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Reinaldo Polito

Lulistas e bolsonaristas chegam ao segundo turno com gosto de derrota

Bolsonaro e Lula no segundo turno - Reprodução/Globo
Bolsonaro e Lula no segundo turno Imagem: Reprodução/Globo

Colunista do UOL

04/10/2022 04h00

Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
Machado de Assis

A maioria dos brasileiros acordou no domingo experimentando uma ansiedade poucas vezes sentida. Afinal, ninguém sabia qual seria o resultado das eleições. Como temos audição seletiva, ouvimos o que beneficia o candidato da nossa predileção e, evidentemente, o que contraria o político adversário.

Ainda que houvesse uma pulga atrás da orelha, os bolsonaristas se apoiavam nas monstruosas manifestações pelas ruas em todos os cantos do país. Por outro lado, os petistas tinham a seu favor os expressivos números das pesquisas, que indicavam forte possibilidade de vitória já no primeiro turno.

Grande ansiedade

Cada eleitor se dirigiu ao local de votação com a esperança de que o seu voto pudesse fazer enorme diferença. E não estava errado, pois a soma de todas essas iniciativas é que garante a eleição. As filas nas urnas de votação foi uma surpresa desagradável. Muitos levaram até duas horas para votar, e, em certos casos, até mais. Com tanta tecnologia disponível, esse transtorno foi meio incompreensível.

Depois do almoço, cada um escolheu o melhor lugar para aguardar as apurações. Uns se juntaram à família diante da televisão, outros acompanharam pelo celular, ou pelo rádio. À medida que se aproximava das 17h, horário determinado para o fechamento das urnas, o coração acelerava, batia cada vez mais forte.

Até o último minuto

Foi uma situação parecida com aquela vivenciada na época da Copa do Mundo. A cada instante, lentamente, muito mais devagar do que a paciência suportava, os resultados foram surgindo. E o sofrimento durou até o último minuto do segundo tempo. Bolsonaro começou na frente. Aos poucos, devagarinho, Lula foi se aproximando, até conseguir ultrapassá-lo.

Quando faltavam apenas cerca de 10% das urnas a serem apuradas, havia ainda a possibilidade de que tudo fosse resolvido no primeiro turno. Mesmo Lula estando um pouco à frente, nada impedia que Bolsonaro pudesse receber um vento favorável e tomar a ponta novamente.

Todo mundo nervoso

Foi uma disputa muito acirrada como há muito não se via. Uma competição de tirar o fôlego. Às vezes a atualização, especialmente na última hora, demorava um pouco mais para ser informada. Os nervos, já à flor da pele, davam a impressão de que sairiam totalmente de controle.

Ao ser anunciado que haveria segundo turno, alguns eleitores se sentiram aliviados, pois durante um bom tempo se desesperaram com receio de que o seu candidato pudesse ser derrotado. Outros ficaram frustrados, já que tinham certeza absoluta da vitória. O certo é que uns e outros tiveram de esperar um bom tempo até baixar a adrenalina.

Começa do zero

A partir desta semana tudo volta à estaca zero. O segundo turno é outra eleição. Com essa divisão observada na totalização dos votos, tanto Lula quanto Bolsonaro têm agora as mesmas possibilidades de vitória, até no tempo de televisão. Cada um irá buscar os governadores que venceram, ou foram para o segundo turno. Recorrerão também aos senadores e deputados que se elegeram.

Esses serão os palanques que servirão de apoio para uma campanha curta, de menos de trinta dias, para chegar ao Palácio do Planalto. Ganhar ou perder por diferença de um ponto, ou dez pontos percentuais representa exatamente a mesma vitória ou derrota. Talvez, quando a diferença é mínima, haja um gosto mais amargo pelo fato de ter morrido na praia.

Tudo de novo

Nem vai dar tempo de recuperar o fôlego. Assim que abrirmos os olhos, os dois candidatos já estarão à nossa frente nos horários políticos de rádio e televisão, ou participando de debates. Continuaremos recebendo os memes que ridicularizam o adversário, ou valorizam aquele que apoiamos.

Foi um grande aprendizado tanto nosso quanto dos próprios políticos. Nesses poucos dias, será preciso avaliar quais foram os erros, para que possam ser rapidamente corrigidos. Assim como será necessário analisar também quais foram os acertos para que possam ser ainda mais aprimorados.

Lula e Bolsonaro no embate

Lula, por exemplo, terá chance de se preparar melhor para os possíveis debates, já que deixou a desejar nesses de que participou. No primeiro confronto, não soube se defender das acusações de corrupção. No segundo, não conseguiu manter o equilíbrio diante dos ataques proferidos pelo Padre Kelmon. Nos dois casos, não encontrou meios de combater os equívocos do governo Bolsonaro.

O presidente, por seu lado, se dedicou quase que exclusivamente a atacar os malfeitos de Lula, deixando de valorizar as conquistas da sua gestão. Com os números positivos da economia, essa parece ser a sua melhor linha de argumentação. Se insistir nos ataques, estará agindo da mesma maneira como agiu até aqui, e os resultados não poderão ser diferentes.

No fim, quem ganha é a democracia. Durante o período militar, quando ficamos impedidos de escolher os nossos representantes, clamávamos por eleições diretas. Com muita luta conquistamos esse direito. É o que estamos fazendo agora. Por isso, devemos valorizar os esforços daqueles que se dedicaram a essa causa e exercer com consciência e bastante critério esse direito do voto.

Superdicas da semana

  • O país está dividido, mas esse é o resultado do exercício da democracia
  • Jamais podemos perder a consciência de que existe vida além da nossa bolha
  • É prudente ter à nossa volta alguém que aponte os nossos erros
  • Os erros são úteis quando nos educam

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como falar corretamente e sem inibições", "Assim é que se fala", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.