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Reinaldo Polito

Aprenda a dar o "pulo do gato" para você ser promovido e "subir" na empresa

Getty Images
Imagem: Getty Images

25/04/2017 04h00

Michael Korda publicou um livro muito curioso em 1975. Foi editado nos Estados Unidos como “Power in the office”. Figurou em primeiro lugar em vendas na lista do New York Times. Aqui no Brasil foi adaptado com o título “O jogo do poder na empresa”. O autor analisa quais ações os profissionais devem empreender para conquistar mais poder nas organizações.

Tirando os exageros de uma questão ou outra e a necessidade de adaptação para a realidade brasileira contemporânea, as considerações são instigantes. Mesmo aqueles que não desejam conquistar mais poder nas organizações poderão entender melhor como as pessoas agem para obter esse objetivo. São várias as questões discutidas por esse consagrado escritor inglês, que se projetou nos Estados Unidos.

Sentar perto do chefe faz você ser mais visto

Um dos pontos abordados se refere às promoções. Algumas de suas reflexões ficaram ultrapassadas nessas últimas quatro décadas, como, por exemplo, a preocupação com a sala que deve ser ocupada, para facilitar o processo de promoção na carreira. Korda afirma que, quanto mais próximo o profissional estiver daquele que vai ser promovido, este terá mais chances de ocupar o seu lugar.

Pelo fato de estar próximo, as pessoas poderão vê-lo naturalmente como o sucessor do cargo. Ao estar mais próximo daquele que ocupa um cargo superior, também será visto com maior frequência por aqueles que detêm o poder, quando entram e saem da sala. Lógico, segundo Korda, que eles se acostumarão com a ideia de enxergá-lo como substituto imediato.

Para o autor, esse fato é tão importante ao ponto de sugerir a todos que desejam ser promovidos, o que ocorre com praticamente todas as pessoas, fazer de tudo para ocupar uma sala mais próxima daquele que pretendam substituir. Sua dedução é simples: mesmo sendo alguns mais qualificados, se estiverem distantes, poderão ser preteridos para a promoção.

Hoje, a posição da sala talvez não seja tão importante. Os novos layouts dos escritórios das grandes empresas mudaram completamente. É muito comum ver profissionais ocupando posições importantes se instalando na primeira baia que encontram livre. Sem contar o costume do home office, que se torna cada vez mais generalizado.

Mudar de sala ao ser promovido dá boa impressão

Se, por acaso, sua empresa ainda não chegou a essa evolução logística das salas, fica aí um ponto para reflexão. Ah, e já que estamos falando em sala, o autor julga esse aspecto tão relevante que chega a usar um argumento interessante – adianta pouco ser promovido, se o profissional não mudar de sala com a promoção. Se não houver mudança física, poderá dar a impressão aos outros e a ele mesmo que a promoção não ocorreu, mesmo ganhando mais.

Bem, se a mudança de sala não vale tanto para os dias de hoje, o que pode ser significativo para a promoção? Inicialmente, uma consideração básica do autor: “quase todo mundo acha que merece ser promovido a alguma posição superior, por mais alto que já tenha subido. Já que o número de posições declina à medida que aumenta o nível de poder, a maioria dos indivíduos está fadada a viver insatisfeita e com inveja”.

Ulalá, começamos a entender melhor os motivos de tanta competição e, em casos mais graves, as inescrupulosas puxadas de tapete. Se por um lado, esse fato é desgastante para o relacionamento entre as pessoas que atuam na mesma empresa e aspiram às mesmas posições, por outro serve de motivação, já que, se não existisse a disputa pelas promoções, a tendência seria a de que se acomodassem.

Essa inveja, essa disputa por aspirar às mesmas posições não é novidade no mundo. Aristóteles, na “Arte retórica” esclarece bem porque há inveja nessas circunstâncias:

“Todos os atos, todos os bens capazes de suscitar ambição, rivalidade, desejo intenso de glória e todos os dons da fortuna dão quase sempre origem à inveja”.

E afirma ainda: “Como porfiamos com nossos rivais em matéria de esporte e de amor e em geral com todos que ambicionam os mesmos bens que nós, necessariamente a inveja se manifestará relativamente a essas pessoas, donde o conhecido prolóquio ‘ o oleiro sente inveja do oleiro”.

Vamos ponderar a respeito de alguns aspectos do livro de Korda. O objetivo é o de aproveitar suas reflexões na prática das ações dos dias de hoje.

Ser fiel pode valer mais que ser competente

Se pensarmos de maneira fria e racional, os motivos da promoção deveriam recair apenas no mérito. Sabemos, entretanto, que nem sempre se dá assim. Ocorre de a promoção se basear na reciprocidade àquele que foi fiel. Portanto, se você deseja ser promovido, além dos méritos que porventura tenha, não se esqueça de se mostrar parceiro daquele que tem o poder de decidir pela promoção.

Ser fiel, todavia, não pressupõe que o profissional seja um puxa-saco, embora esse comportamento deplorável possa também contar. Leva em conta os momentos em que se mostrou solidário. Arregaçou as mangas nos desafios em que os superiores tiveram de enfrentar. Tomou a iniciativa de levar soluções nas situações mais delicadas da empresa.

Em que momento você poderá ser promovido? Como agir?

Você será promovido quando o seu superior imediato também for promovido. Quando ele for demitido. Quando ele pedir demissão. Quando ele se aposentar. O seu comportamento para cada uma dessas situações deverá ser distinto, se você desejar mesmo ser promovido. Um erro de cálculo poderá representar sua permanência no mesmo posto por tempo indefinido.

Quando o superior for demitido

Se um profissional foi demitido, significa que os chefões não gostavam da maneira como ele trabalhava. É obvio que se você se apresentar com as mesmas características dele, suas chances praticamente desaparecerão. Você precisa ser diferente. Se ele gostava de ficar o tempo todo fechado no escritório, você deve ser aquele que gosta de sair e circular.

Se ele vivia batendo de frente com os superiores hierárquicos, você deve se apresentar com comportamento mais amistoso e menos beligerante. Ao contrário, se ele aceitava tudo de boca fechada, você deve mostrar que tem opinião e apresenta soluções alternativas àquelas que lhe são impostas. Enfim, vista-se de forma diferente, fale de maneira distinta, seja outro.

Quando o superior for promovido

Aqui a história já muda de figura. Se o seu superior foi promovido, significa que gostam da maneira como ele se comporta. Assim, procure seguir na mesma linha e procure até imitar suas atitudes.

Se ele for expansivo, seja também comunicativo. Se ele for do tipo mais quieto, fique na sua e mantenha o recato. Se ele gosta de visitar clientes ou promover reuniões com frequência, esse também deverá ser seu comportamento.

Quando o superior se aposenta ou pede demissão

Nesses casos os superiores hierárquicos ficam meio perdidos, pois, quase sempre, não têm parâmetros claros de comparação. Não possuem nada contra como no caso do demitido, nem a favor como no caso do promovido. Sabe qual é o risco? O de pensarem em contratar alguém de fora. Nesse caso, você ficará amargando o lugar na fila.

Por isso, mostrar-se fiel, solidário, proativo, parceiro pode ser tão útil para a sua ascensão profissional. No caso de dúvidas, como ocorre quando alguém se aposenta, ou pede demissão, sua presença, independentemente até da sua competência, poderá ser levada em consideração.

Você poderia dizer: ah, e se pensarem que sou um puxa-saco? Você sabe que não é. Deixe que pensem. A carreira e a vida são suas. Cuide delas como julgar melhor.

Bem, ficam aí as reflexões de Korda. A contemporaneidade, naturalmente, trouxe novas condições de trabalho e novas formas de relacionamentos profissionais e humanos. Caberá a você observar quais são essas mudanças e que tipo de comportamento deverá adotar para que possa ter uma carreira cada vez mais promissora.

Superdicas da semana

  • Seja competente, mas não se esqueça de ser parceiro de quem decide sua promoção
  • Procure imitar o superior quando ele for promovido
  • Procure ser diferente do superior quando ele for demitido
  • Ser fiel e parceiro não significa ser puxa-saco

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "Assim é que se Fala", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta. Leia também “O jogo do poder na empresa”, de Michael Korda.

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