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Carlos Juliano Barros

REPORTAGEM

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MPT critica comissão do Senado por votar 'PL do Veneno' durante a Copa

29/11/2022 04h00

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Nesta terça-feira, com as atenções dominadas pela Copa do Mundo, a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado realiza uma sessão extraordinária que tem como pauta única a votação do relatório sobre o Projeto de Lei 1459/2022 — um dos mais polêmicos da atual legislatura.

Defendido pela bancada ruralista, mas apelidado de "PL do Veneno" pelos críticos, o texto altera praticamente toda a atual regulamentação sobre agrotóxicos no país. As propostas versam sobre pesquisa, registro, comercialização e transporte desses produtos.

A sessão é alvo de contestações por ser entendida como uma manobra para acelerar a aprovação do PL antes do fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro. Em tese, se for aprovado na comissão de agricultura, o projeto poderá ser votado por todos os senadores, no plenário.

No entanto, o Ministério Público do Trabalho (MPT) defende que o texto também seja debatido nas comissões de saúde e do meio ambiente, antes de ir ao plenário. "Estamos reclamando da falta de discussão e de contraponto", afirma Leomar Daroncho, procurador do MPT.

Segundo Daroncho, o relatório do senador Acir Gurgacz (PDT-RO) não leva em conta os alertas de uma série de pesquisadores sobre os impactos que a eventual aprovação do PL pode causar à natureza e à integridade física de consumidores e trabalhadores.

Em junho, técnicos da Organização das Nações Unidas (ONU) já haviam publicado uma recomendação contrária ao projeto de lei, depois de a matéria ter sido aprovada na Câmara dos Deputados.

O senador Gurgacz rebate as críticas. "É um projeto bom para o Brasil, para a modernização de nossa agricultura, com segurança ambiental e cuidados com a saúde humana. O que não podemos mais fazer é ficar arrumando desculpas para não votar", argumenta o parlamentar em nota enviada à coluna.

Aprovação acelerada de agrotóxicos

Os defensores do PL afirmam que a discussão se arrasta há mais de duas décadas no Congresso Nacional e que, uma vez aprovado, o projeto vai desburocratizar a aprovação de agrotóxicos mais modernos.

"Muito pior é manter a legislação como está, permitindo que pesticidas ultrapassados e nocivos à saúde e ao meio ambiente permaneçam em uso", argumenta o senador Gurgacz.

Por outro lado, o MPT aponta uma série de problemas na redação do PL. Um dos mais graves, segundo o órgão federal, é concentrar a decisão final sobre a aprovação de agrotóxicos nas mãos do Ministério da Agricultura.

Já os órgãos técnicos da saúde e do meio ambiente, ao contrário da atual legislação, teriam um papel secundário no processo.

Além disso, o PL cria uma autorização temporária para o uso de agrotóxicos ainda não usados no país, caso os fabricantes atendam aos requisitos da lei e os órgãos competentes deixem de emitir um parecer no período determinados pelas novas regras.

"Ou seja, passa a ser de interesse do setor econômico o desmantelamento dos órgãos de análise, pois se não forem cumpridos os prazos estipulados para a conclusão da análise, que vão de 30 dias a 2 anos, teremos a inusitada autorização tácita, por decurso de prazo", critica o procurador Leomar Daroncho.

Permissão para exportar agrotóxicos perigosos

O MPT também cita como outro problema grave do PL o artigo 17, que dispensa o registro de pesticidas destinados exclusivamente à exportação. "É de se supor que se refira a pesticidas com risco inaceitável no Brasil, pois do contrário seriam registrados", explica Daroncho.

Na avaliação do procurador, a falta de controle pode expor trabalhadores e comunidades nos entornos das fábricas a riscos de saúde desconhecidos.

Além disso, o transporte inadequado desses produtos tem potencial para contaminar rios e mananciais com substâncias altamente nocivas.

"Esse PL não é de interesse da agricultura brasileira, mas da indústria química, que consegue vender aqui produtos que não vendem mais em outros lugares", critica Daroncho.

"A longo prazo, inclusive, a aprovação desse projeto pode ser nociva pra economia brasileira. Podemos ser vítimas de retaliação por parte de países que compram nossas commodities", finaliza o procurador do MPT.