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Reinaldo Polito

Antonio Luiz Toledo Pinto deixa um vazio no mundo editorial brasileiro

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Colunista do UOL

01/06/2020 15h31

Exemplo não é uma outra maneira de ensinar, é a única maneira de ensinar.
Albert Einstein

A vida vai nos levando de um lado para outro. Enfrentamos um desafio aqui, outro ali, superamos alguns, outros nem tanto. Seguimos em frente. São tantos caminhos, desvios e histórias profissionais que, às vezes, nos esquecemos daqueles que estiveram ao nosso lado, com as mãos estendidas para nos guiar nos nossos primeiros passos.

De certa forma, com o transcorrer dos anos, o passado chega mesmo a ficar meio turvado, nebuloso, ofuscado. Como nos preocupamos muito com o futuro, quase sempre, só nos lembramos do presente e dos momentos mais recentes da nossa existência. De vez em quando, um lampejo aqui, outro acolá, mas logo as atribulações dos afazeres nos desviam rápido das lembranças mais remotas.

Saraiva - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Ele me estendeu a mão

Eu me sinto privilegiado. Está presente em minha memória uma das pessoas que teve participação marcante na minha vida como escritor, Antonio Luiz Toledo Pinto. Quando publiquei o meu primeiro livro "Como falar corretamente e sem inibições", não existia na Editora Saraiva a área de Interesse Geral. Era, portanto, a primeira obra a ser publicada nessa editoria.

Antonio Luiz era o diretor da editoria dos livros jurídicos da Saraiva, e "se escalou" para ser o editor do meu livro. Ele fez esse trabalho com tanto cuidado, carinho e profissionalismo que me encantou. E nos tornamos amigos nesses 35 anos de convivência. Embora eu não tenha trabalhado na editora, tive uma amizade tão grande com o presidente, diretores e gerentes da Saraiva que me convidaram para participar das reuniões desses ex-funcionários. Aceitei com orgulho e muita alegria.

Além das mensagens que trocamos todos os dias, promovemos um encontro mensal na Cantina Gigio. Enquanto comemos uma bela macarronada e tomamos um bom vinho, jogamos conversa fora. Falamos de política, de futebol, de livros, contamos piadas, revisitamos as boas histórias e rimos muito. Tudo sem nenhum interesse. Apenas pelo enorme prazer de estarmos juntos com os amigos. Em época de agenda profissional muito apertada, faço de tudo para espremer os horários e estar presente nessa convivência.

Antonio Luiz nos deixou

Esses encontros não serão mais os mesmos. Antonio Luiz nos deixou, neste domingo, dia 31. Ele era o agregador da tropa. Marcava, adiava e remarcava a data dos nossos encontros. Era sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Nunca conheci uma pessoa que fosse indiferente a ele. Falava com aquela voz pausada, que transpirava bondade. Seu olhar era maroto, de quem tinha sempre uma boa piada na manga para divertir o grupo. Homem íntegro, competente, sangue bom.

Quando publiquei o livro "Oratória para advogados", ele me acompanhou para uma conversa com o Luiz Flávio Borges D'Urso, então presidente da OAB, para combinarmos a chancela que a obra receberia dessa instituição. Na palestra de lançamento do livro, no dia 20 de agosto de 2008, ele estava compondo a mesa diretora para me prestigiar. Nunca deixou de me acompanhar. Seus comentários e sua presença marcante me davam segurança e inspiração.

Formou muitos profissionais

Falo de mim, para testemunhar essa experiência tão relevante, mas Antonio Luiz fez história no mundo editorial brasileiro. O mundo jurídico deve muito a esse profissional. Com sua perspicácia, descobriu, treinou e lançou muitos autores, editores, produtores, promotores e consultores. Deixou em cada um desses profissionais a marca da sua competência.

Esse que segurou as minhas mãos logo no início, quando eu era ainda um ousado aprendiz de escritor, foi presença marcante na minha vida. Todas as vezes que nos encontrávamos ele abria o sorriso e dizia com alegria: fui o seu primeiro editor, e jamais fizemos uma edição com menos de cinco mil livros. Como ironia do destino, a última mensagem que ele enviou ao grupo foi uma foto dele com o meu livro "Oratória para advogados" na mão. Embaixo a mensagem que me emocionou: "Meu livro de cabeceira, agora meu companheiro de pandemia".

Algumas pessoas nos deixam tristes quando partem. Outras no deixam até desolados. Poucas, como Antonio Luiz, nos deixam um enorme vazio. É a certeza de que sua ausência jamais será preenchida. É um pedaço de nós que foi arrancado para sempre. Ele viverá em cada profissional que forjou. Um legado que não se esgota em uma geração, pois seus pupilos já transmitiram a outros profissionais os ensinamentos que receberam desse querido mestre. Viverá para sempre no nosso meio.

Superdicas da semana

  • Vamos nos lembrar de quem estendeu a mão quando iniciamos na carreira
  • Pessoas boas irradiam harmonia e momentos alegres
  • Ao encontrarmos pessoas íntegras, competentes, boas, temos de fazer de tudo para convivermos com elas
  • Sorte de quem encontrou alguém competente para guiar seus primeiros passos

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.

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