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Reinaldo Polito

You can't go home again

25/10/2013 06h00

Você já voltou ou pensou em voltar a uma época feliz e marcante da sua vida? Se já voltou, como foi que se sentiu? Realizado com a experiência, ou ficou decepcionado por não ter encontrado as coisas que esperava encontrar? Se pensou em voltar, esteja preparado para não reviver o que estiver em sua lembrança.

Sabe por quê? Segundo Thomaz Wolfe, um dos mais importantes escritores norte-americanos, não se pode voltar de novo para casa. Esse mestre da ficção autobiográfica escreveu um romance com o título de “You can’t go home again” (Não se pode voltar de novo para casa).

Nesta obra, o autor conta a história de um escritor que publica um livro muito bem-sucedido falando sobre a vida de alguns de seus conterrâneos com os quais conviveu na época em que ainda era muito jovem. Ele volta para visitar as pessoas com as quais havia convivido.  

Ao retornar àquele local se sentiu como um estranho, pois tudo estava mudado. Essa é uma realidade a que todos estamos sujeitos. Por mais que desejemos reencontrar tudo do jeito que deixamos no antigo lar, o próprio curso natural da vida modificou aquele cenário - as pessoas mudam, a paisagem se transforma, o contexto social é outro, diferente.

Essa situação é muito bem retratada no filme “As confissões de Schmidt”, interpretado por Jack Nicholson. Nessa história a personagem vivida por Nicholson se aposenta com pouco mais de 65 anos da seguradora em que trabalhava. Sem saber como agir longe do ambiente de trabalho, Schmidt tenta retornar aos ambientes que fizeram parte da sua vida.

Inicialmente volta ao local onde trabalhava para fazer uma visita a quem o havia substituído. Chegou dizendo que desejava saber se o sucessor precisava de alguma informação, ou se estava com alguma dúvida. Percebeu rápido que aquele já não era mais o seu lugar.

Com a morte da esposa, caiu na estrada e visitou a casa onde passou a infância. A casa já não existia mais. Havia se transformado em uma revendedora de pneus. Em seguida foi até a escola que frequentara. A única recordação presente era uma foto sua com a turma de formandos. Tudo estava mudado.

Se você viveu ou trabalhou em outra cidade ou outro bairro diferente daquele vive hoje, ao tentar reviver aqueles momentos, provavelmente, irá constatar que se tratam apenas de lembranças, pois a realidade não é mais aquela. Você poderá se sentir estranho em ambientes que eram tão familiares.

Nos terrenos que serviam para jogar futebol agora construíram casas, prédios, shopping centers. Os cinemas que frequentou agora são templos religiosos. Nem todas as lojas estão no mesmo lugar. Até os pontos que pareciam ser eternos mudaram.

A antiga escola também está modificada. As lanchonetes e bares que serviam de ponto de encontro têm outros proprietários e passaram por tantas reformas que se tornaram irreconhecíveis. Os poucos amigos que permaneceram naquele local mudaram tanto que até parecem outras pessoas.

Talvez os lugares e as pessoas não estejam tão distintos, mas você sim mudou. Hoje vê o mundo com outros olhos. As aspirações são outras, os objetivos não são mais os mesmos. As conversas que davam tanto prazer podem não parecer mais tão interessantes.

Por mais que tudo tenha permanecido talvez você se sinta um estranho nos locais que revisitar. Esse pode ser um bom aprendizado. Ter sempre as boas lembranças. Saber que hoje somos o resultado do nosso passado. Apesar da importância de tudo o que a vida nos proporcionou, entretanto, é bom ter em mente que não se pode voltar de novo para casa.

SUPERDICAS DA SEMANA

- Não se iluda pensando que os lugares que frequentou continuarão sempre os mesmos
- Saiba que nós mudamos e as pessoas que conhecemos também
- Não deixe de curtir as boas lembranças só porque não se pode voltar de novo para casa

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: “O que a vida me ensinou” e “Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas”, publicados pela Editora Saraiva, também em formato digital