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Reinaldo Polito

Viés ideológico afeta sua visão da pandemia; tente ser isento

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médicos Imagem: iStock

Colunista do UOL

13/04/2021 04h00

É necessário que ao menos uma vez você duvide, tanto quanto possível, de todas as coisas.
René Descartes

Afinal, quem está com a razão? Há pouco mais de um ano estamos acompanhando as discussões sobre a pandemia. Desde o princípio, o assunto foi politizado. Como o tema mexe, indistintamente, com todas as pessoas, os políticos sabem que podem aproveitar a onda para se projetar. Se não por outros motivos, pelo fato de as eleições estarem à nossa porta.

Dessa forma, os seguidores de uma ou outra ideologia se apegam às teorias defendidas por aqueles que compactuam com suas ideias, independentemente até do embasamento científico. O que é lamentável, já que está em jogo a vida de centenas de milhares de pessoas, ou até de milhões, dependendo do universo medido.

A opinião dos "especialistas"

Para embasar sua maneira de pensar, alguns políticos e boa parte da mídia se valem das opiniões dos "especialistas". Ocorre que há divisão nas teses também entre aqueles que avaliam cientificamente a matéria. E, a maioria, com poucos cuidados, emprestam suas opiniões a um ou outro lado. Pior, quem tenta ser moderado em suas análises chega a ser taxado de "isentão", assim, bem no sentido pejorativo.

Para chegar às conclusões pretendidas, os defensores de uma ou outra causa apoiam seus argumentos nos exemplos, nas comparações, nas pesquisas, nos estudos científicos, nas teses, nos testemunhos. E, quase sempre, buscam o tipo de argumentação que mais lhes convém. E, sem exagero, podemos dizer que há argumentos para todos os gostos.

A lógica da indução e da dedução

Há situações em que recorrem à indução ou à dedução, dependendo de seus objetivos. Por exemplo, valem-se da indução quando desejam afirmar os bons resultados alcançados pela adoção ou não do isolamento em alguma localidade. Assim a "cidade utópica" conseguiu excelentes resultados com o confinamento total de seus habitantes.

Por outro lado, aqueles que desejam mais liberdade de ações das pessoas, pegam exemplos distintos de outra localidade, dizendo que com a abertura os índices de contaminação e óbitos despencaram. Dessa forma, em ambos os casos, partem do particular para o geral. Isto é, se funcionou no caso específico, também poderia ser aplicado no todo.

Há ocasiões, também, em que partem do geral para o particular. Por exemplo, dizem que certas medidas com as quais concordam foram adotadas em regiões ou países com resultados excepcionais. Ora, se deu certo no geral, também resolveria para o particular.

A credibilidade de quem fala

Dependendo da credibilidade de quem faça essas afirmações, ou da simpatia que sua tendência política possa despertar, as pessoas tenderão a aceitar ou não os resultados como verdadeiros. A partir daí, se transformam em "caçadores" de exemplos para ajudar na confirmação ou na rejeição das provas.

Para o sucesso de uma ou outra tese, vale a credibilidade do orador. Como diz Aristóteles, na "Arte retórica":

Obtém-se a persuasão por efeito do caráter moral, quando o discurso procede de maneira que deixa a impressão de o orador ser digno de confiança. As pessoas de bem inspiram confiança mais eficazmente e mais rapidamente em todos os assuntos, de um modo geral; mas nas questões em que não há possibilidade de obter certeza e que se prestam a dúvida, essa confiança reveste particular importância.

Os medicamentos

Outra batalha é travada também no uso dos medicamentos alternativos. Coincidentemente, quase todos aqueles que pregam apenas o isolamento seletivo, isto é, para os mais idosos e para os portadores de comorbidades, recomendam certas drogas - ainda que não tenham comprovação científica.

Já os que defendem o isolamento total, o lockdown, são visceralmente contra o uso de qualquer medicamento que não seja avalizado pela ciência. Não só não recomendam, como chegam a contraindicar -ainda que algumas associações médicas digam que, se o médico julgar conveniente, as drogas poderão ser administradas.

Depois da experiência pessoal

O mais curioso é que se descobriu posteriormente que alguns dos que são contra o medicamento, quando foram acometidos pela doença, furtivamente pediram aos seus médicos que lhes prescrevessem o remédio que tanto combatiam. Pelo sim, pelo não, como não havia nada a fazer além de esperar o ciclo da doença expirar, recorreram ao que existia.

Da mesma forma, muitos daqueles que pregam a liberdade de as pessoas continuarem trabalhando normalmente, quando alguém da família, ou algum amigo próximo é atacado pelo vírus, passam a recomendar desesperadamente que todos continuem em casa.

O progresso da ciência

Na verdade, desde a época do aparecimento da covid-19 em Wuhan, na China, até os dias atuais, os cientistas aprenderam muito sobre a doença e os procedimentos para combatê-la. Entretanto, por mais bem informados que estejam, os conhecimentos ainda são bastante limitados.

Por todos esses motivos, defender um lado ou outro apenas por razões ideológicas não parece ser um comportamento muito sensato. A solução do problema afeta a todos nós. Torcer para que uma ou outra ação dê ou não resultado apenas para satisfazer tendências políticas é do que menos precisamos para a nossa tranquilidade.

Um bom caminho é o de ouvirmos todos os especialistas, das mais diferentes tendências, e avaliar, dentro da nossa interpretação isenta, como deveremos agir. Tomara que possamos encontrar rapidamente a solução definitiva para esse mal que tanto nos aflige, sem paixões descabidas.

Superdicas da semana

  • Podemos argumentar por indução ou dedução
  • A indução parte de particular para o geral
  • A dedução parte do geral para o particular
  • Analisar os dois lados da questão ajuda a chegar às melhores conclusões

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Comunicação a distância", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo", "Oratória para advogados", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Assim é que se Fala", e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.

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