Trump volta atrás e adia tarifas sobre alguns produtos chineses; mercados sobem
Por David Shepardson e David Lawder
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abrandou seu plano de impor tarifa de 10% sobre o restante de importações chinesas, que começaria a valer em 1º de setembro, postergando a aplicação das alíquotas sobre celulares, laptops e vários outros bens de consumo na esperança de diminuir o impacto na temporada de compras de fim de ano.
A medida deu forte impulso aos mercados de ações e ofereceu certo alívio a setores varejistas e de tecnologia.
A nova tarifa entrará em vigor a partir de 15 de dezembro para milhares de produtos, incluindo roupas e calçados, possivelmente amenizando efeitos sobre a temporada de compras de fim de ano decorrentes da prolongada disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo.
"Estamos fazendo isso por causa da época do Natal, para o caso de algumas das tarifas terem um impacto sobre os clientes dos EUA", disse Trump a repórteres em Nova Jersey. "O que fizemos foi atrasar (a aplicação das tarifas) para que elas não sejam relevantes para a temporada de compras de Natal."
O Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês) anunciou a decisão poucos minutos depois de o Ministério do Comércio da China ter dito que o vice-primeiro-ministro do país asiático, Liu He, conversou por telefone com autoridades de comércio dos EUA.
Liu acertou com o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, e com o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, uma nova conversa por telefone dentro das próximas duas semanas, disse o ministério.
Trump disse que os dois lados ainda podem se reunir no início de setembro, como agendado.
APPLE SOBE
O adiamento da imposição de tarifas sobre parte substancial de uma lista de 300 bilhões de dólares em importações chinesas deu impulso às bolsas de valores dos EUA, com os índices em alta de mais de 1,5%, depois de fortes quedas na semana passada por causa do recrudescimento das tensões EUA-China e da desvalorização do iuan.
As ações da Apple subiam 4% com a notícia de que seus principais produtos para iPhone, tablets e laptops seriam poupados das tarifas por enquanto.
Mas o governo Trump ainda planeja impor tarifas de 10% sobre milhares de alimentos, roupas e outros produtos eletrônicos chineses a partir de 1º de setembro.
Entre eles estão smartwatches da Apple e da Fitbit; alto-falantes inteligentes da Amazon.com, do Google e da Apple; e fones de ouvido Bluetooth e outros dispositivos.
A postergação na imposição das tarifas proporciona algum alívio para o setor varejista. Embora a maioria das lojas tenha reforçado estoque de mercadorias de fim de ano antes do prazo final de setembro, algumas podem não ter tido a mesma sorte.
Trump anunciou as tarifas de 1º de setembro menos de duas semanas atrás, culpando a China por não cumprir as promessas de comprar mais produtos agrícolas norte-americanos durante as negociações em Xangai no final de julho.
Desde os tuítes de 1º de agosto, nos quais Trump anunciou as novas tarifas, o índice S&P 500, referência do mercado de ações de Wall Street, caiu mais de 4%.
As isenções, combinadas com novas negociações com a China, sugerem que Trump pode estar disposto a fazer concessões.
Num sinal de que o governo Trump pode estar esperando algo em troca, Trump publicou no Twitter nesta terça-feira: "Como sempre, a China disse que iria comprar 'muito' dos nossos grandes produtores agrícolas norte-americanos. Até agora eles não fizeram o que disseram. Talvez isso mude!".
Outros produtos que terão tarifas adiadas até 15 de dezembro incluem "computadores, consoles de videogame, certos brinquedos, monitores de computador e certos itens de calçados e roupas", disse o Escritório do Representante de Comércio dos EUA em comunicado.
ALÍVIO PARA A INDÚSTRIA
A Câmara de Comércio dos EUA elogiou o adiamento da aplicação das tarifas e disse que "é mais importante do que nunca que os dois lados retornem à mesa de negociação e se comprometam a alcançar o progresso em direção a um acordo abrangente e executável".
A Associação de Líderes da Indústria de Varejo disse que "remover alguns produtos da lista e atrasar tarifas adicionais de 10% em outros produtos, como brinquedos, eletrônicos, roupas e calçados, até 15 de dezembro é bem-vinda, pois mitigará alguns impactos para os consumidores durante a temporada de compras de fim de ano".
A lista de produtos que não serão afetados pelas tarifas até dezembro inclui babás eletrônicas, carrinhos de bebê, micro-ondas, câmeras, campainhas, instrumentos musicais, potes para ketchup, fraldas, fogos de artifício, sacos de dormir, varas de pesca, rolos de pintura e alimentos.
O USTR ainda vai impor tarifas em 1º de setembro em muitos produtos, como animais vivos, produtos lácteos, esquis, bolas de golfe, lentes de contato, motores de motocicletas, baterias de íons de lítio, sopradores de neve e vários tipos de aço. Alguns itens de vestuário, incluindo casacos, ternos masculinos e roupas de banho.
Um grupo separado de produtos também estará completamente isento, "baseado em saúde, segurança, segurança nacional e outros fatores", acrescentou o USTR.
O anúncio vem em meio a crescentes preocupações sobre a desaceleração econômica global. O Goldman Sachs disse no domingo que o temor da guerra comercial entre EUA e China que pode levar a uma recessão está aumentando e que não espera mais um acordo comercial entre os dois países antes da eleição presidencial dos EUA em 2020.
Celulares, laptops e tablets, brinquedos e consoles de videogames estavam entre as quatro principais categorias de produtos na lista proposta de 300 bilhões de dólares de mercadorias que seriam taxadas em 10%.
Combinados, representaram um total de 98 bilhões de dólares em importações chinesas em 2018, de acordo com uma análise da Reuters dos dados do Departamento do Censo dos Estados Unidos.
Trump criticou pessoalmente o presidente chinês, Xi Jinping, por não conseguir fazer mais para conter as vendas do opióide sintético fentanil, em meio a uma crise de overdose de opiáceos nos Estados Unidos.
O Escritório do Representante de Comércio dos EUA planeja conduzir um processo de exclusão de produtos sujeitos à tarifa adicional.
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