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Deu vontade de comer o almoço do vizinho? App vende comida feita em casa

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/08/2018 04h00

De sua mesa de trabalho, o publicitário Nelson Andreatta, 38, sentia o cheirinho da comida da vizinhança e teve a ideia de conectar quem cozinha a quem quer almoçar comida caseira, saudável e pagando preço justo. Assim, no final de 2016, nasceu a ideia do aplicativo Eats For You, disponível para Android e iOS.

“Um dia, olhando pela janela, percebi o número de prédios residenciais e casas no entorno do escritório e imaginei quantas donas e donos de casa estavam fazendo almoço naquele momento. Pensei em como poderia comprar essa comida caseira de verdade e ainda gerar renda para essas pessoas”, declarou Andreatta, que há sete anos trabalhava no mesmo endereço e frequentava os mesmos restaurantes da região.

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A empresa começou em Cuiabá (MT), mas o aplicativo foi lançado neste ano em São Paulo, onde atende o bairro do Brooklin (zona sul de São Paulo) e Alphaville (Barueri), no almoço, em dias úteis. Até o final do ano, deve ampliar para a avenida Paulista, em São Paulo, e depois para os principais centros empresariais da cidade.

Segundo a empresa, o investimento inicial foi de R$ 1 milhão. Em julho, disse Andreatta, o faturamento foi de R$ 53,5 mil, e o lucro de R$ 6.400. Questionado sobre os resultados serem muito baixos diante do investimento alto e o risco de quebrar, ele disse que isso é normal numa startup.

"Startups são negócios com potencial de crescimento exponencial. Grandes cases do mercado rodam no vermelho por anos, estudos mostram em até cinco anos para atingir breakeven. O Eats For You foi projetado para atuar globalmente e já tem números muito significativos, mais de 8.000 vendas em cinco meses e já está sendo negociada com grandes investidores por mais de R$ 13 milhões. É quase impossível o negócio quebrar com o potência de crescimento que estamos tendo em apenas cinco meses de operação", declarou.

Como comprar a marmita caseira

Para comprar a marmita caseira, o cliente baixa o aplicativo e escolhe o prato entre as cozinheiras disponíveis, define a quantidade, o tipo de entrega (em domicílio ou retirada em uma das bases de food bikes) e a forma de pagamento. Pelo aplicativo, o cliente pode acompanhar a entrega da marmita.

Quem cozinha são as donas de casa que se cadastraram e foram aprovadas no aplicativo.

Um dos pratos mais vendidos é o filé de frango com creme de milho, acompanhado de arroz branco, feijão e salada (R$ 17,94). A marmita fit, com carne de patinho desfiada, purê de batata-doce, legumes refogados e salada, é a mais barata (R$ 13). O prato mais caro é a feijoada light, com carnes típicas, arroz branco, couve refogada, farofa com torresmo e salada (R$ 19,40). Cada marmita pesa meio quilo.

Em média, são vendidas 150 marmitas por dia. A empresa recebe todo o pagamento dos clientes e repassa os valores às cozinheiras semanalmente, sempre às quartas-feiras, ficando com uma taxa de R$ 2,13 sobre cada venda.

Segundo Andreatta, a taxa fixa não é cobrada da cozinheira, mas do consumidor final. "Por exemplo, se a marmita é oferecida a R$ 17,94, o valor de taxa da Eats For You está incluído nesse valor da marmita, assim como impostos e taxas do cartão. Nada é descontado da cozinheira, pois o valor que ela estipula para o prato é o que ela recebe”, disse.

Cozinheira passa por avaliação da empresa e do cliente

A cozinheira candidata é avaliada com visita técnica em sua casa e degustação da marmita caseira. É preciso ser microempreendedor individual (MEI). Segundo Andreatta, a visita técnica verifica se são seguidos os critérios de segurança alimentar para produção artesanal da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Há cerca de 400 cozinheiros cadastrados, entre homens e mulheres, sendo que 25 deles vendem marmitas pelo aplicativo. “São pessoas com idades entre 25 e 55 anos, gostam de cozinhar, estão fora do mercado de trabalho e procuram uma renda extra ou principal. A ideia é ter 300 cozinheiras até o final do ano”, disse Andreatta. Segundo ele, os cadastrados estão em processo de aprovação e mapeamento das regiões em atividade.

O faturamento médio mensal de uma cozinheira do aplicativo hoje é de R$ 3.500, e o lucro médio mensal, de R$ 2.500, levando em conta a venda de 16 marmitas por dia útil, em média.

O trabalho das cozinheiras é também avaliado pelos clientes. Antes de fazer seu próximo pedido, o cliente deve, obrigatoriamente, avaliar o anterior.

Desempregada teve oportunidade

Desempregada havia dois anos, Débora Teixeira, 42, disse que começou a vender marmita pela Eats For You no final de fevereiro. Hoje vende, em média, 20 marmitas por dia. Ela mora no Jaraguá, em São Paulo, e fornece marmita para a região de Alphaville.

“Meu cardápio muda sempre, mas procuro fazer as comidas que meus clientes mais gostam, como as veganas, fits e do dia a dia”, afirmou.

Empresa deve profissionalizar processos, diz consultora

Para a consultora do Sebrae-SP Janaina Moreira Costa, 31, o modelo de negócio da Eats For You é inovador, pois a empresa entrega a praticidade de consumir produtos de forma rápida e com qualidade, “remetendo à comida caseira ou comfort food, que são tendências fortes no mercado de alimentação atualmente”.

Janaina disse, no entanto, que no ramo de alimentação o cuidado e cada detalhe são diferenciais. “Apesar de o ambiente de produção ser caseiro, é preciso profissionalizar os processos e atender as boas práticas na produção e manipulação. Começar por esse desafio já é dar um grande passo para evitar problemas”, declarou.

Segundo ela, padronização também é outro ponto “para que o cliente tenha uma ótima experiência” e, assim, indique ou compre o produto de novo. “Porém, se a marmita não for entregue na segunda vez com a mesma qualidade na apresentação, textura, sabor, temperatura, tanto a cozinheira quanto a plataforma podem sofrer avaliações negativas”, afirmou.

“Em negócios nesse formato, as regras de negócio são importantes. Quem será o responsável pelo primeiro contato? Existe um canal claro para o cliente expor sua opinião? Quem irá arcar com os custos de uma indenização? Se houver contaminação com o alimento, quais os processos de contraprova?”, disse.

Onde encontrar:

Eats For You – https://www.eatsforyou.com.br/

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