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Reinaldo Polito

Saiba mudar de assunto para um colega reclamão não estragar almoço na firma

Getty Images
Imagem: Getty Images

16/08/2017 04h00

Há pouco tempo conversávamos em sala de aula a respeito de uma matéria veiculada na imprensa sobre alimentos que faziam mal à saúde. Conversa vai, conversa vem, e lá pelas tantas um aluno, que era médico, disse: o que faz mal não é o que você come, mas sim com quem você come. Os colegas pararam de discutir para dar razão a ele.

Esse aluno se expressava, evidentemente, no sentido figurado. Embora alguns alimentos façam mesmo muito mal à saúde, não há como negar que, dependendo da atitude de algumas pessoas durante as refeições, os malefícios da conversa inconveniente poderão ser ainda mais devastadores para a qualidade de vida dos que estão à mesa.

Vamos imaginar esta cena hipotética. Num almoço na empresa, o colega que está à sua frente, assim que ajeita o guardanapo no colo, já dá uma reclamada: “Sabe o que não entendo? Por que marcaram essa bendita reunião às 8 horas da manhã? Pensam que não tenho nada para fazer. Só me faltava essa para complicar ainda mais a minha semana. As coisas que já estão enroladas vão piorar ainda mais. Agora, me diga, o que vão discutir? Diversificação de produtos? Custo de retrabalho? Rotatividade de pessoal?”

E você, imaginando que usa o bom senso, responde que esses assuntos são relevantes e que precisam ser tratados numa reunião como essa que foi marcada. E mais, que as reuniões agendadas para a primeira hora do dia não prejudicam o andamento das atividades.

Esse comentário poderia ser suficiente para esfrangalhar a refeição. O colega reclamão se aproveita das suas palavras para destilar a bílis estocada e continua a discussão até a última garfada. Mais grave ainda. Ele não se contenta apenas em cutucar você. Tenta pegar a solidariedade de todos que estão ao seu redor. Olha para um, pega no braço do outro e vai aumentando o volume da voz, como se estivesse brigando com alguém.

O cara é chato, mas sabe de quem é a culpa? De quem deu corda para ele. Esse era o momento para ficar calado. Sem resposta às indagações que fez, talvez ele se calasse. Por que alimentar debates e discórdias na hora da refeição? Aproveite esses instantes para comer com calma, conversando apenas sobre temas leves, agradáveis, divertidos, que não perturbem a tranquilidade dos seus companheiros de mesa.

Sei que nem sempre será possível fazer refeições em ambientes tão sossegados. Infelizmente, nem sempre dá para evitar conversas desagradáveis, ou até discussões à mesa do almoço, especialmente no ambiente de trabalho. Com a vida corrida no mundo corporativo, às vezes, essa é a única oportunidade para resolver algumas pendências.

Por outro lado, entretanto, será possível diminuir bastante esses dissabores se ficarmos mais atentos ao que ocorre ao nosso redor. Muitos assuntos desagradáveis, que poderiam ser evitados, aparecem do nada, são introduzidos na conversa sem necessidade e, quando percebemos, já se transformaram em gatilho para uma verdadeira batalha.

Corte o mal pela raiz: mude o rumo da conversa

A maioria dos almoços poderia ser muito mais agradável com algumas atitudes bastante simples. Ao notar que um tema inconveniente começa a se alastrar, corte o mal pela raiz. Tome para si o controle da situação e mude o rumo da conversa. Aguarde a melhor oportunidade e, com a maior calma que puder demonstrar, faça uma pergunta ou levante uma questão diferente do tema discutido à pessoa que estiver falando.

Mudar o rumo de conversas indesejáveis é uma arte que exige prática e experiência. Precisa ser exercida de forma imperceptível, caso contrário correrá o risco de deixar o interlocutor ainda mais enfurecido. Se ele perceber que você tomou a iniciativa de falar a respeito de outro tema apenas para encerrar a discussão, poderá se irritar.

Exercite essa habilidade sempre que tiver oportunidade. Aos poucos você se sentirá tão confortável para mudar a direção das conversas desagradáveis que os interlocutores nem perceberão sua estratégia. Você descobrirá sozinho a melhor maneira para agir nessas circunstâncias. Mesmo assim, veja algumas ações recomendáveis.

Aguarde até que surja na conversa uma pausa mais longa e formule a pergunta como se deduzisse que a discussão já tivesse sido encerrada. A melhor pergunta para fazer nessas circunstâncias é aquela que possa interessar a pessoa que está falando. Avalie o que possa ser muito importante para ela e levante a questão.

O interlocutor dificilmente se recusaria a falar, por exemplo, se você mostrasse interesse sobre um livro raro que ele acabou de adquirir, uma viagem exótica que tenha realizado, a conquista profissional ou acadêmica de um de seus filhos, um projeto que tenha concluído etc. Diante de assuntos que lhes são tão caros, talvez nem se lembrasse mais do que estava dizendo.

Em certos casos, nem precisará procurar temas tão distantes da realidade do momento. Um rápido comentário sobre a boa qualidade do alimento poderá ser suficiente para interromper a conversa desagradável e desviá-la para assuntos mais palatáveis. Embora fazer o comentário possa ser simples, tenha em conta que deverá ter cuidado com a sutileza para não tornar o momento ainda mais complicado.

São essas ocorrências do dia a dia que, se não forem observadas com cautela, poderão envenenar a convivência com as pessoas mais próximas. Com um pouco de jeito, paciência e prática você poderá tornar as conversas mais amenas nos horários das refeições. Todos poderão se beneficiar com essa sua atitude, especialmente você que passará a ter melhor qualidade de vida.

Se refletir um pouco, sem esforço, provavelmente você se lembrará de vários momentos em que durante as refeições algumas conversas chatas poderiam ser evitadas, caso tivesse tomado a iniciativa de fazer perguntas a respeito de assuntos diferentes daqueles que estavam sendo debatidos.

Constatará também que são quase sempre as mesmas pessoas que falam sem necessidade sobre assuntos controversos. Por isso, será mais fácil se concentrar nelas com perguntas mais ou menos pré-elaboradas e cortar o cerce logo no início da conversa.

Ah, antes que eu me esqueça, sem que ninguém nos ouça, se você for uma dessas pessoas que vivem envenenando o ambiente, não espere que alguém acabe com a discussão, tome a iniciativa e mude o rumo da sua própria conversa. Comece desde já a tomar essa iniciativa. Todos irão se sentir muito melhor, inclusive você.

Superdicas da semana

  • Evite conversas envenenadas, especialmente durante as refeições
  • Mude o rumo das conversas desagradáveis sempre que puder
  • Para mudar o rumo de uma conversa inconveniente, faça perguntas sobre outros temas
  • Vigie a própria conversa para não discutir assuntos irritantes sem necessidade

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante; "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", “Superdicas para falar bem” e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva; e “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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