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Reinaldo Polito

Cuidado para não ser cancelado como Felipe Neto

Felipe Neto - Reprodução/YouTube
Felipe Neto Imagem: Reprodução/YouTube

Colunista do UOL

04/08/2020 04h00

Uma palavra basta para construir ou destruir o destino de um homem.
Sófocles

3, 2, 1...fui. Esse é um dos avisos de que alguém resolveu "cancelar" determinada pessoa, e deixou de segui-la. Essa cultura do cancelamento não é novidade, existe muito antes do aparecimento das mídias sociais. No passado era tudo mais lento. Alguém percebia que era ignorado pelas pessoas aqui, ali, acolá, mas até se conscientizar de que estava sendo cancelado demorava.

Havia exceções. Quando a mídia resolvia participar do boicote era um massacre. Talvez o caso mais emblemático tenha ocorrido nos anos 1960/1970 com Wilson Simonal, considerado um dos melhores cantores do país em todos os tempos. Acusado de ter participado como dedo-duro dos militares, em uma questão controvertida, sempre alegando inocência, foi sumariamente cancelado como artista. Desapareceu dos programas de rádio e televisão. Sem publicidade, seus shows ficaram às moscas. Eram casos raríssimos.

Hoje não. Num piscar de olhos, as redes sociais destroem uma reputação construída por décadas com muito trabalho, dedicação e sacrifício. Uma palavra enviesada pode, às vezes, ser suficiente para transformar a vida de uma pessoa num verdadeiro inferno. Quando a "vítima" é famosa, sem que ela se dê conta, tem shows cancelados, contratos suspensos, contas esvaziadas.

As informações falsas

Nem sempre as informações são verídicas. Um desafeto, ou alguém em busca de luzes às custas de quem seja famoso, distorce o que foi dito, retira frases de contexto, exagera e publica a crítica nas redes sociais. Como a notícia é sensacionalista, viraliza rapidamente, sem que o acusado tenha tempo de se defender. Depois de o fato se espalhar, mesmo provando que não passou de invencionice, o estrago está feito. É a história do travesseiro de penas jogado do alto de um prédio. Você pode recolher pena por pena, mas algumas ficarão perdidas.

Ainda que a informação seja verdadeira, ocorre de, em certas circunstâncias, a pessoa se expressar de maneira infeliz e sua mensagem ser interpretada como tendo conotação racista, machista, homofóbica, misógina. Pronto, a tempestade está formada. Alguns acusam o golpe com tanto impacto que nunca mais na vida se recuperam. Abandonam suas atividades e passam a se esquivar dos holofotes.

Nos últimos tempos, ficou comum a prática dos dislikes. Quando as pessoas não concordam com certos posicionamentos, entram na rede social de quem desejam atacar e mostram ali sua contrariedade. Aconteceu recentemente com as postagens do ex-ministro Sérgio Moro e com uma mensagem publicitária da própria Globo. Com certeza, os dois se surpreenderam com a reação negativa das pessoas.

Dislikes de Felipe Neto

No último dia 30 de julho foi a vez do youtuber Felipe Neto experimentar o rancor da galera ao participar de uma live com o ministro do STF Luís Roberto Barroso. Sua legião de fãs impressiona. Os números chegam a dezenas de milhões de seguidores. Embora acostumado a enfrentar situações polêmicas, por essa ele não esperava. Antes mesmo de iniciar sua participação já havia dezenas de milhares de dislikes. Ou seja, não vi e não gostei.

O resultado foi assombroso. Cerca de 185 mil dislikes. Sem considerar que deve ter havido algum problema nessa contagem, pois deu a impressão de que por alguma questão técnica, sem explicação plausível, os números caíram consideravelmente em pouquíssimo tempo. Portanto, não seria exagero supor que essa conta tenha sido maior.

Esse é outro ponto que precisa ser analisado. Usando uma linguagem afeita ao youtuber, política parece não ser a praia de Felipe Neto. As pessoas julgaram que ele não teria autoridade para tratar desse tema. Alguns poderão dizer que foram os apoiadores de Bolsonaro que fizeram campanha para essa chuva de dislikes. Se isso fosse verdade, onde estavam os seguidores dele, por que não foram apoiá-lo? Os likes chegaram só a 20 mil. Uma enorme desproporção.

Mesmo com toda a experiência do youtuber foi possível ver sua cara de espanto ao notar a enxurrada de pessoas demonstrando contrariedade. Nesse caso, como seus números são astronômicos, provavelmente sua carreira não será afetada por esse episódio.

Todos nós estamos sujeitos

E nós, pobres mortais? Pois é, cada um com o seu tamanho. Se, especialmente nas redes sociais, nos expressarmos de maneira inconveniente, poderemos amargar consequências imprevisíveis. Se não formos famosos, provavelmente ninguém se dará ao trabalho de mover uma campanha difamatória contra nós.

Não nos esqueçamos, entretanto, que temos o círculo de relacionamento social e profissional. E isso conta muito na nossa vida. Talvez não tenhamos ninguém nos cancelando nas mídias sociais, mas teremos nossa reputação afetada diante dos olhos de quem nos interessa.

Um conselho que damos aos jovens que passam pela ONG Via de Acesso, que tenho a honra de presidir: cuidado com o que você posta em suas redes sociais. Essas informações ficarão sempre perambulando pela internet. Se não agir de forma correta, poderá ser admitido pela competência, mas correrá o risco de ser demitido pelo Facebook.

Portanto, não importa quem você seja - um estudante, uma famosa personalidade, um profissional liberal, um empregado, um político - pense duas vezes antes de falar e, ainda mais, antes de postar. Faça a você mesmo esta pergunta: se esta postagem cair nas mãos de pessoas importantes no meu relacionamento, poderei ser prejudicado? Se a resposta for sim, ou pelo menos não sei, não poste.

Superdicas da semana

  • Se tiver dúvida sobre as consequências de uma postagem, não poste
  • Se cometer algum erro, não fuja. Enfrente e se desculpe
  • Não faça brincadeiras com questões polêmicas, pois poderão ser tomadas ao pé da letra
  • Seja prudente antes de dar opiniões desnecessárias
  • Não deixe de dar opiniões por medo. Seria terrível se tivesse que se autocancelar

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Superdicas para escrever uma redação nota 1.000 no ENEM", "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.

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