Saia da mesmice para conquistar plateia, como fez Cármen Lúcia, do STF
A ministra Cármen Lúcia quebrou o protocolo no discurso de posse como presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) e do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), na tarde desta segunda-feira (12). Saiu da mesmice e conquistou a atenção dos ouvintes assim que mencionou as primeiras palavras. E de uma forma criativa e muito habilidosa.
É mais ou menos lógico que, se nós iniciarmos um discurso dizendo o que os ouvintes imaginavam que iríamos dizer, não haverá nenhuma novidade, e o risco de perdermos a concentração da plateia já na introdução é considerável. Pelo que já ouviram em situações semelhantes, os ouvintes já sabem mais ou menos a mensagem que terão pela frente.
Por isso, temos de pensar sempre em uma forma de sairmos da mesmice, abandonarmos o lugar-comum e encontrarmos uma informação inusitada, muito diferente, para que os ouvintes sejam fisgados nos primeiros instantes da apresentação. O mais interessante é que a ministra se valeu desse recurso em situação pouco recomendável para sua utilização. Foi genial.
O protocolo exige que, em eventos oficiais, o vocativo siga as orientações do Decreto-Lei 70.274, isto é, os cumprimentos se iniciem pelas pessoas mais importantes, até chegar às de menor importância. Em sua posse na presidência do STF, a ministra deveria cumprimentar em primeiro lugar o presidente da República, a pessoa mais importante presente na solenidade.
Em vez de iniciar cumprimentando o presidente Michel Temer, Cármen Lúcia provocou grande impacto no público ao afirmar que quebraria esse protocolo. Um calafrio deve ter percorrido o corpo daqueles que a ouviam. Se quebrasse o protocolo, passaria o presidente da República para trás, privilegiando alguém menos importante naquela solenidade.
Aí é que entrou sua habilidade verbal. De certa maneira, pegou a plateia desprevenida e criou enorme expectativa com a mensagem que iria transmitir. Iniciou pedindo desculpas pela quebra do protocolo, pois tinha consciência de que deveria cumprimentar antes a pessoa mais importante ali presente.
Em seguida, complementou:
Começo por cumprimentar o cidadão brasileiro, muito insatisfeito hoje — como estou convicta e todos nós estamos — por não termos o Brasil que queremos, o mundo que achamos que merecemos, mas que é nossa responsabilidade direta colaborar em nossos deveres para construir.
A beleza desse ineditismo está no fato de que, além de conquistar a atenção de todos já nas primeiras palavras, não deixou ninguém melindrado com essa alteração. Quem poderia se incomodar com um orador que inicia dizendo que começa cumprimentando o povo brasileiro por estar muito insatisfeito hoje?
A sequência do seu discurso foi dura e com promessas de luta pelos direitos da população. Disse que os juízes do Tribunal que passou a presidir são, em última instância, os guardiões do povo, que quer saúde, educação, trabalho, sossego para andar em paz pelas ruas, estradas do país e trilhas livres, para poder sonhar.
Cármen Lúcia é oradora ponderada, de discurso direto e objetivo. Assume a Presidência aos 62 anos, depois de longa e bem-sucedida carreira. Nascida em Minas Gerais, foi indicada para ocupar a vaga no STF pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É a segunda mulher a ocupar a presidência do Tribunal --Ellen Gracie foi a pioneira no cargo (2006-2008).
A ministra deixa uma boa lição para nossa atuação na vida corporativa. Temos de usar as primeiras palavras para tentar surpreender os ouvintes. Para isso, reflita sempre: o que pode ser feito para que a mensagem se mostre diferente, inusitada, instigante? Dessa forma, aqueles que nos ouvem ficarão mais interessados em ouvir a sequência da apresentação.
Superdicas da semana:
- Sempre haverá uma forma diferente para transmitir a mesma mensagem
- Os ouvintes ficam mais interessados quando são surpreendidos por uma novidade
- Pergunte sempre a você mesmo como poderia dizer o mesmo de forma diferente
- Procure conquistar os ouvintes logo no início da apresentação
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