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Reinaldo Polito

Ensaiar defesa de tese ajuda a vencer bancas de pós-graduação; veja dicas

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Imagem: Shutterstock

25/08/2015 06h00

Apresentar um trabalho acadêmico é quase sempre momento de muita ansiedade e até de sofrimento. Ao se aproximar o momento de enfrentar a banca examinadora os nervos do candidato afloram e a sua capacidade intelectual e física, que deveria ser uma poderosa arma, arrefece.

Tenho assistido a várias defesas de dissertação de mestrado e teses de doutorado. Na maioria dos casos, são alunos que treinei para aprimorar suas apresentações diante das bancas. São três julgadores no caso do mestrado e cinco no do doutorado. Além do orientador, compõem a mesa professores da própria instituição e convidados externos. Quase todos com larga experiência em fazer essas avaliações.

Antes de passar pela avaliação final, o mestrando ou o doutorando se submete a uma qualificação.  Dependendo da instituição, além do projeto completo, podem ser obrigados a apresentar apenas um ou dois capítulos, para mostrar como o trabalho será desenvolvido, ou todos eles, de maneira abrangente. Nesse momento a banca fará todas as críticas, observações e sugestões. Em alguns casos, o projeto chega a sofrer tantas modificações, que quase se transforma em um novo trabalho.

Sem problema. Esse é o momento para acertar todos os rumos e afastar os enganos e deslizes. Se o aluno fez uma dissertação muito aberta, será orientado a delimitar o tema e se dedicar a algum ponto mais específico da matéria. Se fechou demais, receberá a sugestão para empreender pesquisas mais gerais. Se passou ao largo de alguma bibliografia atual relevante, será instigado a rever as fontes bibliográficas.

Cabe ao orientador, que acompanha o trabalho de pesquisa desde o princípio, evitar os exageros da banca de qualificação e impor limites para que meses e até anos de dedicação não sejam perdidos por sugestões descabidas. Aceitar o que for realmente útil para melhorar o resultado final da dissertação ou da tese, e argumentar de forma consistente para preservar o que já estiver dentro dos objetivos da pesquisa.

Exigência e rigor aumentaram

Até aí tudo certo. Tenho observado, entretanto, na defesa final uma exigência e um rigor que não se observavam há alguns anos. Sempre foi comum dizer que houve falha aqui ou ali. Que determinado tópico poderia ser mais bem desenvolvido. Ou que alguma parte recebeu atenção demasiada. Embora não muito comum, até reprovações de trabalhos ocorriam. Um procedimento natural, inerente às funções de uma banca examinadora. 

Se havia uma ou outra inadequação das normas, faziam sugestões gerais, sem se deterem muito nessas especificações. O avaliado dizia que faria os acertos necessários e as considerações seguiam com certa tranquilidade. Vez ou outra aparecia um examinador mais empertigado, que subia nas tamancas e abria a sacola de maldades em cima do surpreso e assustado examinado. Casos raros.

Nos últimos tempos, a vida dos mestrandos, doutorandos ou concluintes de cursos de pós-graduação tem sido particularmente mais difícil. Muitos avaliadores fazem críticas tão contundentes que dão a impressão de que irão reprovar o trabalho. Alguns reprovam mesmo. Na maioria dos casos, entretanto, fazem as críticas, falam com veemência, mas terminam por aprovar.

Avaliam assim não só a qualidade do trabalho, mas também a segurança e a convicção de quem realizou a pesquisa. Há exageros aqui e ali, até por vaidade de alguns acadêmicos, mas na maioria dos casos a seriedade e o rigor da análise prevalecem. Quem se apresentar diante da banca com trabalho inconsistente, provavelmente, terá problema.

Peça para amigos lerem e criticarem

Assim, mestrandos e doutorandos sabendo que enfrentarão o rigor dos avaliadores precisam estar preparados para discorrer sobre suas pesquisas e defender com segurança seus pontos de vista. Com esse preparo, terão mais condições de não levar as críticas da banca para o campo pessoal, e poderão dar respostas com serenidade, sem confrontos desnecessários.

Precisarão cuidar da correção do trabalho e da forma como defenderão oralmente suas posições. Quanto mais pessoas puderem ler, melhor. Às vezes ficamos tão viciados na leitura do trabalho que até erros gritantes podem escapar. É preciso saber que um deslize, uma informação sem fundamento poderão desmoronar o esforço de meses e até de anos de dedicação.

Faça ensaios antes da apresentação

Por isso, convoque colegas e professores mais próximos para ouvir seus ensaios. Deixe que critiquem à vontade, sem ficar chateado com as observações. Será melhor ouvir as críticas durante o ensaio a se surpreender com elas diante da banca avaliadora. Ouça tudo com atenção e acate o que julgar relevante.

Por incrível que possa parecer, nos primeiros ensaios dá a impressão, às vezes, de que não conseguirá falar sobre o trabalho. Depois descobre que escrever é uma coisa, e que falar é outra. Para escrever, usou determinados termos, determinada pontuação, determinado ritmo. Para falar, entretanto, uma palavra diferente pode mudar a sequência do pensamento.

Por isso, quanto mais treinar, quanto mais verbalizar, quanto mais questões souber responder, mais preparado estará para falar e defender seu trabalho. Boa sorte. Que seja aprovado e comemore muito. É uma grande conquista.

SUPERDICAS DA SEMANA

  • Não discuta com o componente da banca. Apenas pondere
  • Receba as sugestões com naturalidade. Diga que irá considerá-las nos próximos trabalhos
  • Não interrompa o examinador. Se ele fizer só observações e não perguntas, bastará dizer muito obrigado 
  • Anote todas as observações da banca. Responda a todas elas, detendo-se mais no que dominar
  • Faça um índice onomástico e leve em folha separada. Facilitará a consulta das citações
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: “A influência da emoção do orador no processo de conquista dos ouvintes”, “Assim é que se fala”, “Como falar corretamente e sem inibições”, “Superdicas para falar bem”, publicados pela Editora Saraiva.
 
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