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Um ano após paralisação do Boeing 737 Max, avião segue sem previsão de voar

Divulgação
Imagem: Divulgação

Vinícius Casagrande

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/03/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Segundo acidente com avião Boeing 737 Max completa um ano
  • Queda de avião na Eitópia causou a suspensão de todos os aviões do modelo
  • Boeing 737 Max ainda não tem previsão de voltar a voar e companhias aéreas já cancelaram voos até agosto
  • Processo de nova certificação do modelo deve ser ainda mais rigoroso e acompanhado por diversos órgão internacionais

Há exatamente um ano, a Boeing começava a viver sua pior crise com o segundo acidente de um avião do modelo 737 Max em menos de cinco meses. As quedas de um avião da Lion Air na Indonésia em outubro de 2018 e de um avião da Etiopian Airlines em 10 de março do ano passado causaram a suspensão de todos os voos de aviões do modelo no mundo inteiro. Um ano depois, o 737 Max segue sem uma previsão para retomar os voos.

As investigações apontaram que os dois acidentes tiveram características semelhantes. Eles foram causados por uma falha de projeto no sistema MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System, ou sistema de ampliação de característica de manobra). Nos dois casos, os pilotos tiveram de lutar com um avião instável. Com informações erradas de um dos sensores, o sistema forçava o avião a abaixar o nariz quando ele deveria subir.

As primeiras informações sobre as possíveis causas do acidente com o avião da Ethiopian Airlines já demonstravam que a causa provável era o mesmo problema que gerou a queda do avião da Lion Air. Com a suspeita, diversas companhias aéreas ao redor do mundo, inclusive a Gol, decidiram suspender os voos com aviões do modelo.

Três dias após o segundo acidente, a própria Boeing emitiu uma recomendação para que todos os aviões do modelo ficassem em terra até a investigação e solução do problema.

Quase 800 aviões parados

Um ano depois, os engenheiros da Boeing ainda não conseguiram encontrar uma solução definitiva e quase 800 aviões do modelo seguem parados em todo o mundo. Na época do acidente, 387 aeronaves já haviam sido entregues às companhias aéreas.

Mesmo com a proibição dos voos, a Boeing continuou produzindo o modelo. Nesse período, foram fabricados cerca de 400 aviões que ainda não puderam ser entregues. Com os pátios da fábrica lotados, a Boeing suspendeu também a produção do modelo desde janeiro.

Executivos da empresa já sinalizaram várias vezes que a volta das operações do avião estaria próxima. Os prazos, no entanto, nunca foram cumpridos. Na última quinta-feira (5), o chefe da agência norte-americana de aviação, a FAA, Stephen Dickson, disse acreditar que um voo de teste de certificação do Boeing 737 Max pode acontecer em breve.

"Estamos trabalhando nos últimos problemas de revisão e documentação de software e, em questão de poucas semanas, estaremos vendo um voo de certificação", disse Dickson em uma conferência de aviação em Washington.

Projeto "essencialmente falho"

Mas um comitê do Congresso dos EUA disse na sexta-feira (6) que o avião é "essencialmente falho": "A Boeing cometeu erros e escondeu informações sobre o 737 MAX, enquanto os organismos reguladores não conseguiram fazer uma supervisão adequada, levando a uma aeronave essencialmente falha", afirmou o comitê.

As companhias aéreas não demonstram estar tão confiantes com um breve retorno do 737 Max. A American Airlines, por exemplo, já cancelou todos os voos que estavam previstos para operar com o modelo até 17 de agosto.

O que já foi feito e o que falta fazer

Para retomar os voos do 737 Max, a Boeing foi obrigada a fazer uma reprogramação completa do sistema de prevenção de estol (perda de sustentação) do avião. O sistema entra em ação quando o avião está com ângulo de ataque (inclinação) muito acentuado e força o nariz para baixo. A correção deve evitar que o sistema funcione em situações críticas de voo.

Além disso, foram adicionados novos requisitos de segurança. A Boeing recomendou a todas as companhias aéreas que operam o modelo uma revisão geral nos sensores de ângulo de ataque. Um erro de leitura pode ter colaborado para a falha dos sistemas.

O Max é a nova versão do modelo mais vendido da história da aviação comercial. Pilotos que já voavam na versão anterior, a NG (Next Generation), precisavam apenas de uma rápida adaptação. Com as mudanças nos sistemas, no entanto, a Boeing decidiu exigir também o treinamento em simulador para a nova versão.

Com isso, o custo para as companhias aéreas ficou maior e pode haver até mesmo uma escassez de equipamentos para atender a todos os pilotos.

Com a crise gerada, que aponta falhas também dos órgãos reguladores, a nova certificação do modelo deve ser ainda mais rigorosa. Além da agência norte-americana, outros órgãos internacionais também prometem analisar individualmente as mudanças feitas para autorizar os voos do 737 Max sobre seus territórios. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) já participa do processo nos Estados Unidos.

O que diz a Boeing?

Procurada para comentar a situação do modelo um ano após o acidente na Etiópia, a Boeing afirmou que está auxiliando as investigações e que aguarda as recomendações do relatório final.

"Continuamos a manifestar nossos mais sinceros sentimentos às famílias e entes queridos dos passageiros e tripulantes do voo 302 da Ethiopian Airlines. A Boeing continua prestando assistência técnica em apoio à investigação, a pedido e sob a direção do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA (NTSB), representante oficial dos Estados Unidos. Estamos na expectativa de analisar todos os detalhes e recomendações formais que serão incluídas no relatório final do Departamento de Investigação de Acidentes da Etiópia", afirmou a Boeing, em nota.

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