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Reinaldo Polito

Sua apresentação foi interrompida com uma provocação? Saiba se sair bem

22/03/2016 06h00Atualizada em 22/03/2016 13h17

Tenho ouvido com frequência que um dos maiores temores de quem fala em público é o momento de enfrentar as perguntas da plateia. Especialmente nos casos em que o orador não está lá muito seguro da matéria que apresenta. A explicação é simples – a possibilidade de surgirem perguntas para as quais não se tenha conhecimento para uma resposta adequada, e o desconforto e instabilidade que essa situação pode provocar.

Nesse caso, três saídas podem ajudar. A primeira e mais eficiente: não abrir para perguntas. A segunda: deixar as perguntas para o final, quando a chance de ser encurralado diminui um pouco, já que o interesse do público arrefeceu, e aumenta a possibilidade de encerrar por ter esgotado o tempo. A terceira: determinar que as perguntas sejam por escrito, pois nesse caso algumas poderão ser deixadas de lado.

A questão que pode surgir nessa circunstância é sobre o comportamento ético. Afinal, agindo assim o orador não estaria desconsiderando a ética? Esse é um ponto que deve ser sempre levado em conta. Se o orador não conhecer o assunto, não deve falar. Ou a matéria faz parte de suas atividades ou campo de interesse, ou deve se dedicar ao tema com pesquisas e estudos até que possa dominá-lo.

Tenha estoque de informações

Para se sentir seguro e confiante diante da plateia, e confortável para responder às perguntas dos ouvintes, o orador deve ter estoque de informações que supere sua necessidade para se apresentar em público. Por outro lado, a vida nos apresenta às vezes desafios que não podemos recusar. No mundo corporativo, esse não é um fato raro.

Quantas vezes um gerente é escalado nas vésperas de um evento para falar no lugar de um diretor que teve de se ausentar na última hora. Com dois ou três dias para se preparar, ou até em menos tempo, sem poder se furtar à incumbência que lhe foi atribuída, precisa se amparar em uma dessas saídas para levar a cabo sua tarefa.

Por outro lado, julgo ainda mais delicado que responder a perguntas, que em geral poderão ser previstas, as interferências ou interrupções fortuitas. Se o orador não tiver total controle da situação e rapidez de raciocínio para sacar uma boa resposta, poderá se desestabilizar e até comprometer o resultado da exposição.

Deputado se perdeu em Portugal

Dois casos conhecidos ajudam a ilustrar essa questão. Um mais antigo, que faz parte do folclore clássico da oratória, em que o orador se perdeu completamente. Outro também não tão novo, mas mais próximo de nós, quando o orador usou a ironia e a presença de espírito para se defender.

O primeiro é relatado no livro de Mário Gonçalves Viana, “Técnica Oratória”. Nesse exemplo, Almeida Garrett conseguiu desestabilizar o deputado Leonel Tavares, na Câmara dos Deputados de Portugal. Quando Garret entrou na Câmara, estava discursando o deputado Leonel Tavares. Este dizia:

- Sr. presidente, dizem que todos os publicistas...

O Poeta ignorando absolutamente de que se tratava, caminhando para sua cadeira, disse em voz alta:

- Não são todos.

Sobressaltado com a interrupção, emenda Leonel:

- Sr. presidente, dizem que muitos publicistas...

- Também não são muitos, replica o cruel interruptor, prosseguindo serenamente no seu caminho.

A maioria dos deputados já ria muito do episódio. Desconcertado, o orador lança ao poeta um olhar de incredulidade, e tenta mudar um pouco a construção de seu discurso:

- Sr. presidente, dizem que alguns publicistas...

- Diga quais são, retruca sentando-se o implacável zombeteiro.

- Pois bem, sr. presidente, digo eu...

- Ah, isso agora é outro caso. O senhor pode dizer o que quiser.

As gargalhadas estouraram no recinto. Demorou um bom tempo até que tudo voltasse à normalidade.

"Vossa excelência é um purgante"

O segundo exemplo, bastante conhecido, que há muito entrou para o anedotário político brasileiro, foi protagonizado por Carlos Lacerda. Certa vez, quando discursava na tribuna da Câmara dos Deputados, trocava atritos verbais com a Deputada Ivete Vargas.

Em determinado momento, ela atacou o deputado dizendo: “Vossa Excelência é um purgante”. Sem se abalar, Lacerda responde: “E Vossa Excelência é o efeito”.

Como agir diante das interrupções inesperadas? Em todas as situações o importante é procurar manter a calma e a tranquilidade. Aquele que interrompe o orador com gracinhas, comentários depreciativos, ou ironias maldosas quase sempre tem a esperança de desestabilizar o orador. Por isso manter a calma é uma atitude importante para se defender.

Não precisa responder na hora

Em alguns casos, não responder no momento em que foi atacado pode ser uma boa tática. Nem sempre o orador deve se sentir obrigado a interromper seu discurso para dar a resposta. Assim, mais a frente, com as ideias organizadas, com tempo para meditar poderá responder com maiores chances de sucesso. Portanto, ignorar o comentário num primeiro momento pode ser uma atitude apropriada.

Respondendo mais tarde, ou, se julgar conveniente, no momento em que foi interrompido, cuidado com a resposta. Quase sempre, iniciar repetindo de forma exaltada as palavras usadas no ataque agrava ainda mais a situação.

Por exemplo, se alguém diz: "você está errado na abordagem desse conceito". Não seria adequado iniciar a resposta dizendo: "eu estou errado? Você é que não sabe o que está dizendo".

Em situações como essa, um dos recursos é parafrasear a interpelação do ouvinte, dando à informação um tom menos agressivo ou contundente. Por exemplo: é preciso mesmo tomar cuidado com as diversas abordagens disponíveis para o conceito analisado. A questão que estamos discutindo parece ser mais apropriada porque...

Procure não se envolver emocionalmente.  Dê respostas elevadas, com ou sem ironia, dependendo do caso, enfraquecendo a posição contrária, sem que o oponente se sinta ridicularizado. Esse comportamento conquista a atenção, a simpatia e a solidariedade da plateia.

Superdicas da semana

  • Se for interrompido enquanto fala, procure sempre manter a calma
  • Use a ironia fina e a presença de espírito como tática para responder
  • Nada o obriga a dar a resposta no momento em que foi interrompido
  • Se você der respostas elevadas, de bom nível, conquistará a solidariedade da plateia
  • Se a agressividade for injustificada, você poderá sorrir ou folhear algumas anotações
  • Essas atitudes demonstram que o ataque foi tão infundado que não o afetou


Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante, e "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", publicados pela Editora Saraiva.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
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