Analistas criticam resultado da economia fazendo projeção de "desmelhora"
A estatística é a primeira das ciências inexatas.
Edmond e Jules Goncourt
Apresentar dados tem sido um dos capítulos mais estudados pela ciência da comunicação. Os números em si pouco podem esclarecer. Precisam ser analisados à luz de estudos que apontem as verdades nem sempre visíveis no valor de face.
Temos de considerar também os interesses políticos envolvidos, pois como devem levar em conta as interpretações, cada um acaba, em determinadas circunstâncias, por estimar o resultado que lhe seja mais conveniente. Por isso, é prudente olhar sempre o que pode estar camuflado por trás de cada avaliação.
Motivo de comemoração
Imaginei que veria fogos de artifício nos céus do país para comemorar o crescimento de 4,6% do PIB. Os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na última sexta, dia 4, retomam os resultados da época pré-pandemia e mostram o acerto das políticas econômicas implementadas. Não vi, entretanto, muito entusiasmo com essa divulgação.
Dois senões foram destacados pelos pessimistas: a primeira fragilidade apontada foi o crescimento desigual dos diversos setores, especialmente da agropecuária, que sofreu uma redução de 0,2%. A segunda foi o vislumbre de um futuro desastroso que ainda teremos de enfrentar. Com esses dois indicadores tentaram desvalorizar qualquer resultado positivo que pudesse ter sido apresentado.
Resposta ao primeiro senão
No primeiro caso, o fato de ter um crescimento do PIB de 4,6%, ainda que a agropecuária tenha sofrido um rebate por causa do clima adverso, pode ser observado até como resultado alvissareiro.
Se o carro-chefe da nossa economia não colaborou no resultado, considerando que se trata de um setor robusto, muito bem estruturado e respeitado em todo o mundo pela eficiência, são praticamente certas as chances de recuperação. Assim o campo poderá encorpar ainda mais o nosso PIB.
Resposta ao segundo senão
No segundo caso, supor que a reação da economia deverá perder força nos próximos tempos é, na verdade, um exercício de futurologia que se apoia apenas em premissas negativas. Revire as páginas da nossa história. Analise os prognósticos feitos pelos "sábios economistas". E tente encontrar meia dúzia de acertos em suas previsões.
Para chegar a essa conclusão, os estudiosos incluíram no pacote o que havia de pior, como, por exemplo, juros elevados, inflação persistente e as desastrosas consequências da guerra entre Rússia e Ucrânia. Só faltou acrescentarem o surgimento de uma nova cepa do Coronavírus.
Futuro nebuloso
Alguns economistas traçam previsões desalentadoras. Afirmam, por exemplo, que vivemos uma das mais profundas crises já experimentadas. E justificam a derrocada que se avizinha a partir de um mercado de trabalho precarizado, altos índices de desemprego e quadro de famílias endividadas.
Todos esses dados são expostos com "racionalidade cristalina", como se não tivéssemos superado a maior pandemia da história mundial e herdado uma economia que foi estraçalhada nas gestões anteriores. Sem contar que o endividamento das pessoas teve origem na política suicida de desenvolvimento econômico a partir da concessão de crédito a quem não podia pagar.
Podemos pegar como exemplo os mais de um milhão de estudantes que tiveram suas dívidas praticamente perdoadas pelo governo de turno, tendo em vista que para essa garotada o compromisso era impagável. Fizeram péssimas faculdades, saíram dos bancos escolares despreparados e endividados. Colocar esse comboio nos trilhos leva um tempinho. Os resultados demonstram que a locomotiva já está no caminho.
Ceteris paribus
Também sou economista e falo sem constrangimento - quase todas as análises são feitas "ceteris paribus". Ora, fazer afirmações levando em conta que todos os fatores atuais serão mantidos, é olhar a realidade com estreiteza. A Mãe Dináh deve estar rindo sozinha.
As previsões acabam por se transformar em achismos. No futuro, com resultados diversos daqueles imaginados, como justificativa, bastará que apontem as mudanças ocorridas nos fatores utilizados nos estudos equivocados. Desculpem, me enganei. E vida que segue.
Futuro promissor
E mais, mesmo que Paulo Guedes seja detestável aos olhos de quem fez as suposições desfavoráveis, a equipe econômica tem se mostrado competente. Pode, às vezes, não apresentar planos que vão ao encontro de certas posições ideológicas, mas que são profissionais bem-preparados ninguém pode negar.
Por isso, dá para comemorar sim os resultados da nossa economia. E já que estamos falando em futuro, que tal fazermos uma análise que parta dos bons resultados atuais e "ceteris paribus" prever um amanhã de crescimento e prosperidade? Se não chegarmos a dados que mostrem "despiora", pelo menos não sofreremos com a indicação de "desmelhora".
Superdicas da semana
- Dados estatísticos às vezes são interpretados com lentes ideológicas
- A conclusão dependerá sempre das premissas estabelecidas
- Premissas incorretas levam a conclusões equivocadas
- Ver o lado positivo ou negativo depende quase sempre de vontade política
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como falar corretamente e sem inibições", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo", "Saiba dizer não sem magoar as pessoas" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.
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