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Reinaldo Polito

Será que para ser bem-sucedido na carreira é preciso ter sorte?

Sorte; torcida - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

25/07/2017 04h00

Será que somente aqueles que têm sorte conseguem obter sucesso na carreira, na vida? Essa é uma boa questão. 

Os malsucedidos, provavelmente, responderão que sim. Os bem-sucedidos, quase certo, dirão que essa história de sorte não existe. E, como prova, vão desfiar a sequência de obstáculos que os obrigaram a ralar. A verdade é que, depois do resultado, fica simples explicar se a sorte teve ou não influência.

Analisar o jogo depois de terminado é fácil. Basta observar alguns comentaristas esportivos.

Sem constrangimento apontam o dedo crítico para mostrar todos os defeitos do time que acabou de perder o jogo por ter levado um gol de pênalti inexistente nos acréscimos do segundo tempo.

Aqueles que continuam acreditando que um dia chegarão lá poderão dizer que sim e que não. Como alguns ainda imaginam que só com preparo e dedicação será possível atingir seus objetivos, nem sempre consideram a sorte como fator relevante nas suas avaliações.

Os gregos e os romanos já queimavam os neurônios na tentativa de explicar a instabilidade e a inconstância da condição humana com seus deuses tutelares –Tique e Fortuna. Essas deusas distribuíam entre os homens oportunidades e revezes, governando seu destino, distribuindo, às cegas, aleatoriamente, a sorte (fosse ela boa ou má).

Ingredientes do sucesso

Baseado na minha experiência e analisando a carreira de alguns que se saíram mal e de outros que triunfaram, tenho constatado que a realização depende de vocação, preparo, oportunidade, sorte e muita dedicação. Portanto, não acredito que um desses ingredientes, isoladamente, possa levar uma pessoa a ser vitoriosa.

De nada adiantará se preparar se não existir vocação. A oportunidade talvez nem seja percebida se não houver preparo. A sorte só mostrará sua face diante da oportunidade. A dedicação só será produtiva se a sorte indicar o caminho certo. Vejo assim a explicação do sucesso na carreira de um profissional.

Tive alguns alunos que já eram excelentes oradores, mas mesmo assim não se contentaram com o que haviam conquistado e foram humildemente até a minha escola para se aprimorar ainda mais. Dou dois exemplos de pessoas que me permitem citá-las: Roberto Jefferson e Carol Nakamura. Dois excepcionais comunicadores que vislumbraram a oportunidade de melhorar.

Esses incansáveis aprendizes, com essa dedicação, ampliam suas chances de serem bem-sucedidos. Dizem que um detalhe aprimorado pode fazer a diferença no momento de competirem com pessoas que estão no mesmo nível que eles.

São os milésimos de segundo que tornam o atleta campeão. Basta que, com seu preparo, encontrem oportunidades e tenham uma pitada de sorte.

Vocação, preparo e dedicação

Conheci muita gente boa que poderia ter ido mais longe na carreira. Lembro-me de um caso que foi muito marcante para mim: Rui Júlio. Era um garoto que nasceu para jogar futebol; um craque incomparável. Começou jogando pelada comigo no campo da Baianinha, em Araraquara (SP). Seu passo seguinte foi jogar no Estrela, tradicional time amador da Morada do Sol.

Joguei com ele no Estrela. Em 1968, quando fomos campeões amadores, ele já não estava lá. Havia se projetado em voos mais altos. Em 1967, a convite do técnico Vail Mota, assinou contrato com a Ferroviária. Naquele tempo, era um timão. No dia da sua estreia, eu estava lá no campo, torcendo pelo amigo. Foi contra o Santos.

Rui Júlio e Pelé. Foto publicada pelo Jornal O Imparcial em 1967 - Reprodução/Jornal O Imparcial - Reprodução/Jornal O Imparcial
Rui Júlio (à esq.) e Pelé, em 1967
Imagem: Reprodução/Jornal O Imparcial

Antes de começar o jogo, bem na minha frente, ele tirou uma foto com o maior jogador de futebol de todos os tempos, Pelé. Que orgulho! Meu companheiro de peladas lá da Baianinha fazendo sua estreia contra o time em que jogava o maior craque da história do futebol mundial. Para um estreante, Rui foi muito bem.

Há algum tempo, visitando um querido amigo de infância, Catarina, tive a grata surpresa de saber que ele ainda guardava o jornal com a foto que Júlio havia tirado ao lado de Pelé. Era como se eu estivesse ainda ali no campo, vendo os dois posarem para a foto. Meu coração bateu forte, revivendo aquele instante mágico.

Rui dominava todos os fundamentos de um bom jogador. Corria e se posicionava com elegância, desmarcava-se dos adversários com tranquilidade, driblava e chutava com precisão. E uma grande qualidade, rara na maioria dos jogadores: corria sempre com a cabeça levantada, pois sabia onde a bola estava sem olhar para o chão. Todos o admiravam.

Rui defendeu as cores grenás por quatro anos. Nesse período, excursionou com a Ferroviária para vários países e foi tricampeão do interior de 1967 a 1970. Ainda hoje tenho a camisa do time afeano com as três estrelas de campeã do interior.

O jogador policial

Nesse ano de 1970, foi jogar no América de São José do Rio Preto. Lá as coisas não andaram muito bem. O time estava com dificuldades financeiras e atrasando salários dos jogadores. Rui ficou desestimulado e abandonou a carreira de jogador profissional. Não encontrou outro Vail Mota que lhe desse oportunidade para jogar num grande clube.

Ele se tornou policial militar. Foi campeão amador pelo time da polícia --nada que estivesse à altura da sua excelente capacidade como jogador. Fez curso para ser policial rodoviário. Após a formatura, no dia 18 de agosto de 1989, voltando de São Paulo para Araraquara, morreu em um trágico acidente rodoviário. Estava com apenas 41 anos de idade.

Acho que Rui foi feliz à maneira dele. Tomou as decisões que desejou. Lutou por aquilo que queria, embora, talvez, para nós que o admirávamos tanto, não tenha chegado ao ápice que poderia coroar sua carreira e fazer justiça a sua impressionante habilidade para jogar futebol.

Sempre que vou para Araraquara passo pela Baianinha e me emociono ao me lembrar que estávamos lá todos os dias correndo felizes atrás de uma bola.

Assim como muitos profissionais, talvez a maioria, Rui Júlio tinha vocação, preparo e dedicação. Para nós, que torcíamos por ele, julgamos que talvez tenha faltado para ele um pouco mais de sorte e de oportunidade.

Não viveu em vão, pois, ainda hoje, depois de tantos anos, estamos aqui falando da sua competência. E mais, citando sua trajetória como um exemplo para todos nós.

Superdicas da semana

  • Esteja bem-preparado para quando as oportunidades surgirem.
  • Você só será contemplado pela sorte se estiver preparado.
  • Dedique-se o máximo que puder à atividade para a qual for vocacionado.
  • Jamais desista de seus objetivos. A oportunidade poderá surgir a qualquer momento.
  • As melhores decisões não seguem a maioria.

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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