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Reinaldo Polito

Perrengues de Temer lá fora: o dia em que o presidente deu bom dia a cavalo

Presidente Michel Temer discursa em evento na Noruega, no mês passado - Vidar Ruud/AP
Presidente Michel Temer discursa em evento na Noruega, no mês passado Imagem: Vidar Ruud/AP

04/07/2017 04h00

O presidente Michel Temer pisou na bola durante sua visita à Noruega. A situação foi muito constrangedora para ele. Já na sexta-feira (23 de junho), em Oslo, capital da Noruega, Temer se desconcentrou e cometeu uma gafe gravíssima: chamou Harald V, rei da Noruega, de rei da Suécia. Se nós sentimos vergonha alheia, imagine como deve ter se recriminado o presidente brasileiro?!

Se você pensa que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, nesse caso se enganou. Pouco depois, no mesmo pronunciamento, Temer mais uma vez amassaria uns tomates, disse “parlamento brasileiro” quando se referia ao parlamento norueguês.

E não parou por aí. Outro raio cairia. A primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg, deu um belíssimo puxão de orelha em Temer ao se referir à Lava Jato: “Estamos muito preocupados com a Lava Jato. É importante fazer uma limpeza”. Sem contar que pouco antes saíra a notícia de que a Noruega cortaria metade dos US$ 400 milhões destinados ao Fundo da Amazônia.

Não sei o que teria sido pior para o presidente, enfrentar a fúria das acusações de Janot aqui no Brasil ou passar por esses sucessivos constrangimentos na Noruega. Tanto lá como cá o presidente tem se virado como pode para não beijar a lona. Ficou grogue, mas não foi a nocaute. Até que encontrou resposta pelo menos razoável.

Sobre o corte no valor destinado ao Fundo da Amazônia, comentou que os recursos doados pela Noruega contribuem para a existência de um “policiamento administrativo mais efetivo” para que o desmatamento no Brasil seja evitado. Depois do bombardeio, mais tranquilo, respondeu ao questionamento sobre esse tema com firmeza: “Tanto com a primeira-ministra, quanto com o presidente do Parlamento, Olemic Thommessen, ficou clara a revisão desses aspectos”.

Afirmou ainda que a questão ambiental foi um dos pontos discutidos nas conversas que manteve com as autoridades norueguesas. Para destacar ainda a importância desses diálogos, Temer disse que o “Brasil é uma das grandes, se não a maior reserva ambiental do mundo”.

A respeito da Lava Jato, o presidente disse à primeira-ministra norueguesa que “o Executivo, o Legislativo e o Judiciário (atuam) com liberdade extraordinária”. Uma forma objetiva de valorizar as instituições brasileiras. De um jeito ou de outro, com essas ou outras respostas, Temer enfrentou um perrengue danado.

Outras gafes e grosserias

Não imagine, entretanto, que só Temer teve de enfrentar situações complicadas como essas. Outros mandatários muito mais experientes em viagens além-mar cometeram enormes gafes. E foram vítimas de grosserias como essa da primeira-ministra da Noruega. Cá entre nós, por mais que você possa detestar o presidente, um anfitrião não pode recepcionar um visitante com essa falta de respeito.

Vamos lá arrumar parceiros para o presidente Michel Temer. Vou mencionar essa do Lula porque no evento estava o primeiro-ministro da Noruega, Kjell Mangne Bondevik, o mesmo país que azucrinou o atual presidente brasileiro. Foi em 2003. Era um seminário sobre Desenvolvimento com Ética e Responsabilidade, em Belo Horizonte.

Lula cumprimentou o primeiro-ministro da Noruega e o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Henrique Iglesias, mas se esqueceu de cumprimentar Ruth Cardoso, esposa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.  Com toda assessoria que tinha à sua disposição, foi uma gafe indesculpável.

Em 1983, quando visitou o Brasil, numa reunião em Brasília, no Palácio do Itamaraty, o presidente americano Ronald Reagan, ao brindar os brasileiros desejou “saúde ao povo da Bolívia”. Jacques Chirac também meteu os pés pelas mãos. Disse que Fernando Henrique Cardoso era presidente do México.

Pior. A imprensa francesa tentou amenizar e complicou ainda mais. O “Le Figaro” disse que “como o Brasil e a Guiana, o México é também uma terra da América”. E para FHC não ficar rindo da desgraça de Temer, em 1999 ele se referiu aos bolivianos como peruanos. Para não ficar só na esfera política, a cantora Alanis Morissette despediu-se da plateia em Lima, no Peru, com um sonoro ‘thank you, Brazil’.

Sobre ser maltratado, não é a primeira vez que um presidente brasileiro sofre esse tipo de “agressão” que Temer enfrentou na Noruega. Em setembro de 1986, quando José Sarney era o presidente do Brasil, num momento delicado para o país, há pouco tempo no governo, teve de visitar os Estados Unidos. Sem dúvida ele havia preparado discursos gentis e amáveis para proferir em terras americanas. Ronald Reagan, porém, foi um anfitrião grosseiro e descortês.

No discurso em que recepcionou Sarney, ele se valeu de palavras impróprias para se dirigir a um visitante: “Nenhum país pode continuar exportando para outros se seus mercados domésticos estão fechados para a concorrência estrangeira”. E se não bastasse, apertou ainda mais o torniquete: “Nenhum país deve crescer à custa dos outros”. Uma cavalgadura.

Sarney manteve a calma e fez o discurso de aproximação que havia preparado. À noite daquele mesmo dia deu o troco com classe: “O presidente Reagan disse esta manhã que nenhum país pode crescer à custa dos outros. Nós concordamos com isso. O Brasil sempre cresceu graças às suas potencialidades, através de seu trabalho e do sacrifício do povo”.

Essas situações são desagradáveis, mas, como vimos, todos estamos sujeitos a enfrentá-las. Quem fala muito em público e em locais diferentes precisa se concentrar de forma redobrada. Por maior que seja a correria, é preciso ter um momento de concentração antes de se dirigir ao microfone. Aquele que se comporta de maneira atabalhoada corre o risco vez ou outra de dar bom dia a cavalo.

Superdicas da semana

  • Por maior que seja o sufoco, tenha um instante de concentração antes de falar.
  • Se for agredido verbalmente, procure manter sempre a calma e não revidar emocionalmente.
  • Se cometer uma gafe, por maior que seja, tenha calma. Tudo passa.
  • Quanto mais conhecido você for, mais suas gafes serão notadas.

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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