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Reinaldo Polito

Toda unanimidade é burra? Saiba mostrar à plateia que vale a pena segui-lo

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Imagem: Divulgação

21/12/2016 06h00

No dia 21 de dezembro de 1980, há 36 anos, o Brasil perdia Nelson Rodrigues, uma das figuras brasileiras mais controvertidas e instigantes de todos os tempos. Nelson nasceu em Recife em 1912, mas foi para o Rio quando tinha apenas quatro anos de idade.

Ao mesmo tempo em que deixou seu nome gravado para sempre como um inovador estético do teatro, com a revolucionária peça "Vestido de noiva", será lembrado também como um conservador político em tempos da ditadura militar brasileira.

No teatro brasileiro, em "Vestido de noiva", Nelson Rodrigues produz uma renovação original, com uma proposta estética inédita, colocando a personagem principal da peça, Alaíde, simultaneamente em três perspectivas: da realidade, da memória e da alucinação.

No campo político, chegou a dizer que Médici foi o mais importante presidente brasileiro. Independentemente de as pessoas gostarem ou não dele, nunca deixou de ser admirado.

Uma de suas frases atravessou as décadas e é repetida com frequência: "Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar".

Para alguém pensar de forma semelhante a todas as outras pessoas, provavelmente não tem opinião própria. Aquele que segue o rebanho, sem refletir, parece mesmo merecer ser tachado de burro.

É evidente ser essa uma generalização. Se depois de refletirmos e ponderarmos a respeito dos diversos ângulos de uma questão, chegarmos à conclusão de que as outras pessoas devem ser seguidas, nada impede que as acompanhemos.

Esse é um ponto que precisa ser avaliado quando falamos em público –fazer com que os ouvintes entrem em sintonia com nossa forma de pensar. 

De maneira geral as plateias são heterogêneas. Cabe a nós, quando falamos em público, analisar as características predominantes dos ouvintes e alinhar nossa comunicação de acordo com esse parâmetro.

São vários os aspectos que precisam ser observados. Entre os mais relevantes estão: a faixa etária, o nível intelectual e o conhecimento dos ouvintes.

Faixa etária

Será que vamos falar para um público predominante jovem ou mais idoso? A maneira de nos comunicarmos com um tipo de público ou outro é bastante diferente. Se falarmos com pessoas jovens como se fossem idosos, ou vice-versa, dificilmente poderemos garantir o sucesso de uma apresentação.

Segundo Aristóteles, os jovens "Vivem a maior parte do tempo, de esperança, porque esta se refere ao porvir e a recordação do passado; e para a juventude o porvir é longo, e o passado é curto. Nos primeiros momentos de vida, não nos recordamos de coisa alguma, mas podemos tudo esperar".

Por isso, quando o público for predominantemente jovem, devemos falar do futuro, do amanhã, dos planos, das expectativas.

Já os idosos "vivem de recordações mais que de esperanças, porque o que lhes resta de vida é pouca coisa em comparação do muito que já viveram; ora, a esperança tem por objeto o futuro; a recordação, o passado. É essa uma das razões de serem tão faladores; passam o tempo repisando com palavras as lembranças do passado".

Por isso, quando o público for predominantemente idoso, devemos falar do passado, das recordações, das realizações, das experiências.

Nível intelectual

Será que vamos falar para um público de nível intelectual predominante baixo ou elevado? Também não podemos falar com pessoas de nível intelectual baixo da mesma forma como falamos com os que são muito bem preparados.

Embora a mensagem seja a mesma, a maneira como recebem e interpretam as informações são muito distintas. Se os ouvintes tiverem nível intelectual mais baixo, não podemos usar ironias finas ou mensagens subentendidas.

Essas pessoas costumam pegar a palavra ao pé da letra e não entendem bem o que está por trás do que é dito expressamente. É comum, nesse caso, se sentirem ofendidas por brincadeiras que não entenderam.

Ouvintes de bom nível intelectual, ou que sejam inteligentes, mesmo sem o preparo acadêmico, entendem as brincadeiras sutis, as tiradas bem-humoradas e as mensagens subentendidas. No caso de existir dúvida sobre o nível dos ouvintes, é preciso exagerar tanto na brincadeira que não fique nenhuma dúvida de que há outra mensagem por trás do que dizemos.

Conhecimento sobre o assunto

Não podemos falar para pessoas leigas da mesma maneira como falamos para especialistas. No primeiro caso, se o assunto for muito elevado, terão dificuldade de entendimento. No último, se dermos tratamento superficial ao tema, poderão se desinteressar pela apresentação, já que sentem que as informações não lhes serão úteis.

Ao alinharmos a mensagem de acordo com o nível predominante do público, teremos um canal aberto com os ouvintes e poderemos, então, mostrar com clareza os benefícios que terão com as informações e como será importante que sigam na direção que sugerimos.

Dessa forma, terão condições de avaliar, refletir e julgar se podem ou não aderir ao rebanho e participar da unanimidade.

Superdicas da semana

  • Adapte sua apresentação ao nível intelectual predominante do público
  • Adapte sua apresentação à faixa etária da plateia
  • Adapte sua apresentação ao conhecimento que o público tenha sobre o assunto
  • Faça mudanças na apresentação de acordo com a reação dos ouvintes

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante, e "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
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