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Temas da campanha de Lula, picanha fica mais barata e cerveja sobe em 2022

Preço da picanha entre janeiro e outubro deste ano caiu 1,79%, enquanto o da cerveja subiu até 6,54%, segundo o IBGE - Arte/UOL
Preço da picanha entre janeiro e outubro deste ano caiu 1,79%, enquanto o da cerveja subiu até 6,54%, segundo o IBGE Imagem: Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

29/10/2022 04h00Atualizada em 29/10/2022 11h28

Citados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao longo da campanha eleitoral, os preços da picanha e da cerveja seguiram caminhos opostos em 2022. Enquanto a carne registrou queda de 1,79% de janeiro a outubro deste ano, a bebida subiu de 5,28% a 6,54% — alta maior do que a inflação acumulada no período, de 4,8%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Para fazer essa comparação, o UOL usou os dados do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) divulgados na terça-feira (25). Considerado uma prévia da inflação, o índice registrou alta de 0,16% em outubro.

Picanha mais barata. Os números do IPCA-15 mostram que, entre setembro e outubro deste ano, o preço médio da picanha caiu 2,04%, enquanto o da cerveja vendida nos mercados subiu 0,47%. A cerveja consumida fora de casa, por outro lado, registrou leve queda de 0,24%.

Cerveja sobe em 1 ano. Já nos últimos 12 meses, só o preço da cerveja do varejo (10,3%) subiu mais que a inflação acumulada no período, de 6,85%. A picanha teve alta de 2,09%, enquanto a cerveja consumida fora de casa ficou 4,97% mais cara.

Inflação - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Governo Bolsonaro. Considerando todo o governo de Jair Bolsonaro (PL), porém, a situação se inverte. Segundo dados do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), levantados a pedido do UOL, o preço da picanha subiu 60,14% de janeiro de 2019 a agosto de 2022 —quase três vezes mais do que a inflação do período, de 22,86%. A cerveja teve alta menor, de 18,68%.

"Aí dá para ver que a cerveja não ganhou da inflação. Isso significa que, em termos reais, ela ficou mais barata. A picanha, não. Acumulou alta de 60%, quase três vezes a inflação, então ficou mais cara [no governo Bolsonaro]. Teoricamente, as famílias estariam comendo menos picanha, mas a cerveja não teria impactado tanto o orçamento", explica André Braz, economista e coordenador do IPC.

Diferenças entre índices. A reportagem usou os números da FGV porque o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), responsável pelo IPCA-15, só começou a incluir a picanha na pesquisa de preços a partir de fevereiro de 2020.

Embora os dois índices normalmente apresentem dados semelhantes, a metodologia é um pouco diferente: enquanto o IPC mede a variação de preços para famílias com renda mensal entre 1 e 33 salários mínimos, o IPCA-15 se refere àquelas que ganham de 1 a 40 salários mínimos.

Além disso, a pesquisa de preços da FGV é feita apenas em sete capitais (Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador). A do IBGE abrange as regiões metropolitanas de todas essas cidades, além de Belém, Curitiba e Fortaleza, o Distrito Federal e o município de Goiânia.

Disputa entre Lula e Bolsonaro: Lula vem falando de picanha e cerveja desde o início da campanha eleitoral. Em 25 de agosto, durante entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, o ex-presidente já havia dito que queria ser eleito para "consertar o país" e fazer com que a população possa "voltar a comer um churrasquinho".

É a única razão pela qual eu quero voltar a ser presidente, é a de consertar esse país. Esse país tem que voltar a crescer, tem que voltar a ser feliz, tem que voltar a gerar emprego. Eu digo sempre: o povo tem que voltar a comer um churrasquinho, comer uma picanha e tomar uma cervejinha.
Lula, ao "JN"

A princípio, Bolsonaro questionava as promessas do adversário. No dia seguinte à entrevista de Lula ao "JN", o presidente disse que a esquerda "vende a ilusão de picanha para todo mundo" e negou que exista "fome para valer" no Brasil — ainda que o número de pessoas em insegurança alimentar tenha disparado nos últimos anos, chegando a 33 milhões.

Mais recentemente, em debate promovido por UOL, Folha, TV Band e TV Cultura, Bolsonaro voltou a citar a picanha e a cerveja e perguntou se Lula não ficava envergonhado com essas "propostas mirabolantemente mentirosas".

Bolsonaro, "rei da picanha". Na semana passada, porém, o presidente usou a fala de Lula para criticar o antigo Bolsa Família e exaltar o programa Auxílio Brasil, que hoje paga R$ 600.

"Se pegar o valor médio do Bolsa Família lá atrás, você comprava três quilos de picanha. No nosso Auxílio Brasil, você compra oito. Então, desculpa aqui, eu sou o rei da picanha", disse Bolsonaro, sem mencionar que o valor atual do benefício só será pago até dezembro e não há previsão no Orçamento de 2023 para a continuidade do auxílio turbinado.