulgação/Frente de Todos

Governo Macri em círculo vicioso

A Argentina está vivenciando uma crise econômica séria já há algum tempo. Embora o declínio econômico do país seja atribuído, sobretudo, à presidência de Kirchner, seu sucessor, Macri, fracassou nos últimos quatro anos na tentativa de tirar a Argentina do abismo econômico.

Nos últimos 12 meses, a inflação atingiu cerca de 40%, enquanto o desemprego e a pobreza aumentaram. Considerado liberal do ponto de vista econômico, Macri prometera uma mudança para melhor.

"Macri tentou mudar muitas coisas", afirma Mauro Toldo, do Deka Bank. "Mas ele também foi obrigado a fazer grandes cortes econômicos --e isso teve um impacto negativo na economia."

Depois de duas crises cambiais, o governo Macri pediu, no ano passado, um empréstimo de mais de US$ 50 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O dinheiro deve servir para estabilizar o país até o final de 2021. Em troca, o presidente anunciou medidas de austeridade.

Perigo de falência estatal aumenta drasticamente

Com a provável mudança de curso de um possível novo governo e a drástica incerteza nos mercados financeiros, vislumbra-se uma possível falência estatal da Argentina --pelo menos sua probabilidade aumentou significativamente. Isso pode ser visto nas garantias contra a inadimplência de títulos do governo argentino.

O provedor de dados Markit informou na terça-feira que a cobertura desses títulos dobrou desde sexta-feira passada e atingiu seu nível mais alto em cinco anos. Isso sugere que a probabilidade de inadimplência estatal nos mercados financeiros é estimada em mais de 72%.

"O endividamento é muito alto e percebe-se que a confiança dos investidores não existe mais", afirma Mauro Toldo. "Isso significa que se entra muito rapidamente numa dinâmica negativa, o que dificulta o financiamento. Isso pode deixar o país de joelhos. Não tem que ser assim, mas no momento, a situação está mais para isso."