O grande perigo da tecnologia é implantar no homem a convicção de que é onipotente, impedindo-o de ver sua imensa fragilidade.
Hermógenes
Você já ouviu falar no ChatGPT? Se esse nome estiver soando como novidade, se prepare porque ele estará cada dia mais presente na sua vida. É um chatbot desenvolvido pela OpenAI capaz de solucionar problemas e escrever textos com qualidade muitas vezes superior aos redigidos pelos humanos.
E não só. Essa engenhoca vai além das fronteiras que delimitam a arte de escrever. O programa faz pesquisa para identificar informações que servem de subsídios à confecção do texto, esclarece conceitos de alta complexidade e depois, para fechar o pacote, redige mensagens completas, com começo, meio e fim, se valendo de frases objetivas e claras.
Prós e contras
Tudo de bom, certo? Sim e não. Deduzir quais são os benefícios de um recurso como esse é fácil. Se você precisar, por exemplo, em cima da hora, fazer um discurso de inauguração, de despedida, de homenagem, ou para saudar aniversariantes, noivos, aposentados, é só pedir que ele faz em segundos. E muito bem feito. No máximo você dá uma ajeitada para ficar com a sua cara.
As universidades americanas, por outro lado, estão com o cabelo em pé. A cada dia descobrem que alunos folgados deixam de pôr a mão na massa para fazer os trabalhos escolares, pois contam agora com a inestimável ajuda do ChatGPT. A "turma do fundão" diz o que deseja e o texto sai da máquina pronto e acabado. Merecendo nota A com louvor.
Aí tem
Num primeiro momento os docentes descobriam pelo olhômetro que as tarefas haviam sido plagiadas. Quando o texto era bom demais, diferenciado, impecável, passaram a pensar, aí tem. Escarafunchavam daqui e dali e descobriam que do aluno só tinha mesmo a assinatura. Era a sofisticação do Ctrl C - Ctrl V.
O passo seguinte para evitar essas falcatruas foi reduzir o número de trabalhos caseiros. Começaram a exigir que os textos fossem elaborados na própria sala de aula. Pelo menos o rascunho deles. Depois de finalizados, se as diferenças fossem gritantes, o aluno precisaria explicar os motivos das modificações. Se não fossem convincentes, eram desconsiderados.
Apagando incêndio
Outras soluções emergenciais foram a exigência de as redações serem feitas à mão, longe dos teclados. Aumento no número de apresentações orais, sem chance de a máquina passar a cola. E mais trabalhos em grupo. Tudo paliativo. Não dá para o sistema de ensino voltar aos tempos das cavernas em época de tanto avanço tecnológico.
Certas universidades adotaram medidas mais rigorosas. Proibiram o uso desses programas nos computadores da instituição de ensino e o bloqueio deles nas redes de Wi-Fi. Só que com essa garotada esperta, iniciativas limitadoras não passam da página dois. Em pouco tempo os alunos descobrem caminhos para burlar essas restrições.
Antídotos
Como resolver? Se ficar o bicho come, se fugir o bicho pega. Surgem os antídotos desenvolvidos pelas mesmas empresas que inventaram o monstro indomável. Por exemplo, um programa denominado GPTZero, que pode instantaneamente identificar se um texto foi elaborado por IA generativa, inteligência artificial.
Até o serviço que identifica plágios, Turnitin, entrou na dança. Já está incorporando ferramentas mais eficientes para detectar a presença de IA, especialmente do ChatGPT. Parece que todos os soldados foram convocados para participar dessa batalha.
Investimento pesado
A cada porta fechada, todavia, dezenas de outras se abrem. Temos de levar em conta que esse processo está só engatinhando, é um bebê de poucos meses. Tanto assim que no meio desse reboliço todo os críticos apontam que mesmo o ChatGPT sendo um espanto, ainda comete erros. Mostra conceitos equivocados e indica fontes imprecisas.
Logo, logo, porém, as falhas serão sanadas. Empresas poderosas, como a Microsoft, por exemplo, estão disponibilizando bilhões de dólares para o desenvolvimento de ferramentas mais completas e sofisticadas no processo de IA. Não tem volta.
Melhor incluir
Há também um dado fundamental nessa história. As universidades, que sempre se orgulharam da liberdade acadêmica, se trabalharem para impedir esses avanços, poderiam dar a impressão de que estão contrariando seus próprios princípios. Assim sendo, se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha.
Em vez de combater "os inimigos", vamos nos juntar a eles. Algumas universidades já estão se antecipando diante da irreversibilidade do avanço dessa tecnologia e convocaram todo seu corpo docente para descobrir meios de incluir o ChatGPT e outros mais aperfeiçoados na grade curricular.
Experimente
Querem que os alunos aprendam a usar com inteligência e de maneira adequada esse recurso em sua vida. Sabem que no dia a dia o domínio dessa ferramenta será uma exigência não apenas para aqueles que permanecerem na academia, mas também nas mais diferentes atividades profissionais.
Bora pesquisar no site da OpenAI (openai.com). Desça com a rolagem até "Try ChatGPT". Fácil, útil e muito divertido. Já tenho usado. Interessante, mas precisa melhorar muito. De vez em quando fornece informações limitadas e imprecisas. Impressiona, contudo, a qualidade de algumas redações.
Superdicas da semana
- As novidades podem enfrentar resistências
- Quase todas as grandes invenções, no início, não foram bem recebidas
- Se o inimigo for invencível, por um bem maior, junte-se a ele
- A tecnologia deve estar sempre a serviço do homem, não o contrário
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Oratória para líderes religiosos", publicado pela editora Planeta. "Superdicas para escrever uma redação nota 1.000 no ENEM", "Como Falar Corretamente e sem Inibições", "Comunicação a distância", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante.
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