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Reinaldo Polito

Quem fala melhor: os homens ou as mulheres?

Colunista do UOL

01/09/2020 04h00

Aquele que conheceu apenas uma mulher, e a amou, sabe mais de mulheres do que aquele que conheceu mil.
Tolstói

Alguns questionamentos são recorrentes e perenes. Desde que comecei a ministrar cursos de oratória há 45 anos, respondo a seguinte indagação: quem fala melhor, o homem ou a mulher? Nessas décadas todas, a resposta tem sido a mesma: há homens que se expressam maravilhosamente bem, e mulheres que possuem capacidade de comunicação excepcional.

No início das minhas atividades, poucas mulheres frequentavam o nosso curso. Quando o número de mulheres era elevado, não ultrapassava 5% do total de alunos. Eu e o professor Jairo Del Santo Jorge, que durante muitos anos me acompanhou nesse trabalho, percebíamos que as salas em que havia um percentual mais elevado de mulheres o ambiente ficava mais animado. Os alunos interagiam mais.

Por isso, o Jairo teve uma boa ideia. Ele vasculhava as revistas de negócios à procura de mulheres que se destacavam na vida corporativa. Assim que encontrava aquelas que mereciam matérias relevantes, entrava em contato e oferecia o curso gratuitamente. Tivemos inúmeras alunas que frequentaram o curso por causa desses convites.

Mais mulheres falam em público

Tudo mudou. Hoje, quase sempre temos mais mulheres que homens frequentando as aulas. Em tom de brincadeira, o Jairo já comentou comigo que daqui a pouco vamos ter de convidar alguns homens para frequentar o curso gratuitamente, a exemplo do que fazíamos com as mulheres lá nos anos 1980.

Só como exemplo, nos cursos de pós-graduação em Gestão Corporativa que ministramos na ECA-USP, entre 30 alunos chegamos a ter no grupo apenas um homem, no máximo três. E essa história tem sido frequente ao longo dos últimos anos. Também em tom de brincadeira, cheguei a perguntar à coordenadora do curso se um dos requisitos para frequentar essa pós-graduação era ser mulher.

Não há distinções significativas na qualidade da comunicação pelo fato de se tratar de orador ou oradora. Encontramos muitas diferenças na característica de comunicação dos homens e das mulheres. Da mesma forma como identificamos diferenças entre os gêneros em praticamente todas as atividades. Não quer dizer, entretanto, que um deles tenha mais ou menos competência para falar em público. Apenas são distintos.

Por que, então, precisamos saber quais são essas características distintas na comunicação entre homens e mulheres? Considerando os vários motivos que poderíamos relacionar, um é de fundamental importância: adaptar a forma de transmitir a mensagem quando estamos diante de um público predominantemente masculino ou feminino. Esses aspectos que diferenciam os homens e as mulheres quando falam também podem ser levados em conta quando ouvem.

Diferenças entre homens e mulheres

As mulheres possuem mais variações no tom da voz que os homens. Essa diferença permite que elas se apresentem com ritmo mais expressivo e consigam, por isso, em certas circunstâncias, ser mais envolventes. Por outro lado, a característica da voz masculina, com um número menor de tons, pode passar ideia, em certas situações, de maior objetividade.

Outro aspecto a ser considerado é o fato de falarmos diante de um público de maioria feminina ou masculina. O homem se envolve com a mensagem mais direta, com a fala mais objetiva, com os argumentos mais concretos. Enquanto que as mulheres preferem explicações mais abrangentes, com falas mais elaboradas, aceitando até pensamentos mais abstratos.

Embora essas diferenças existam, sempre será possível encontrar homens que na comunicação se comportam e reagem com perfil semelhante ao feminino, assim como podemos nos deparar com mulheres que se comunicam, falando ou ouvindo, com características semelhantes às masculinas. Por isso, é importante avaliar sempre a reação dos ouvintes para nos certificarmos se não houve algum equívoco nas nossas suposições durante a fase de planejamento.

A expressão corporal

Outra característica que distingue os homens das mulheres é a expressão corporal. Enquanto, de maneira geral, os homens usam gestos mais largos e abrangentes, as mulheres mantêm os braços e as mãos próximos do corpo. Por exemplo, é recomendável que os homens façam gestos com o movimento partindo do ombro, deixando os cotovelos levemente afastados do corpo; as mulheres, todavia, quase sempre, não precisam necessariamente seguir essa recomendação. A não ser nos casos em que fique evidente que elas usam essa postura mais restrita por desconforto ou inibição.

Outro aspecto bastante diverso, na maioria dos casos, é que as mulheres se comunicam com semblante mais expressivo, tanto na maneira de sorrir quanto no contato visual. Os homens, via de regra, são mais contidos. Como em ambas as situações o que conta é a espontaneidade, o resultado tanto de um quanto de outro é o mesmo.

Também, é comum ouvir a pergunta, especialmente das mulheres, sobre o posicionamento das pernas. Querem saber se o fato de as deixar cruzadas pode passar a ideia de insegurança. Também nesse caso, tudo dependerá da forma como se posicionam. Se cruzarem as penas normalmente, sem demonstrar que estão tentando se defender, sem problema. A tendência é que as oradoras cruzem mais as pernas que os homens.

Tendo em vista todas essas questões, é interessante ressaltar também que em todos os casos, como os homens usam gestos mais soltos, ao retornarem à posição de apoio, se mostram mais livres e relaxados. As mulheres, pelo que foi comentado, se apresentam mais contidas nessa volta ao apoio. Repetindo sempre que não são esses detalhes de comportamento que mostrarão se um tem mais qualidade que o outro para se expressar.

Mais mulheres sobem na hierarquia

A constatação que fizemos nos últimos anos é que, com o número crescente de mulheres nas posições mais importantes nas organizações, elas foram obrigadas a se apresentar em público com mais frequência. Com essa prática, se existia algum tipo de diferença, agora deixou de existir.

Uma informação que ajuda a confirmar essa afirmação é que nas redes sociais do nosso curso os seguidores se dividem: 50% são homens e a outra metade é de mulheres. O que indica o mesmo interesse no aprendizado e desenvolvimento da comunicação.

Tanto homens quanto mulheres quando estudam, praticam e se aplicam na arte de falar em público conseguem resultados admiráveis. O importante é que se apresentem com segurança, forte personalidade, correção e competência.

Superdicas da semana

  • Homens e mulheres têm a mesma capacidade de comunicação
  • Os homens são geralmente mais expansivos com os gestos que as mulheres
  • A maneira de falar exige adaptações quando o público é feminino ou masculino
  • O ritmo da mulher é mais expressivo devido a maior variação no tom da voz

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Superdicas para escrever uma redação nota 1.000 no ENEM", "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.

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