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Na longa crise, empresas e profissionais cultivam a inteligência emocional

Com autoconhecimento e empatia, dá para atravessar a pandemia melhor, segundo especialistas - Greg Rakozy/Unsplash
Com autoconhecimento e empatia, dá para atravessar a pandemia melhor, segundo especialistas Imagem: Greg Rakozy/Unsplash

Denyse Godoy

do UOL, em São Paulo

11/05/2021 04h00

A pandemia do novo coronavírus está durando muito mais do que o esperado, notadamente no Brasil. Depois do pânico inicial, há um ano, veio a reorganização forçada da vida e do trabalho - com sérios impactos na saúde emocional das famílias. Agora, empresas e profissionais vêm buscando maneiras de fortalecer sua resiliência, já que o cenário continua bastante incerto. Desenvolver a inteligência emocional é uma das melhores ferramentas, segundo os especialistas.

Inteligência emocional é um conceito que ficou mundialmente famoso em 1995, quando o jornalista e psicólogo americano Daniel Goleman lançou um livro com esse nome. Na obra, Goleman chama de inteligência emocional a maneira como percebemos, processamos e administramos nossas emoções no dia a dia.

Aline Gomes, da Conquer - Divulgação - Divulgação
Aline Gomes, da Conquer: olhar de fortalecimento
Imagem: Divulgação

Segundo a psicóloga Aline Gomes, professora do curso de inteligência emocional e diretora de customer experience e educação da escola de negócios Conquer, a competência é útil para ajudar a atravessar a tormenta de várias maneiras. Primeiro, porque exige olhar para dentro. "Passamos a cuidar das nossas emoções. Nunca se falou tanto de saúde mental como neste momento", diz Gomes. "Essa consciência permite usar nossos pontos fortes para enfrentar as dificuldades no lado pessoal, profissional e no negócio. A inteligência emocional ajuda a encarar a situação não com um olhar de desespero, mas de fortalecimento."

Outro benefício é que a inteligência emocional permite desenvolver a empatia e a habilidade de comunicação. "O cuidado não apenas consigo mas também com a forma como se impacta o outro cria uma sociedade muito mais leve para enfrentar tudo que estamos passando."

O escritório Souto Correa Advogados, que tem cerca de 215 profissionais nas suas unidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília, percebeu que esta é a hora de encorajar os colaboradores a cultivar as chamadas soft skills, ou habilidades comportamentais. Em 2020, o foco das ações do departamento de recursos humanos para apoiar seus advogados, estagiários e demais funcionários ficou na saúde. O escritório promoveu palestras online com consultores nas áreas de alimentação, educação física, meditação e até beleza - uma preocupação de todos que estão em home office e participam de reuniões por videoconferência.

Como os profissionais já se adaptaram à nova rotina do trabalho remoto, mas a pandemia parece longe do fim, O Souto Correa julga que é preciso seguir estimulando o desenvolvimento dos colaboradores. "As soft skills ajudam tanto no trabalho quanto nas questões pessoais", diz Roberta Feiten, sócia e integrante do comitê de operações do Souto Correa. O escritório tem contratado especialistas para falar com seus colaboradores em palestras pela internet sobre temas como inteligência emocional, feedback, gerenciamento de crises e gestão do tempo.

Não basta à empresa detectar as demandas dos funcionários por conhecimento e treinamento nos campos emocional e comportamental. É essencial se antecipar a elas, porque, quando os colaboradores as manifestam, podem já estar em sofrimento, com seu desempenho prejudicado. Essa sensibilidade é natural nas empresas cujos gestores são próximos dos liderados. No Souto Correa, por exemplo, os profissionais têm um canal na intranet para procurar o departamento de recursos humanos quando precisam conversar sobre algum problema em qualquer área da vida. Na maior parte das organizações, esse grau de confiança é raro. "Criamos ações para estimular a proximidade. Quanto mais perto dos profissionais está o RH, mais assertivas são as suas medidas", afirma Adriana Schujmann, gestora dessa área no escritório.

Carlos Aldan, da Kronberg - Divulgação - Divulgação
Carlos Aldan, da Kronberg: palestras online
Imagem: Divulgação

O sociólogo Carlos Aldan tem percebido um forte crescimento do interesse das empresas pelos benefícios de desenvolver as habilidades comportamentais. Aldan é presidente da consultoria brasileira Kronberg, especializada em treinamento de profissionais em atendimento, vendas e liderança com base em inteligência emocional e neurociência. No início da pandemia, a consultoria sofreu bastante com a crise do mercado de palestras presenciais em empresas. Conseguiu se reinventar com cursos online. "Havia uma visão equivocada, antes da pandemia, de que a preocupação com o bem-estar é mimimi. No entanto, as organizações perceberam que, se não cuidarem da saúde mental de seus colaboradores, vão perder a competitividade e a relevância em um ambiente cada vez mais incerto, ambíguo e complexo", diz.

Em nível pessoal, viver bem na pandemia exige desenvolver uma mentalidade de enfrentar a realidade como é, na opinião de Aldan. Para o sociólogo, boa parte do desgaste mental que todos sentimos agora se deve às expectativas excessivamente otimistas do início do ano passado. Como elas não se confirmaram, uma parte das pessoas ficou desesperançosa e outra resolveu declarar o fim da covid-19 por conta própria, o que paradoxalmente acaba prolongando a pandemia.

"Todos estamos sujeitos aos estressores externos, e não temos controle sobre eles. O que está ao nosso alcance é a maneira como enxergamos a vida, a última das nossas liberdades, como disse o psicólogo Viktor Frankl, que passou por quatro campos de concentração nazista", conta Aldan. "Precisamos agora de cooperação, sensação de pertencimento, propósito, conexão emocional - tudo isso faz parte da inteligência emocional."

O Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da FIA para reconhecer as empresas que têm as melhores práticas em gestão de pessoas. Os vencedores são definidos a partir da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), que mede a qualidade do ambiente de trabalho, a solidez da cultura organizacional, o estilo de atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. As inscrições para a edição 2021 estão abertas e vão até 15 de junho.