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Reinaldo Polito

Quem abriu as portas da Europa para Neymar e Cia.

AP Photo/Manu Fernandez
Imagem: AP Photo/Manu Fernandez

05/02/2014 06h00

Nos últimos anos, com frequência cada vez maior, temos treinado executivos para atuarem no exterior, especialmente nos Estados Unidos e países da Europa. Embora nosso trabalho se restrinja ao treinamento para que façam apresentações eficientes em Inglês, também chamamos a atenção para a importância do relacionamento intercultural.

Essa é uma matéria relativamente nova. Segundo a especialista Andrea Sebben, a psicologia intercultural é uma ciência que tem pouco mais de 30 anos. Cuida dos processos migratórios e tenta entender por que as pessoas, especialmente os profissionais, se adaptam com mais ou menos facilidade em suas transferências para outros países.

Se por um lado as empresas apoiam cada vez mais os executivos que mudam de um país para outro, contratados no mercado ou transferidos dentro da própria organização, o mesmo não ocorre com tanto critério com outras profissões, como a do jogador de futebol, por exemplo.

Alguns se adaptam com facilidade, e, pela importância que possuem recebem tratamento diferenciado. Só para citar um caso, há pouco tempo ministrei aulas para um dos mais bem-sucedidos jogadores brasileiros que atuaram no exterior, o tetracampeão mundial Mauro Silva.

Ele jogou durante 13 anos no La Coruña da Espanha e se deu tão bem que ganhou até nome de rua. Ele me disse que toda a sua família se adaptou com facilidade na Espanha e recebeu por parte do clube a assistência de que precisou para desenvolver com tranquilidade a sua atividade.

São incontáveis, entretanto, as histórias de jogadores que não conseguiram se adaptar e retornaram ao Brasil. Os motivos são os mais diversos, vão desde questões alimentares, passando pelo idioma e até saudade de amigos e familiares. Mesmo ganhando muito dinheiro não suportam as diferenças interculturais.

Se hoje esse é um fenômeno ainda comum, dá para imaginar o que deve ter passado o jogador que teve o pioneirismo de sair do Brasil para jogar na Europa. Afinal, quem foi o primeiro jogador que se aventurou a jogar na Europa?  Quem foi esse desbravador que abriu as portas para que craques como Neymar e Cia pudessem brilhar no exterior?

Veja que interessante, quando se fala em automobilismo é unanimidade ressaltar o pioneirismo de Emerson Fittipaldi. Todo mundo sabe que foi o Rato quem meteu a “mochila” nas costas e destrancou as portas internacionais para outros brasileiros entrarem na fórmula 1. Sua primeira corrida nesta categoria foi no dia 18 de julho de 1970. Atrás dele vieram nada mais nada menos que Piquet, Senna, Barrichello e Felipe Massa.

Entretanto, se no automobilismo esse pioneirismo é tão conhecido, no futebol pouca gente sabe quem foi o desbravador. O primeiro brasileiro a jogar na Europa foi um conterrâneo meu de Araraquara, Roberto Porta. Ele nasceu na Morada do Sol em 1896 e atuou no Verona da Itália de 1914 a 1929.

Uma proeza admirável. No começo dos anos 1900 qualquer viagem era uma grande aventura, levava meses. Viajar para jogar futebol num time da Europa era algo impensável. Imagine só, se hoje ainda tem gente lá fora pensando que a capital do Brasil é Buenos Aires, o que deve ter passado esse arrojado araraquarense naquela época para conquistar o seu espaço.

Aparentemente a ida de Neymar para a Espanha foi muito simples. Ele estava concentrado com a seleção brasileira para os jogos da Copa das confederações, recebeu autorização do técnico Felipão, voou para Barcelona, se apresentou à torcida no Camp Nou e no dia seguinte já estava de volta ao Brasil. Um passeio. Literalmente.

Ao contrário de Roberto Porta que, por ser o pioneiro, provavelmente, não tinha ideia do que encontraria pela frente, Neymar se preparou. Começou a aprender o catalão, porque sabia que assim conquistaria com mais facilidade a torcida do Barcelona. Passou por treinamento para dar entrevistas. Foi orientado a não tentar ser protagonista logo na chegada para evitar rivalidades.

Todo esse preparo, além do seu excelente futebol, fez com que rapidamente conquistasse a admiração da torcida do Barcelona e o respeito dos seus companheiros de clube. Nada por acaso. Uma carreira bem planejada para atingir os objetivos que está desejando.

Assim podemos nos comportar para as mudanças e desafios profissionais, dentro e fora do Brasil – estarmos muito bem preparados para as oportunidades. Mesmo que algum Roberto Porta tenha aberto os caminhos, o nosso será sempre novo e desafiador. Caberá a cada um de nós desenvolver as competências necessárias para que nossas empreitadas sejam bem-sucedidas.

SUPERDICAS DA SEMANA

- Sua carreira só depende de você. Seja determinado para tomar iniciativas que julgar importante
- Prepare-se para ser um cidadão do mundo. As fronteiras não existem para bons profissionais
- Não deixe que a língua impeça seu progresso. Aprimore e domine mais de um idioma
- Aprenda a falar bem em público. Esteja onde estiver, essa competência sempre será importante

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre a carreira: “Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas” e “O que a vida me ensinou”, publicados pela Editora Saraiva