Seguir ou não a moda? Roupa que usamos influencia o que comunicamos
Umberto Eco afirma na obra “Psicologia do Vestir” que o vestuário fala. Se o vestuário fala, a maneira como nos vestimos pode até influenciar o processo da comunicação. Talvez os ouvintes nos julguem pela roupa que usamos, antes mesmo de saberem qual a mensagem que iremos transmitir.
As pessoas chegam a nos avaliar não apenas pelo que somos, mas também e, principalmente, às vezes, pelo que parecemos ser. Lembro-me de um comentário feito por Leonel Brizola para definir um adversário: tem couro de jacaré, tem rabo de jacaré, tem dente de jacaré, então como não é jacaré?
Se nos vestimos de determinada maneira, quase sempre seguindo a moda vigente, por comparação com as pessoas que se trajam da mesma forma, a probabilidade de que nos avaliem como tendo comportamento semelhante ao delas é considerável.
Seguir a moda ou não?
Diante de tantas possibilidades de vestuário, qual deve ser a nossa opção? Será que o ideal é nos atualizarmos adotando as novidades que a moda frequentemente nos apresenta? Ou será que a melhor decisão é ficarmos alheios ao que a sociedade de consumo nos impõe? Vale a reflexão.
O filósofo social inglês Anthony Giddens, na sua obra “Modernidade e Identidade”, diz: “A aparência corporal diz respeito a todas as características da superfície do corpo, incluindo modos de vestir e de se enfeitar, que são visíveis pelo indivíduo e pelos outros, e que são normalmente usados como pistas para interpretar as ações”.
Avalie comigo as considerações sobre moda que vêm a seguir.
Diz o provérbio: o homem sábio deve ser o primeiro a seguir a moda, e o último a deixá-la. Há um século as pessoas se queixavam da inconstância da moda. Há dois existia a mesma queixa. E no futuro será assim também, sem nenhuma dúvida.
Um homem sensato segue a moda sem afetação. Procura fazer com que notem em sua maneira de vestir o bom gosto, que percebam que ele está na última moda. Quando se critica um adolescente por causa da sua forma de se vestir, a resposta é sempre a mesma – é a moda.
Em nossa opinião, essa resposta é ridícula. Não porque se deva desconsiderar a moda, mas sim porque a pessoa deve se trajar e se comportar sem ser notada. Um homem de bom nível deve se apresentar sempre de maneira que ninguém o censure pela forma como se veste ou se comporta.
Siga a moda, mas saiba deixá-la quando for conveniente. Nunca invente a moda, mesmo sabendo que existam adolescentes que gostem de aparecer por causa de uma novidade.
Lembre-se sempre de que os objetos dos nossos desejos devem ser mais consistentes, para proporcionar uma reputação adequada e dar dignidade ao homem. E que inventar moda é próprio de quem não tem outros meios para se sobressair.
Alguns conceitos não mudam com o tempo
Você também deve ter julgado algumas das afirmações acima muito radicais. Essas observações que acabou de ler sobre a moda, entretanto, não são minhas e não são novas. Eu as encontrei num livro curioso e muito divertido que comprei em uma livraria na Espanha. O título da obra é “El Hombre Fino”, e essa terceira edição é de 1837.
O livro é antigo, alguns de seus conselhos são ultrapassados e até motivo de risos. Traz ensinamentos que nada têm a ver com a nossa realidade, como, por exemplo, explicações detalhadas a respeito da maneira correta de o homem usar o gorro para dormir.
Por outro lado, o livro nos surpreende com reflexões muito atuais sobre a moda. Certas informações não se alteram ao longo do tempo. Alguns dos seus conceitos nos impressionam pela atualidade, como o que aconselha uma pessoa a não se vangloriar de seus bens materiais.
Em meio a tantas novidades e da frenética mudança da moda, é impressionante como ainda podemos aprender com uma obra publicada há cerca de 180 anos. Ficamos meio perdidos com a velocidade como certos conceitos chegam a envelhecer às vezes em semanas. Quando, todavia, se trata da essência do homem, alguns ensinamentos podem ser perenes e sempre atuais.
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: "Assim é que se fala", "Como falar corretamente e sem inibições", "Oratória para advogados e estudantes de direito", "Superdicas para falar bem", "Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas" e "As melhores decisões não seguem a maioria", publicados pela Editora Saraiva.
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