Comunicação sem censura, como de Olavo de Carvalho, favorece ou prejudica?
Nos últimos tempos Olavo de Carvalho se projetou com destaque nas redes sociais. Já era conhecido pela publicação de seus livros, mas a internet o catapultou para patamares ainda mais altos. É difícil encontrar hoje alguém que não tenha ouvido falar de seu nome, lido seus livros ou assistido às suas apresentações no YouTube.
Há uma legião de seguidores que assistem às suas aulas sobre filosofia e política. São pessoas que atuam no mundo empresarial, na imprensa, nas universidades e na política. Embora haja negativas de ambos os lados, há rumores fortes de que ele seja o guru de Jair Bolsonaro.
Dizem mesmo que o presidente brasileiro pauta muitas de suas decisões baseado nos conselhos de Olavo de Carvalho. Apenas para citar exemplos mais ou menos recentes, dois ministros foram convidados a partir de indicações do filósofo: o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, e o das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Nessa seara, fofoca é o que não falta. Nos últimos dias saiu o maior quiproquó no governo Bolsonaro. A conversa que surgiu entre colunas, parodiando os rituais maçônicos, é a de que Vélez demitiu ou transferiu aliados de Carvalho por ter recebido pressão de vários grupos palacianos, notadamente do Exército e do Ministério da Economia.
Independentemente de as informações serem ou não verdadeiras, o burburinho mostra de maneira clara a influência que o filósofo autodidata residente nos Estados Unidos, diretamente ou por meio de seus discípulos, tem sobre o que acontece nas decisões do governo brasileiro.
Assim que o ministro Ernesto Araújo recebeu convite para assumir o Ministério das Relações Exteriores, houve fortes bochichos de que Olavo de Carvalho poderia assumir a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Ele mesmo já havia se oferecido para ocupar esse cargo. Para mostrar o relacionamento entre Carvalho e Bolsonaro, basta dizer que no domingo foi programado um jantar com a presença dos dois e de outras personalidades na residência do embaixador Sérgio Amaral. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse durante esse jantar que Olavo de Carvalho foi o líder da revolução liberal no Brasil.
Se Olavo de Carvalho é considerado tão competente e bem preparado por Jair Bolsonaro, por que ainda não foi convidado para assumir a Embaixada brasileira nos Estados Unidos? Provavelmente, há uma série de motivos que jamais virão à tona. São diversos aspectos que precisam ser levados em consideração para que alguém desempenhe uma função de tamanha importância.
Lendo um livro que me foi enviado pelo professor João Roberto Gretz, um dos mais conhecidos palestrantes motivacionais de todo o país, encontrei uma boa explicação para esse questionamento. O livro é "Negociar - a mais útil das artes", publicado pela primeira vez há mais de 300 anos, e reeditado recentemente pela Edições Janeiro. Foi escrito por François Callières, que atuou como secretário de Gabinete de Luís XIV.
Nessa obra, valendo-se de todo seu conhecimento e experiência, o autor descreve com detalhes a maneira como os embaixadores devem negociar com os soberanos. É incrível como passados três séculos as lições parecem ter sido escritas para os dias de hoje.
Ao falar das qualidades que deve possuir um negociador, Callières chama a atenção para uma característica que, com certeza, retira todas as possibilidades de Olavo de Carvalho ser chamado para ser o embaixador. O fato curioso é que não tem nada a ver com sua competência, mas sim com a forma como se comunica e se comporta:
"Um homem naturalmente violento e arrebatado é pouco apropriado para conduzir bem uma grande negociação. É difícil que ele se contenha sempre o suficiente para poder refrear o ímpeto de seu humor em certas ocasiões imprevistas e nas contradições e disputas que com frequência nascem no prosseguimento dos assuntos, e que seus arrebatamentos não azedem aqueles com os quais está negociando".
Ora, todos nós sabemos que Olavo de Carvalho é um desbocado, destemperado e irritadiço. Seu linguajar é permeado dos mais vulgares palavrões. Não pensa duas vezes antes de xingar seus oponentes, e, em certas situações, até criticar com veemência os que lhes são próximos.
Só para dar uma ideia da sua "sutileza" verbal, basta refletir um pouco sobre o que ele disse nessa semana sobre o vice-presidente Hamilton Mourão num evento no Trump International Hotel, nos Estados Unidos: "Esse cara não tem ideia do que é ser vice, só sabe sobre sua vaidade monstruosa. Você acha que ele pediu permissão do presidente para ir a São Paulo [visitar João Doria]? Eu não o critico, eu o desprezo"
Cada um pode se expressar da maneira que julgar conveniente, mas deve saber que algumas condutas chegam a comprometer a imagem e até a abalar a reputação. Na ONG Via de Acesso, que presido há 16 anos, uma das recomendações que demos aos mais de 500 mil jovens que ingressamos no mercado de trabalho sempre foi: cuidado com suas atitudes, pois você será contratado pela sua competência, mas poderá ser demitido por causa do comportamento.
Assim também com quem ocupa posições de grande importância nas organizações. Quantos exemplos tivemos de vice-presidentes que foram demitidos porque não se comportaram de maneira adequada em festas de final de ano, em entrevistas e em comemorações. Quase todos muito competentes, mas sem conduta à altura do cargo que exerciam.
Não há vantagem em sair por aí se expressando na base dos palavrões. Esse tipo de vocabulário não faz falta. Nenhuma falta. Alguns, às vezes, recorrem ao palavrão para se mostrar descontraídos, naturais, mas caem na vulgaridade. Um palavrão ou uma gíria aqui e ali, bem contextualizados, em certas circunstâncias, até faz parte da comunicação. O exagero, entretanto, que leva à vulgaridade, deve ser evitado a qualquer custo. Há consequência e um preço a pagar.
Aí está o exemplo de Olavo de Carvalho. Admirado pelo conhecimento, pelos livros que escreve, pelas aulas que ministra, mas que pode receber restrições devido à forma como se expressa com exagero de palavrões e termos vulgares. Essa é uma reflexão que devemos fazer: será que a forma como nos expressamos favorece ou não a nossa imagem social e profissional?
Superdicas da semana:
- Aprenda com os erros e acertos dos outros
- O uso de palavras vulgares quase sempre prejudica a imagem
- Quem usa palavrões e frases vulgares com frequência pode comprometer sua reputação
- Palavrões e gírias bem contextualizados fazem até parte da boa comunicação
- No caso de dúvida sobre a adequação de seu uso, prefira evitar
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante; "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva; e "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.
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