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Profissão mãe: LinkedIn e Lattes abrem espaço para licença no currículo

Sem justificativa, os lapsos de tempo na trajetória profissional podem prejudicar as mulheres - iStock
Sem justificativa, os lapsos de tempo na trajetória profissional podem prejudicar as mulheres Imagem: iStock

Denyse Godoy

do UOL, em São Paulo

20/04/2021 04h00

Atendendo um pedido antigo das mulheres que trabalham em empresas públicas, privadas e em universidades, a rede social de negócios LinkedIn e a plataforma brasileira de currículos de cientistas Lattes estão abrindo espaço para a menção de períodos dedicados à família nos perfis profissionais.

A mudança na plataforma Lattes entrou em vigor no dia 15: agora, há um campo chamado "Licenças" no formulário de currículo que é preenchido e atualizado pelas cientistas. No LinkedIn, controlado pela gigante de informática Microsoft, as novas funcionalidades incluem a opção de escolher "dona de casa" como profissão e estarão disponíveis no começo de maio, segundo a empresa. A plataforma Lattes abriga atualmente 7 milhões de currículos, sendo metade de mulheres. O LinkedIn tem cerca de 740 milhões de usuários no mundo, sendo 47 milhões no Brasil.

Sem o aviso de que se afastaram do emprego por certo tempo para cuidar de casa, dos filhos ou dos parentes idosos, o currículo das mulheres fica com lapsos de tempo que podem prejudicar a sua carreira. No caso de uma pesquisadora, a comparação da sua produção com a de um cientista homem no intervalo em que ela tirou uma licença-maternidade, por exemplo, vai ser desfavorável para a mulher, deixando-a em segundo lugar na disputa por uma bolsa de estudos ou por uma vaga de docente em uma universidade.

"A inclusão das licenças é um movimento de mudança de cultura", diz a professora Zaira Turchi, diretora de cooperação institucional do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que administra a plataforma Lattes. "Estamos mostrando que a flexibilidade é necessária para avaliar a trajetória profissional das mulheres. Elas não devem precisar escolher entre ter uma carreira e ter um filho."

A organização Parent in Science, fundada pela pesquisadora Fernanda Staniscuaski, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vem desde 2016 levantando o debate sobre a maternidade e a paternidade no setor de ciência brasileiro e foi quem pediu a mudança para o CNPq. Primeiro, há dois anos, e novamente em janeiro último.

A demanda por ter suas idiossincrasias profissionais contempladas nas plataformas é antiga, mas a resposta vem em um momento especialmente difícil para as mulheres trabalhadoras. A pandemia da covid-19 obrigou muitas profissionais a deixar o emprego. Outras foram demitidas em decorrência do fechamento dos estabelecimentos comerciais em que atuavam, e as que se mantiveram no mercado de trabalho formal sofrem com a queda de desempenho.

Como resultado da crise, a taxa de desemprego entre as mulheres subiu 3,3 pontos percentuais entre o último trimestre de 2019 e o mesmo período de 2020, para 16,4% da força de trabalho, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A dos homens cresceu 2,7 pontos percentuais, para 11,9%. Pesquisas no Brasil e no exterior apontam ainda que a produção das cientistas mulheres caiu pela metade na pandemia, enquanto a de seus colegas homens recuou pouco menos de 40%.

"As iniciativas do LinkedIn e da Lattes permitem que, em vez de esconder, como frequentemente acontece, as mulheres mostrem com orgulho que são mães", diz Patrícia Alves, sócia da área trabalhista e membro do comitê de diversidade do escritório Souto Correa Advogados. "É um passo adiante na luta por equidade no mercado de trabalho. Ainda temos bastante a caminhar, mas precisamos comemorar os avanços que obtemos."

As instituições de ensino e pesquisa do Brasil agora estão estudando como incluir a informação do currículo Lattes sobre as licenças em seus processos seletivos para projetos ou docência. Uma ideia é ampliar os períodos de atividade considerados na análise dos currículos das pesquisadoras. O LinkedIn promete aprimorar a funcionalidade nos próximos meses para atender quem ficou fora do mercado formal de trabalho por algum tempo.

Além do papel

À parte a formalidade dos currículos, as mulheres precisam superar o preconceito dos empregadores que acham que, por ter filhos, uma profissional vai entregar menos do que um homem, e por isso deixam de contratá-la ou promovê-la na empresa.

A advogada Alves teve todo apoio do escritório nas suas gestações. A advogada tem dois filhos, de três e seis anos. Mesmo assim, na primeira gravidez, ficou apreensiva. "Achava que não podia deixar a maternidade afetar em nada o trabalho, que precisava agir como se tudo estivesse absolutamente igual", conta. "Porém, a gente não volta da licença igual. Eu voltei até melhor. E fui entendendo que posso me colocar no mercado de trabalho como mãe, combinando as entregas de forma responsável."

Em sua opinião, esse é um aprendizado coletivo. "As mulheres precisamos nos impor e tratar o assunto com naturalidade. Faz parte da vida", afirma.

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