Sem mesa fixa e com espaços multiuso: trabalhar no escritório também mudou
No início de 2020, o trabalho invadiu a casa de muita gente que se refugiava da pandemia de covid-19 - e o home office virou questão de sobrevivência para várias empresas. Segundo a pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), 90% das corporações aderiram a alguma modalidade de trabalho em casa - os dados foram coletados no segundo semestre de 2020, a partir de questionários respondidos por 213 empresas em todo o país. O estudo faz parte do Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar, uma parceria da Fundação Instituto de Administração (FIA) com o UOL para reconhecer as organizações que têm as melhores práticas em gestão de pessoas.
Ao longo de meses, líderes e colaboradores aprenderam a gerir e a produzir remotamente E na maioria dos casos, deu certo. Ainda de acordo com os números da FEEx, 91% dos funcionários avaliaram a experiência em home office como ótima ou boa. Tanto que empresas ampliaram seus programas de trabalho remoto e até instituíram a modalidade de maneira permanente para alguns setores - como o administrativo.
E ao mesmo tempo em que rotinas e ambientes domésticos têm passado por transformações causadas pelo trabalho remoto, os espaços ocupados pelas empresas também estão sendo remodelados por essa nova dinâmica. "As empresas estão partindo do pressuposto de que haverá mais reuniões híbridas e as pessoas irão ao escritório, principalmente, para realizar tarefas coletivas, não as individuais, que seriam feitas de casa", explica Sérgio Athié, sócio-fundador da empresa de arquitetura Athié Wohnrath.
A Heineken, por exemplo, adotou o teletrabalho de forma definitiva no Brasil. Quando for necessário, contudo, os funcionários terão espaços de trabalho à disposição nas instalações da empresa. "Reformulamos nossos escritórios preparando espaços para reuniões estratégicas, brainstorms e momentos de conexão entre nossos times quando for seguro", diz Juliana Wei, diretora de recursos humanos do Grupo Heineken.
A empresa de logística portuária Santos Brasil, por sua vez, reformou seus dois escritórios, em Santos e São Paulo. O sucesso da experiência com o trabalho remoto levou a empresa a repensar a rotina dos funcionários. Todos os 350 colaboradores dos setores administrativos da empresa passaram a cumprir expediente integralmente em home office. "Com a nova dinâmica em funcionamento, o impacto foi muito positivo. Não houve qualquer interrupção em nossas operações", Marcelo Redoschi de Carvalho, diretor de gente e gestão da Santos Brasil.
"Nossos espaços terão menos cadeiras por metro quadrado, serão mais arejados e com ventilação natural, contando com recursos tecnológicos, televisores e telões para permitir a interação entre quem estiver trabalhando presencial e remotamente", diz Carvalho. "Com o home office parcial, redimensionamos nossos escritórios para receber entre 60% e 70% dos funcionários, já que as equipes estarão de um a dois dias por semana trabalhando em casa", diz Carvalho.
Escritórios remodelados
A decisão da Heineken de mudar os espaços veio depois de pesquisas internas para entender como os colaboradores estavam lidando com o trabalho remoto e o que pensavam sobre o retorno aos escritórios. "Percebemos que a maioria enfatizava os benefícios do modelo remoto e o desejo de que ele permanecesse. Isso também se confirmou quando, em agosto de 2020, nós abrimos os escritórios para um retorno voluntário, não incentivado, para os colaboradores que realmente precisavam da estrutura, e a adesão foi extremamente baixa", relata Wei.
Athié afirma que os pedidos mais comuns das empresas que solicitam reformas envolvem "a criação de mais espaços de colaboração, pensados para que as reuniões híbridas aconteçam de forma mais efetiva". Um exemplo de como esses novos espaços serão diz respeito à ameaça de extinção aos postos fixos de trabalho. "Já que não vamos ao escritório todos os dias, muitas empresas estão optando por não ter mesas dedicadas a cada colaborador, trocando, portanto, gaveteiros por lockers. A ideia é permitir que os espaços que antes eram designados para cada indivíduo sejam convertidos em áreas colaborativas", diz o arquiteto.
Além de reformar os espaços já existentes, a Heineken criará novos espaços adaptados às necessidades atuais e futuras do teletrabalho. "Houve uma redução do escritório corporativo em São Paulo e uma adaptação de uso em nosso espaço em Itu. Agora, ambos espaços contam com mais locais para integração: bar, salas de reuniões, espaço para projetos e uma nova plataforma de agendamento de uso do espaço, com check-in e check-out nas estações de trabalho. Também estamos montando um hub com a mesma proposta no bairro do Sacomã, em São Paulo, e outro na cidade de Sumaré, no interior do estado", afirma Wei.
Por causa da dispersão dos colaboradores entre tantas opções de lugares para exercer suas funções, as empresas terão de investir em espaços que representem e reforcem suas culturas. Para Athié, "se as pessoas vão menos ao escritório, elas devem estar imersas no produto, nos serviços, na cultura da empresa, seja de forma digital ou presencial. A alma da empresa tem que estar representada em todos estes ambientes, para que as pessoas estejam conectadas com o negócio e encontrem motivação para estar ali."
O Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da Fundação Instituto de Administração (FIA) que vai destacar as empresas brasileiras com os mais altos níveis de satisfação entre os seus colaboradores. Os vencedores serão definidos a partir dos resultados da pesquisa FIA Employee Experience, que mede o ambiente de trabalho, a cultura organizacional, a atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. A pesquisa já está na fase de coleta de dados das empresas inscritas e os vencedores do Prêmio devem ser anunciados em agosto.
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