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Bolsa está barata, juros continuam altos: onde investir em 2024?

Com a taxa básica de juros acima de dois dígitos, muitos investidores apostaram na renda fixa como forma de obter bons retornos e se proteger da inflação em 2023. Mas essa é a alternativa mais interessante para 2024? A queda dos juros pode favorecer a renda variável? Para ajudar os investidores a entrarem com o pé direito no ano novo, conversamos com especialistas sobre as perspectivas para o cenário brasileiro e o mercado global.

Juros menores lá fora favorecem Brasil

Taxas menores nos EUA devem impulsionar mercado. Acostumados a taxas próximas de zero, os Estados Unidos estão com os juros entre 5,25% e 5,50% —o maior patamar desde 2001. Isso atraiu os investidores em busca de segurança e boa rentabilidade, diz Vicente Guimarães, CEO da VG Research. Agora, a perspectiva de queda dos juros deve gerar a fuga de capital para países emergentes. O Brasil é um deles.

País pode se beneficiar do cenário global. Apesar da redução em 0,5 ponto percentual em dezembro, o Brasil ainda tem uma taxa de juros elevada —a Selic está em 11,75% ao ano. Em meio a redução em economias desenvolvidas, isso tende a atrair investidores que buscam rentabilidade.

Brasil acompanha o mercado global. O país começou antes o ciclo de aperto monetário e, com o movimento global, pode se beneficiar, diz Carolina Taira, portfolio manager da B.Side Wealth Management. O benefício foi ter conseguido direcionar a queda da inflação antes que as demais nações.

Queda da Selic tende a causar "efeito dominó" positivo. Economistas ouvidos pelo Banco Central entendem que os juros brasileiros estarão em 9,25% a.a. ao final de 2024. A gestora da B.Side diz que esse movimento de redução tende a ser benéfico para as empresas, com baixa no custo da dívida, possibilidade de aumento de investimentos e incentivo ao aumento do consumo pelas pessoas físicas.

A gente deve ver também outros países começando esse ciclo de afrouxamento monetário e, aqui no Brasil, o bom é que já há esse movimento. O fato de o país não ser o único a entrar neste ciclo de afrouxamento vai ser bem favorável para o mercado. Nossa visão é de um cenário mais positivo para 2024.
Carolina Taira, portfolio manager da B.Side Wealth Management

Bolsa deve impulsionar a renda variável

Ações estão "baratas". Segundo Guimarães, outra vantagem para a atração de capital externo é que as ações de empresas listadas na B3 estão "demasiadamente" descontadas, com o preço sobre lucro (indicador que avalia se o valor de uma ação é justo) em patamar historicamente baixo. Em outras palavras, neste momento elas estão abaixo do que realmente valem.

Ações de setores como varejo, construção civil, shoppings e educação podem ser mais impactadas pelo sobe e desce na economia e na inflação. Esses são custos que os consumidores podem reduzir em tempos difíceis.

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É necessário olhar caso a caso. Para Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, a construção civil pode se beneficiar com a queda da Selic, com condições de crédito melhores para os consumidores. Ainda, o governo já deu sinais de que deve impulsionar o "Minha Casa, Minha Vida" no próximo ano.

Segmentos como proteína animal e agronegócio, siderurgia e petróleo podem avançar com aumento da demanda. Neste sentido, Unipar, CSN Mineração, SLC Agrícola e Ferbasa estão bem posicionadas.

Empresas com boa distribuição de dividendos. costumam ser mais resilientes. Empresas com perspectiva de crescimento elevado e nível baixo de dívidas têm mais capacidade de distribuição de lucros aos investidores. Entre elas, estão Unipar, Irani, Kepler Weber, Sanepar, BB Seguridade e Banco do Brasil.

Cuidado com empresas com crescimento alavancado. No jargão do mercado, são negócios que crescem rapidamente, mas que acumulam dívidas no processo. É preciso estar atento, sobretudo na estratégia de longo prazo. Neste perfil, se encaixam Ambipar, Marfrig, Simpar, JSL, Kora Saúde e Vamos.

As melhores oportunidades estão na Bolsa de Valores. Hoje, temos muitas ações descontadas e pagando dividendos de dois dígitos. A relação preço sobre lucro da Bolsa está no nível mais baixo dos últimos 20 anos. Ou seja, as empresas têm aumentado seu lucro líquido, enquanto os preços das ações não têm acompanhado esta evolução.
Vicente Guimarães, CEO da VG Research

Renda fixa segue atrativa

Renda fixa ainda tem retornos elevados. Esse cenário é explicado pela taxa de juros atual, em 11,75% ao ano. E vale tanto para os títulos prefixados, quando a pessoa sabe o quanto vai receber na hora da contratação, quanto às opções atreladas à inflação, como o IPCA+, afirma Serra, da Toro. Ainda mais para títulos de longo prazo. Opções atreladas à Selic exigem cautela por conta da queda dos juros.

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Há alternativas além do Tesouro Direto, e a renda fixa privada também oferece bons prêmios. Aliás, alguns investimentos contam com a isenção do Imposto de Renda para pessoa física. São os casos dos CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) e debêntures. Esses são títulos emitidos por empresas para financiar investimentos. No caso do Tesouro Direto, o IR varia entre 15% a 22,5% ao ano.

Títulos indexados pela inflação têm destaque. Carolina Taira, da B.Side, diz que os títulos remunerados pelo IPCA têm prêmios "muito interessantes", com ganho real em torno de 5,5% ao ano. Há muitas emissões, ainda mais de investimentos isentos de IR.

Fundos de investimento. Os FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios) também vêm crescendo como opção das empresas se financiarem por meio de dívidas, diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos. Fundos de investimentos contam com gestores que trabalham para buscar a melhor performance.

Mas quais os riscos?

Contas públicas chamam atenção. No Brasil, chamam a atenção sobre o comportamento das contas públicas e a necessidade de recursos por parte do governo federal. A disputa eleitoral em 2024 pode, eventualmente, elevar os gastos em busca de melhores resultados nas eleições. Isso pode impactar a inflação, o aumento do dólar e dos juros, diz Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital.

Governo dá sinalização positiva. Apesar de a equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, encontrar dificuldades para alcançar a promessa de zerar o déficit público em 2024, o esforço é positivo. "O mercado está reconhecendo que existe um esforço do governo, principalmente do Haddad, em cumprir da melhor forma possível essa meta. A gente sabe que não vai ser cumprida, mas pelo menos o esforço já é uma direção positiva", afirma Carolina Taira, portfolio manager da B.Side.

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Conflitos e inflação são incertezas no cenário externo. Os principais riscos citados pelos especialistas são a escalada dos conflitos entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza e a guerra entre Ucrânia e Rússia. Os conflitos podem elevar os preços das commodities. Outros componentes são a inflação nos Estados Unidos e na zona do euro. A resistência dos preços elevados pode levar os bancos centrais a aumentar os juros, direcionando o capital dos investidores para os países desenvolvidos.

Como o investidor pode equilibrar a busca por retornos com os riscos?

Observe o perfil de risco do investimento. É fundamental que o investidor saiba qual o seu perfil de risco (conservador, moderado ou arrojado) na hora de construir a carteira. Investir em um produto com perfil adequado ajuda a reduzir eventuais perdas.

Diversifique a carteira. Optar por uma carteira com uma parcela mais concentrada na renda fixa ou na renda variável faz parte do jogo. Mas não é recomendado colocar todo o dinheiro apenas em um único ativo ou em uma classe de ativos. Exemplo: na Bolsa, é importante investir em empresas de diferentes setores, e, se possível, colocar uma parcela também em ações no exterior. A diversificação pode equilibrar as perdas em tempos de volatilidade.

Perfil das empresas. Ações de empresas resilientes, com boa governança, baixa alavancagem (endividamento em relação à receita), alta rentabilidade e consistência no crescimento de longo prazo são as mais indicadas. É o que diz Belitardo, da Capital.

O que mais rendeu em 2023

Rendimento acima da inflação

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  • Bitcon: 134,70%
  • IDIV (índice de ações que pagam dividendos): 26,84%
  • BDRX (índice das BDRs, papéis negociados na B3 que representam ações de fora): 26,33%
  • Ibovespa (principal índice da B3): 22,28%
  • Small Caps (índice de empresas menores com potencial de crescimento): 17,12%
  • IFIX (índice dos fundos imobiliários): 15,50%
  • Ima Geral (índice de renda fixa que acompanha títulos do Tesouro): 14,68%
  • CDI (Certificado de Depósito Interbancário): 12,94%
  • IHFA (Índice de fundos multimercado): 8,94%
  • Poupança: 8,21%

Rendimento abaixo da inflação:

  • Euro: -3,43%
  • Ouro: -5,96%
  • Dólar: -7,21%

Fonte: Einar Rivero diretor da Elos Ayta consultoria. A inflação fechou em 4,62% no acumulado de 12 meses até dezembro.

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