Sem pernas, sem braços e sem enxergar, eles aprenderam a falar em público
A vida inteira aprendi com meus alunos. De cada um, extraio lições que me ajudam na carreira e no meu relacionamento com amigos e familiares. Esses dois exemplos guardo como dos mais importantes ensinamentos que recebi em todos os tempos. Tenho certeza de que você também poderá usá-los como referência para enfrentar seus desafios.
Um jovem de pouco mais de 20 anos me procurou. Queria aprender a fazer palestra. Até aí tudo bem. Há mais de 40 anos que recebo pessoas de todas as idades que querem aprender a falar em público. Esse caso, entretanto, era bem diferente. O jovem me adiantou pelo telefone que não tinha os dois braços e as duas pernas. Confesso que fiquei apreensivo. Será que daria conta desse desafio?
Alguém poderia questionar --mas, se ele vai falar, qual o problema para o aprendizado? Ocorre que a expressão corporal e a movimentação no palco são fundamentais para quem abraça a carreira de palestrante. Até para quebrar o foco de atenção dos ouvintes, que fica viciado a cada cinco minutos de apresentação, é preciso saber como se movimentar em público.
São raros aqueles que conseguem envolver a plateia apenas falando atrás do pódio. Não conheci mais de meia dúzia de palestrantes que conseguiam prender a atenção das pessoas o tempo todo sem se movimentar no palco. Esses poucos aprenderam a substituir a movimentação pelo uso do humor e pelas histórias interessantes --recursos que mantinham e resgatavam a concentração do público.
Logo na primeira aula, ele me contou a história. Era atleta, praticava judô. DJ, frequentador de baladas. Bonito, cheio de vida. Certo dia, com 18 anos de idade, se sentiu mal e teve de ser internado às pressas. Ficou em coma induzido por 14 dias e, quando acordou, haviam amputado seus dois braços e suas duas pernas. Nem dá para imaginar o significado dessa situação.
Só para dar uma ideia, ele me disse que a primeira das dificuldades que enfrentou foi aprender a virar-se na cama de um lado para outro. Como não tinha os braços e as pernas, nem esse simples movimento conseguia realizar. Além do seu desespero pessoal, havia também o drama familiar. Eu que tenho quatro filhos tento me colocar na situação de seus pais e irmãos.
Prepararam a casa onde moravam para essa nova vida. Mexeram em todas as portas e corredores para que pudesse passar com a cadeira de rodas. Ele, entretanto, não se conformava com essas limitações. Achava que poderia ser diferente. Um dia, assistindo a um programa de televisão de uma emissora norte-americana teve uma luz de esperança.
A matéria era sobre um hospital nos Estados Unidos que implantava próteses em amputados. Conversou com o pai. Fizeram todo o sacrifício possível para que pudesse ir para lá e avaliar seu caso. Deu certo. Foi a primeira pessoa no mundo a receber próteses nos quatro membros. Sua luta para aprender a andar e pegar objetos com aquelas pernas e braços de ferro foi impressionante.
Depois de muito sacrifício passou a se locomover, a mexer no computador, a pegar alimentos. Enfim, começou a ter uma vida quase normal. Por causa de sua superação excepcional, foi convidado pelo hospital para falar com pessoas que estavam com problemas semelhantes e mostrar como seria possível desenvolver praticamente todas as atividades.
Como falava bem o inglês, foi convidado também para dar entrevistas em várias emissoras de televisão norte-americanas. Daí a ser chamado por algumas empresas para falar sobre superação foi um pulinho. Só que ele queria realizar essas apresentações de maneira correta, e quem sabe fazer das palestras uma nova atividade profissional.
Foi emocionante. A cada etapa do aprendizado, eu me sentia realizado com sua conquista. Era como se eu estivesse no seu lugar superando aquele desafio. Terminou o treinamento em condições de falar para qualquer tipo de plateia. Depois de alguns minutos de apresentação, as pessoas deixavam de prestar a atenção em suas pernas e braços artificiais.
Publicou um livro contando sua história, enfrentou as adversidades e se transformou em ótimo exemplo para todos aqueles que precisam superar obstáculos que, aparentemente, são intransponíveis. Mostrou que, com dedicação, empenho e coragem, tudo pode ser possível.
A outra experiência ocorreu há pouco tempo, quando recebi um telefonema do professor Luiz Marins, um amigo muito querido. Ele me disse que havia encaminhado para a minha escola um rapaz com deficiência visual. Também queria ser palestrante. Com formação acadêmica sólida, queria entrar para o mundo das palestras, mas não sabia falar em público e tinha muito medo de enfrentar plateias.
Dedicado. Determinado a conquistar seu objetivo de se tornar um palestrante, seguiu rigorosamente todas as orientações técnicas para se transformar em um bom orador. Em pouco tempo, também estava pronto. Aprendeu a girar o tronco e a cabeça com tanta naturalidade e eficiência que parecia olhar e ver todas as pessoas na plateia.
Sempre que recebo alguém que duvida da sua própria competência para falar em público e imagina que jamais poderá superar o medo de se apresentar diante das plateias, conto essas histórias de superação. Se eles, com todas essas deficiências, conseguiram atingir o objetivo que desejavam com a oratória, talvez não exista uma só pessoa que não consiga desenvolver esse aprendizado.
Você, que consegue enxergar, tem as pernas e os braços, e precisa aprender a falar em público para crescer na carreira, não se boicote. Não se imponha limites que não existem. Não desista antes de começar. Com certeza você conseguirá. Basta que se aplique com determinação na busca desse aprendizado.
Como disse o escritor Bernard Shaw: “A vida é como uma pedra de amolar, tanto pode desgastar-nos como afiar-nos, tudo depende do metal de que somos constituídos”.
Superdicas da semana
- Nunca desista antes de tentar
- As maiores dificuldades nos possibilitam as maiores superações
- Os grandes desafios são as melhores oportunidades de aprendizado
- De maneira geral, somos mais competentes do que julgamos ser
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.
Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
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