A retomada do Afeganistão pelo grupo armado Taleban tem uma preocupação extra que envolve o Brasil. Durante a tomada das cidades, o grupo fundamentalista passou a ter acesso às aeronaves A-29 Super Tucano, produzidas pela Embraer.
O modelo é o avião de ataque leve e treinamento mais moderno fabricado no país, e também conta com uma linha de montagem nos Estados Unidos, na Sierra Nevada Corporation. Hoje, é o principal avião das Forças Armadas do Afeganistão, com capacidade de atacar e bombardear alvos estratégicos no país.
Apesar de ter sido desenvolvido para ataque leve e treinamento, devido à sua capacidade operacional, ele é considerado como avião de caça por seus operadores, como a FAB (Força Aérea Brasileira). Ele ainda pode exercer a função de reconhecimento, entre outras para as quais o modelo pode ser adequado.
O governo dos EUA comprou, inicialmente, 20 exemplares do avião, para estabelecer as forças de defesa do país asiático. Em 2017, a Força Aérea dos Estados Unidos encomendou mais seis A-29 para o mesmo projeto.
Parte dos Super Tucanos costuma ficar localizada na base aérea de Mazar-i-Sharif, local tomado nos últimos dias pelo grupo armado. Uma foto divulgada nas redes sociais mostra combatentes do Taleban ao lado do avião naquele aeroporto.
Mas, o que o torna tão atraente assim e o que o grupo extremista pode fazer após se apoderar desses aviões?
Nacional
O A-29 é a evolução do T-27 Tucano, que foi desenvolvido pela Embraer na década de 1980. O Super Tucano começou a ser operado no início dos anos 2000, e conta com versão para um e dois lugares, tendo mais de 250 unidades vendidas para 15 países.
Uma de suas principais funções é modernizar a frota da FAB (Força Aérea Brasileira), principal cliente do avião. Para isso, ela conta com variantes de ataque e de treinamento, e, desde 2013, é o modelo utilizado pelo EDA (Esquadrão de Demonstração Aérea), a Esquadrilha da Fumaça.
Seu interior se equipara ao de outros aviões avançados, como o F-14 Tomcat e o F-15 Eagle. Além de mísseis e metralhadoras, o avião ainda consegue carregar bombas e equipamentos a laser para reconhecimento e marcação de alvos.
Embora não atinja velocidades supersônicas como alguns caças, o Super Tucano se diferencia justamente por ser uma aeronave leve de ataque. Com isso, seu custo é bem menor em comparação com outros modelos do gênero.
Econômico
Enquanto caças como o F-22, que chegaram a ser utilizados em missão no Afeganistão, têm o custo de hora de voo chegando a US$ 70 mil (R$ 370 mil), com o Super Tucano esse valor gira em torno de US$ 1.000 (R$ 5.280).
O valor de um A-29 novo gira em torno de US$ 10 milhões (R$ 52,8 mi), podendo chegar a US$ 30 milhões (R$ 158 milhões), em pacotes que incluem equipamentos avançados, treinamento, peças reserva, suporte operacional, entre outros.
Mesmo com velocidade e capacidade menores do que alguns caças a jato, esse turboélice tem vantagem quanto à sua praticidade. Ele consegue pousar e decolar em pistas curtas, de até cerca de 1 km, além de ser preparado para operar em locais não pavimentados.
Em diversas missões, ele também se mostra uma alternativa mais econômica do que os caças a jato. A própria utilização de modelos supersônicos no Afeganistão foi alvo de questionamento, já que seu custo operacional era muito superior, e outra aeronave menor poderia realizar a mesma operação por um valor bem menor.
Nas mãos do Taleban
Não há confirmação oficial da quantidade de Super Tucanos que se encontram nas mãos do Taleban. Algumas unidades foram levadas para fora do Afeganistão pelos pilotos diante da ameaça do grupo, e ainda há indícios de que pelo menos uma caiu quando se dirigia para o Uzbequistão.
Embora no país existam peças e materiais reservas, a quantidade pode não dar muita sobrevida ao uso do A-29 no local. Como qualquer avião, o Super Tucano precisa de manutenção frequente, e, diante do cenário atual, é difícil que o Taleban consiga comprar peças de reposição.
Junto a isso, os poucos pilotos e mecânicos que foram treinados pelos Estados Unidos a trabalhar com o avião não devem colaborar com o grupo extremista. Quando o avião começou a ser operado, ainda em 2014, apenas 30 pilotos e 90 mecânicos foram qualificados no modelo.
Junto a isso, conforme forem deixando o país, militares devem destruir os aviões e outros equipamentos para evitar que sejam tomados pelo grupo.
Assim, sem os devidos cuidados, esse modelo não deve durar longos anos nas mãos do grupo. Entretanto, até lá, sua capacidade de destruição não pode ser facilmente calculada.
Ficha técnica
- Velocidade máxima: 593 km/h
- Alcance: 1.455 km, podendo chegar a mais de 4.500 km com o uso de tanques extras
- Teto de serviço (máxima altitude voada): 10.668 m
- Autonomia: 3,4 horas de voo
- Autonomia com tanques externos: 8,4 horas
- Distância de decolagem: 900 m
- Distância de pouso: 860 m
- Peso vazio: 3.200 kg
- Peso máximo de decolagem: 5.400 kg
- Capacidade de carga: 1.550 kg
- Envergadura (distância de ponta a ponta da asa): 11,14 m
- Comprimento: 11,38 m
- Altura: 3,97 m
A Embraer foi procurada pelo UOL para se posicionar sobre o destino dos Super Tucanos nas mãos do Taleban, mas a empresa não respondeu aos questionamentos até a publicação desta reportagem.
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