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Reinaldo Polito

Como no caso de Tite, a comunicação pode livrar você de grandes enrascadas

10/07/2018 04h00Atualizada em 10/07/2018 15h12

Quando se fala no nome de Dunga como técnico da seleção brasileira, poucos conseguem explicar o motivo de sua antipatia. É "retranqueiro", dizem uns. É desrespeitoso com a imprensa, argumentam outros. Perdeu a Copa do Mundo ainda nas quartas de final, afirmam os mais contundentes.

É difícil mesmo encontrar alguém que faça a defesa do treinador. Imagino que agora mesmo, só com essas informações que acabei de passar, sem emitir nenhuma opinião a respeito do tema, alguns leitores já estejam afiando os dedos para escrever, dizendo que estou errado, que não entendo nada de futebol, que não deveria me meter em assuntos que não sejam da minha competência.

Se ouso fazer alguma comparação entre Dunga e Tite, então, aí é que o mundo vem abaixo. Dá até para ouvir as vozes indignadas: “cê tá de brincadeira, né?”, “Ah, fala sério, você só tá zoando”, “Para com isso, Polito, não tem nem jeito de falar de um e de outro”. E, como diz meu amigo professor Pasquale (uma dessas vozes quase indignadas): “e por aí vai”.

Pois bem, vamos a alguns números, que é a única forma de argumentar sem nos envolvermos em demasia com os aspectos emocionais. Se é que falar de futebol sem emoção seja mesmo possível! Gosto de ver as discussões dos comentaristas esportivos na defesa de suas teses, antes e depois dos jogos. Quase nunca dizem coisa com coisa. E olha que são “profissionais’.

Para quem não se lembra, os números do Dunga na Copa de 2010 são expressivos. Vamos só retroagir um pouco, pois esses dados interferiram na campanha toda:

  • Campeão da Copa América em 2007. E como cereja do bolo –meteu 3 X 0 na Argentina
  • Campeão da Copa da Confederações em 2009
  • 1º lugar na fase de classificação para a Copa de 2010
  • 1º lugar na primeira fase da Copa
  • Emplacou 3 X 0 no Chile na segunda fase
  • Perdeu de 2 X 1 da Holanda nas quartas de final, com um gol contra de cabeça do Felipe Melo. Ah, embora tenha perdido, jogou uma partidaça nesse dia

Sobre a seleção do Tite não preciso me ater aos dados estatísticos, pois sua atuação ainda está presente na cabeça de todos nós. Em todo caso, para estabelecer comparações (esse termo já deixa muita gente se contorcendo de raiva) vamos mencionar alguns dados curiosos.

Tite e Dunga tiveram a mesma trajetória profissional. Senão vejamos:

  • Os dois são gaúchos
  • Os dois foram jogadores de futebol
  • Os dois se tornaram técnicos de futebol
  • Os dois sofreram derrotas arrasadoras e conseguiram se recuperar. Tite, quando treinava o Corinthians, foi eliminado da Libertadores pelo Tolima, e conseguiu, pelo mesmo time, dar a volta por cima e se tornar campeão mundial. Dunga, como jogador pela seleção brasileira e capitão do time, foi derrotado vergonhosamente na Copa de 1990 nas oitavas de final. Toda a carga de crítica recaiu sobre ele. Esse período foi denominado “a era Dunga”. Quatro anos depois ele renasceu das cinzas e, também como capitão, foi campeão mundial em 1994.
  • Os dois possuem excelente capacidade de liderança. Todos os jogadores que atuaram sob o comando deles os admiram. Agora, com esse momento à frente da seleção brasileira, Tite conseguiu se aproximar da experiência internacional de Dunga.
  • Os dois foram derrotados como técnicos da seleção na mesma fase, pelo mesmo placar e levando gol contra de cabeça na partida em que foram eliminados.

A partir de todos esses dados, que mostram uma coincidência incrível, a pergunta é esta: por que Dunga foi tão criticado e Tite, poupado?

A resposta está na capacidade de comunicação do Tite. Ele sabe como falar com a imprensa. Dá respostas que agradam aos torcedores. É articulado em suas argumentações. Faz pausas apropriadas, mesmo quando, após um momento de silêncio, diz obviedades. Como disseram alguns –é um encantador de serpentes.

Dunga nunca foi muito hábil com as palavras. Bateu de frente com jornalistas. Quase sempre deu respostas monossilábicas. Fala normalmente com o semblante fechado, quase carrancudo. Não conquista assim a simpatia nem dos torcedores, nem da imprensa. Na sua volta à seleção tentou ser mais simpático –e até conseguiu– mas, a imagem antiga acabou prevalecendo.

Esse é um ensinamento para todos nós –aprender a falar bem, com desembaraço e desenvoltura. Saber como argumentar e refutar posicionamentos contrários sem estabelecer confrontos gratuitos. Ter em mente que diante das pessoas o nosso semblante não nos pertence, mas sim que deve ser arejado e expressivo para ir ao encontro das expectativas dos ouvintes.

Esses cuidados com a comunicação tornarão nossa vida profissional mais promissora e farão com que nosso relacionamento social e familiar seja mais agradável. Por isso, vale a pena investir na nossa habilidade de falar e conversar.

Superdicas da semana

  • Saiba falar bem para aproveitar ainda mais os bons momentos
  • Aperfeiçoe sua comunicação para contornar os maus momentos
  • Erros e desacertos talvez não prejudiquem tanto se a comunicação for boa
  • Todos nós podemos errar, aprenda o que dizer nesses momentos

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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