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Lula ou Bolsonaro: qual é a diferença para os seus investimentos?

                                RICARDO STUCKERT E DOUGLAS MAGNO / AFP
Imagem: RICARDO STUCKERT E DOUGLAS MAGNO / AFP

14/10/2022 04h00

Se no segundo turno der Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Jair Bolsonaro (PL), que diferença isso pode fazer nos seus investimentos?

Na coluna de hoje vou explicar como eu lido com a minha carteira diante de cada uma dessas possibilidades.

Confira abaixo o que esperar da política econômica, tributação e outros temas.

O Brasil pode virar uma Venezuela? Outro dia uma pessoa me disse que estava profundamente decepcionada com os resultados do primeiro turno das eleições, com Lula em primeiro lugar. Ela teme que o país "vire uma Venezuela".

Eu, particularmente, não vejo chance de isso ocorrer. Primeiro, porque o próprio candidato não tem mais defendido medidas extremas. Segundo que, mesmo se Lula quisesse, o Congresso Nacional dificilmente deixaria.

O PL, partido de Jair Bolsonaro, elegeu 99 deputados federais em 2022, tornando-se a maior bancada da Câmara.

Embora o PT tenha a segunda maior bancada, com 68 cadeiras, o total dos partidos da chapa Lula-Alckmin é de apenas 119 deputados, ou seja, menos de um quarto da Casa. A aprovação de qualquer emenda constitucional requer um mínimo de 308 votos.

No Senado, o PL também ficará com a maior bancada (13 senadores), e o PT está apenas no quarto lugar, com 8 dos 81 senadores.

Com esse Congresso, qualquer proposta mais radical da esquerda seria facilmente vetada, impedindo a venezuelização do país.

Política econômica: Dadas as limitações impostas pelo cenário externo e pelo Congresso, o presidente ainda pode afetar os investimentos por meio da sua política econômica.

A política econômica que tem se mostrado adequada aos interesses dos investidores consiste na combinação de três grandes pilares: metas de inflação, controle de gastos públicos e flutuação do dólar.

Pode-se esperar que Bolsonaro estaria mais propenso a manter o funcionamento dessa política econômica, já que ela tem origem liberal, enquanto Lula teria maior tendência a modificá-la.

No entanto, a teoria é uma coisa, e a prática, outra. Na maior parte dos seus dois mandatos, Lula respeitou o tripé macroeconômico, especialmente as metas de inflação e o controle de gastos públicos. Dilma passou por cima desse último item e sofreu impeachment.

Do governo atual, algumas pessoas esperavam um maior controle de gastos públicos, dado que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vem da linha econômica liberal. No entanto, neste ano eleitoral, Bolsonaro tem feito promessas que elevariam os gastos públicos em R$ 160 bilhões, sem dizer de onde sairiam os recursos.

Assim, não acredito em diferenças significativas entre Lula e Bolsonaro na condução do tripé macroeconômico.

Estatais e privatizações: Como eu disse algumas vezes nesta coluna, não invisto em estatais, dado o risco político. Com Lula ou com Bolsonaro, provavelmente vou continuar afastado desse setor.

De qualquer maneira, a diferença entre Lula e Bolsonaro em relação às privatizações tem ficado no plano da intenção.

O atual governo, em tese, teria um viés mais liberal, enquanto Lula tenderia a uma posição mais estatista. Na prática, no entanto, as grandes privatizações (Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Petrobras) acabaram saindo da pauta de Guedes.

Em abril, o Ministério da Economia informou que pretendia dar continuidade, ainda neste ano, à privatização da Eletrobrás e dos Correios, o que ainda não ocorreu nesse último exemplo.

A diferença que vejo entre Lula e Bolsonaro nesse aspecto é que, com o primeiro, as chances de privatização dessas duas companhias são praticamente nulas, enquanto com o segundo, são pequenas.

Tributação: Outra forma como as medidas de um presidente afetam os investimentos é na tributação. Nesse campo, Lula e Bolsonaro também estão parecidos. Ambos defendem imposto sobre dividendos pagos por empresas aos acionistas.

Falando da carga tributária em geral, pode-se esperar que Lula tenha uma maior propensão a aumentá-la, em comparação com Bolsonaro. Mas aqui também vejo que essa diferença tende a acabar ficando mais na intenção.

Com as promessas de Bolsonaro que aumentam os gastos públicos, o governo precisará tirar dinheiro de algum lugar. Se não for na alta de impostos, será no corte de despesas. Porém, a maior parte dos gastos do governo está em itens que não podem ser modificados com uma canetada, como salários, aposentadorias e pensões, além de juros.

A diferença entre os dois candidatos, a meu ver, está no fato de que parte significativa da base política de Lula é de pessoas que defendem mais gastos sociais. Bolsonaro não terá tanta resistência de seu eleitorado se cortar despesas em universidades federais, por exemplo. Já para Lula isso poderia significar a perda de um de seus pilares políticos.

Conclusão: Se pensarmos estritamente no impacto do presidente sobre os investimentos, um governo mais liberal tende a ser mais positivo a longo prazo.

Com Lula, acredito que a agenda liberalizante tende a ficar parada. De um lado, o PT e demais partidos da coligação podem tentar puxar a política econômica mais para a esquerda. De outro, o Congresso deve barrar iniciativas nessa direção.

Já com Bolsonaro, pode-se dar um ou outro passo rumo à liberalização da economia, mas nada significativo, a julgar pela demora dos processos de privatização no primeiro mandato, pelas repetidas intervenções na Petrobras e pelas recentes promessas que requerem aumento de gastos públicos.

Ainda, um fator que não pode ser desprezado é a postura antidemocrática de Bolsonaro, como o discurso em que o presidente mentiu abertamente a grupo de embaixadores, levantando suspeitas infundadas sobre as urnas eletrônicas. Esse tipo de postura tende a gerar em investidores estrangeiros o receio de instabilidade da democracia no país.

O que faço com meus investimentos: Eu, particularmente, em nada altero minhas estratégias de investimento, se um ou outro for eleito. Continuarei fazendo aportes mensais em fundos imobiliários e em ações de empresas privadas que considero bem administradas. Minha reserva de emergência continuará em aplicações pós-fixadas de baixo risco.

Países democráticos, como o Brasil, tendem a alternar fases mais liberais com momentos de maior intervenção estatal na economia. Nós tivemos nos últimos anos os governos Bolsonaro e Temer, com um viés mais liberal. Antes, passamos por Dilma e Lula, mais intervencionistas. Voltando ainda mais, vivemos a era FHC, mais liberal.

Quem aportou todos os meses em ações de boas empresas nesse período acumulou uma alta significativa desde o início do Plano Real. O Ibovespa subiu mais de 2.500% no período.

Não vejo risco de hiperinflação, como tivemos antes do real. Não vejo chances de virarmos uma Venezuela, nem Estados Unidos. O mais provável é que, com Lula ou Bolsonaro, continuemos a reboque da economia global, especialmente da americana, e que sigamos alternando fases liberais e intervencionistas, com leve vantagem, a longo prazo, para o lado liberal, como tem ocorrido desde pelo menos o Plano Real.

Reforço que essa conclusão se refere apenas ao impacto que cada um dos candidatos pode ter sobre os investimentos das pessoas físicas. Do ponto de vista pessoal, minha escolha é pela chapa Lula-Alckmin, mas por motivos que nada têm a ver com investimentos, mas, sim, com o respeito às instituições democráticas, à imprensa e ao saber científico, entre outros.

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