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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Centenário Credit Suisse é bola da vez; nova crise global a caminho?

15/03/2023 12h15

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Mercados de ações na Europa operam em forte baixa nesta quarta-feira (15). Os pregões das bolsas europeias registram recuos em torno de 3%, com papéis de bancos puxando os índices para baixo.

Nos Estados Unidos, as bolsas também abriram em baixa de 1,5%. Em sua abertura, a Bolsa brasileira acompanha o recuo das cotações nos Estados Unidos e Europa.

Apesar do nervosismo que toma conta dos mercados ao redor do mundo, principalmente no setor de bancos, a crise atual ainda não ganhou contornos que a assemelhem ao ocorrido em 2008. Os problemas não parecem derivar de perdas dos investidores com aplicações arriscadas e sem lastros, como há pouco menos de uma década e meia.

Crise ainda não é global, mas há riscos

As instabilidades atuais parecem ainda se concentrar em instituições específicas, com problemas de gestão. É uma crise de confiança, caracterizada por corridas aos depósitos mantidos nessas instituições, que acabam acelerando sua insolvência.

Prova disso é que, depois da quebra do SVR (Silicon Valley Bank) e do Signature Bank, nos Estados Unidos, os grandes bancos americanos — JP Morgan, Bank of America, Citi, Wells Fargo — estão recebendo imensos volumes de depósitos retirados de bancos menores. Os mercados de ativos refletiram essa movimentação com forte alta na terça-feira.

Perdas fortes em ações de bancos

Os ganhos de ontem já foram dissolvidos pelas perdas desta quarta-feira. Apesar de restrito a um segmento, o de bancos, e com maior intensidade em instituições já sabidamente problemáticas, é impossível prever se a contaminação vai ser estancada ou acabará afetando toda a economia global, como há quase 15 anos, na esteira da quebra do banco de investimentos Lehmann Brothers.

O mais afetado agora é justamente o centenário Credit Suisse, cujas ações caem 30%, depois da suspensão temporária das negociações com as ações. O banco suíço, que abriga e administra grandes fortunas, enfrenta dificuldades, turbulências e perdas. A derrubada vem na esteira das declarações de seu maior acionista, o Saudi National Bank, de que não forneceria recursos para cobrir os saques.

Mas também as ações de outros grandes bancos europeus apresentavam perdas fortes. As dos franceses Société Générale e BNP Paribas recuavam 10%, enquanto as do alemão Deustche Bank e do britânico Barclays caíam 8%.

O Credit Suisse era a bola da vez esperada porque faz tempo apresenta problemas. As ações do banco já tinham sofrido em fevereiro, quando foram divulgados os resultados de 2022. No ano passado, o banco teve o pior resultado desde 2008.

Já no ano passado as ações do Credit Suisse perderam 15% de seu valor. O plano de recuperação anunciado em outubro, com o objetivo de reduzir o tamanho da instituição e concentrar negócios no segmento de alta renda, em que é especializado, não tem conseguido avançar na velocidade necessária.