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Reinaldo Polito

Para falar como líderes, seja coeso e evite discurso "colcha de retalhos"

Presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel - Tobias SCHWARZ / AFP PHOTO
Presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel Imagem: Tobias SCHWARZ / AFP PHOTO

20/11/2018 04h00

Você já parou para analisar como os discursos dos grandes líderes mundiais são envolventes, lógicos, concatenados e, em alguns casos, até sedutores? Analise as apresentações feitas por expoentes da política mundial como o presidente francês, Emmanuel Macron, ou a chanceler alemã, Angela Merkel. Você vai perceber como a fala deles prende a atenção desde o princípio até as últimas palavras.

Os discursos desses líderes estão disponíveis na internet. Vale a pena assistir a algumas de suas apresentações para constatar como, mesmo tendo estilos diferentes, ou por causa disso, são claras, compreensíveis e muito envolventes. Independentemente da simpatia ou resistência política que você tenha sobre eles, ficará admirado pela qualidade da oratória.

Na vida corporativa ocorre o mesmo fenômeno. Alguns gestores corporativos são excelentes comunicadores. Não é raro receber executivos que confessam ter o desejo de aprender a falar como os seus chefes. E quando pergunto o que há de tão extraordinário na fala deles, a resposta geralmente é: não sei!

Com um pouco mais de conversa, quando já se sentem à vontade, dizem que ficam impressionados com o raciocínio lógico, claro e ordenado que desenvolvem em suas apresentações. Afirmam que os funcionários, de qualquer escalão hierárquico, ficam encantados com os discursos proferidos por esses gestores. Não era o que ocorria também com Steve Jobs, por exemplo?

Por que será que compreendemos alguns discursos com tanta facilidade, enquanto outros nos parecem confusos, sem objetivo definido e sem sequência lógica? Entre os inúmeros fatores que dificultam o entendimento, dois se destacam: a falta de interdependência entre as partes e a falta de clareza.

A falta de interdependência

A falta de interdependência entre as partes do discurso dificulta a compreensão dos ouvintes. Esse é um defeito comum em muitos oradores. Constroem frases e parágrafos até com sentido completo, mas sem coesão com as informações precedentes e subsequentes. É como se fosse uma colcha de retalhos, na qual um pedaço de pano nada tem a ver com aqueles com os quais se ligam para formar o tecido.

As partes de um discurso precisam estar tão bem interligadas que deem a impressão de compor um conjunto uno, integrado e indivisível. De tal forma que, se uma delas for retirada, poderá comprometer o entendimento do todo.

Esse é um cuidado que devemos ter tanto para falar quanto para escrever. Portanto quem deseja aprender a falar ou a escrever deve se preocupar com a coesão.

Para que exista essa interdependência entre as partes do discurso, a introdução precisa guardar relação com a preparação, o assunto central e a conclusão. Além dessa interdependência natural que deve existir entres as diversas partes da peça oratória, o orador pode se valer de elementos de transição para fazer a ligação entre as diversas informações.

Por exemplo, em uma reunião, após desenvolver os argumentos que sustentam suas ideias, antes de apresentar a conclusão de seu raciocínio, poderia dizer: “a partir desses argumentos que acabamos de analisar, temos apenas um caminho a seguir como solução”. Essa é uma transição.

Ou, ao contrário, antes de apresentar os argumentos, também poderia dizer: “quero chamar a atenção de vocês para dois aspectos que são fundamentais no nosso estudo de diversificação”. Também nesse caso, estamos diante de um elemento de transição.

O elemento de transição facilita o entendimento dos ouvintes, já que avisa qual a informação que será transmitida. Cria expectativa sobre o que será informado. E, principalmente, como liga informações importantes, mostra como o assunto está evoluindo, caminhando para a frente, o que motiva o público a acompanhar com mais interesse a exposição.

A falta de clareza

Como as informações são claras para quem se apresenta, a pessoa tem a impressão de que os ouvintes também entenderão com facilidade sua linha de raciocínio. De maneira geral, o que ocorre é exatamente o contrário. A plateia não compreende as palavras, as ideias e os objetivos do orador.

Na oratória sacra há bons exemplos de como o orador deve se preocupar com a capacidade de compreensão dos ouvintes. Um desses oradores foi Martinho Lutero,  ao ensinar como a palavra de Deus deve ser pregada: “Ao pessoal simples, é preciso dizer: branco é branco e preto é preto. De modo singelo, com palavras simples e claras –e, mesmo assim, quase que não entendem”.

Da mesma forma, encontramos sábios ensinamentos nas palavras de Santo Agostinho, na obra “A Doutrina Cristã”: “Com efeito, de que serve a pureza da linguagem se a inteligência do auditório não acompanha? Não temos nenhuma razão de falar se aqueles a quem nos dirigimos para nos fazer compreender não compreendem o que dizemos”.

Portanto, seguindo os exemplos dos líderes políticos mundiais e dos bem-sucedidos gestores corporativos, e os conselhos desses que estão entre os mais competentes líderes religiosos de todos os tempos, temos de tornar nossa fala clara, lógica e compreensível, pois só assim conseguiremos atingir o que desejamos com a comunicação.

Superdicas da semana:

  • Use palavras simples, que possam ser compreendidas por todos
  • Analise sempre se uma palavra mais compreensível não poderia substituir a que pretende utilizar
  • Lance mão de elementos de transição para passar de uma ideia importante para outra
  • Analise se existe interdependência entre as diversas partes do discurso

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante; “Vença o medo de falar em público”, “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", “Superdicas para falar bem”, “As melhores decisões não seguem a maioria” e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva; e “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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