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Como Elon Musk confinou operários na China e turbinou a Tesla no lockdown
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Elon Musk é hoje o principal pregador de um dos mais antigos e populares cultos da humanidade - o culto ao trabalho duro. Em mais de uma oportunidade, o bilionário sul-africano já estufou o peito para bradar que sua semana tem até 120 horas dedicadas ao batente.
A verdadeira obsessão de Musk pelo trabalho vem rendendo polêmica atrás de polêmica. No começo do mês, ele bateu de frente com os executivos da Tesla, sua montadora de carros elétricos, ao decretar o fim do home office permanente e exigir o retorno aos escritórios por um mínimo (ressalte-se) de 40 horas semanais.
Na semana passada, uma carta aberta divulgada por funcionários da SpaceX, a divisão espacial do conglomerado tecnológico, trouxe críticas ao comportamento tóxico de seu CEO. Até denúncias de assédio sexual, negadas por Musk, foram jogadas no ventilador. De lá para cá, ao menos cinco pessoas envolvidas no protesto foram demitidas.
Mas essas confusões soam como conto da carochinha quando comparadas à empreitada digna do seriado distópico Black Mirror a que Musk submeteu os operários da fábrica da Tesla em Xangai, na China. As informações são da agência internacional Bloomberg.
Depois de três semanas de lockdown em abril impostas pelo governo para estancar o avanço da pandemia, Musk resolveu tirar do papel um projeto batizado de "circuito fechado" para acelerar a produção de carros na unidade, com cerca de 10 mil funcionários.
Por cerca de um mês, os operários foram mantidos em uma bolha - sem contato com o mundo exterior - e submetidos regularmente a testes de covid. Hospedados em alojamentos improvisados às pressas em campos militares desativados, os trabalhadores faziam até revezamento de camas, de acordo com seus turnos - que tinham duração de até 12 horas.
O circuito fechado de Musk praticamente triplicou a produção de maio em relação à de abril. De acordo com dados de uma associação chinesa de montadoras, foram concluídos exatos 33.544 veículos de dois modelos da Tesla.
No entanto, os números ainda ficam bastante aquém do ritmo pré-lockdown. Normalmente, a planta de Xangai funciona sete dias por semana, 24 horas por dia, em três turnos de oito horas. A operação ininterrupta permitia uma produção diária de mais de duas mil unidades.
O plano da Tesla, reporta a Bloomberg, é encerrar o circuito fechado agora em junho. Semanas atrás, com a desaceleração da pandemia, a primeira leva de operários confinados recebeu autorização para enfim deixar a bolha e visitar suas famílias - por quatro dias.
Não é à toa que Musk escolheu Xangai para erguer a fábrica da Tesla. Além de contar com um impressionante know-how tecnológico acumulado ao longo de décadas, a China também é conhecida pelo culto ao trabalho duro.
Tanto é assim que outro peso-pesado do mundo dos negócios - Jack Ma, fundador do e-commerce Alibaba - é um ferrenho entusiasta do regime chinês 9-9-6: a jornada que se estende das 9 da manhã às 9 da noite, seis dias por semana.
Até existe uma geração de jovens na segunda maior economia do mundo que vem repensando essa relação sufocante com o trabalho. Popular entre estudantes universitários nas redes sociais, o movimento Tangping esboça um protesto inocente ao estimular a postagem de fotos de pessoas deitadas, sem fazer nada.
Porém, o grosso da classe trabalhadora chinesa ainda vive sob a lógica do trabalho a qualquer custo. Até porque a concorrência dos vizinhos, como o Vietnã, não dá trégua. Homem mais rico do mundo, Elon Musk agradece.
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