Senado avalia prorrogação de subsídio a painel solar que eleva conta de luz
Aprovado pela Câmara dos Deputados no final do ano passado, o projeto de lei que amplia o prazo para acesso aos subsídios para geração distribuída de energia renovável (PL 2703/2022) avança no Senado, apesar dos alertas feitos pelas distribuidoras e pelas associações de consumidores de que esses incentivos às fontes renováveis serão bancados pelos demais consumidores de luz.
Se for aprovado, o projeto colocará mais uma camada de custos na energia dos brasileiros. Em função de iniciativas como esta (política de subsídios que pode não trazer benefícios coletivos), além de outros motivos (impostos, taxas, escassez hídrica), a conta de luz no Brasil quadruplicou nos últimos vinte anos, se tornando uma das mais caras do mundo, embora a nossa renda média não esteja entre as mais altas.
Essa equação, energia cara e renda baixa, deixa a lógica do subsídio mais complexa, pois o peso da conta de luz na vida das famílias é maior. Segundo a Frente Nacional dos Consumidores de Energia, o projeto de lei que está sendo discutido no Senado, de incentivos à geração distribuída (GD), irá beneficiar 2,1 milhões de consumidores (uma estimativa do número dos produtores da geração distribuída já beneficiados), mas o custo será dividido pelos 200 milhões de consumidores de energia elétrica (89 milhões de unidades consumidoras).
O projeto pretende restituir o prazo de um benefício que terminou em janeiro deste ano, conforme estava estabelecido no marco legal da geração distribuída (Lei 14.300/22). Associações de energia renovável, favoráveis à aprovação, alegam que atrasos nas ligações deixaram produtores de fora da regras e pediram uma restituição do prazo, que era o centro do projeto de lei aprovado pela Câmara.
Para as associações de consumidores reunidas na Frente Nacional dos Consumidores de Energia, a prorrogação não faz sentido pois os custos de geração de energia limpa caíram consideravelmente nos últimos anos. Sendo competitiva, a GD não precisaria dessa 'ajuda' que onera os demais, na lógica das associações.
Para o relator no Senado, senador Otto Alencar (PSD/BA), o subsídio ainda é importante para a redução do preço da energia renovável pois isso trará benefícios para todos. Pequenos consumidores, especialmente de painéis solares, defenderam a extensão dos subsídios durante a tramitação do projeto de lei na Câmara, alegando que ela é importante para o pequeno consumidor que quer produzir a própria energia e deve ser diferenciada do produtor empresarial.
Para a Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar), o crescimento da geração própria de energia solar deve trazer R$ 86,2 bilhões em benefícios sistêmicos no setor elétrico para a sociedade brasileira na próxima década, barateando a conta de luz de todos os consumidores, inclusive os que não tiverem sistema solar próprio, em 5,6% até 2031.
Já a estimativa feita pela frente dos consumidores é que o projeto como está terá um impacto de R$ 6,8 bilhões por ano nas contas de luz. Como os benefícios irão se estender até 2045, a soma do custo aos demais consumidores dá R$ 237 bilhões.
Inicialmente, o projeto era centrado na extensão do prazo de ligação com a regra antiga de subsídios (vigente até janeiro deste ano) para painéis solares, mas foram incluídas outras formas de geração distribuída, como pequenas centrais hidrelétricas (PCH) de até 30 MW (megawatts), e no texto do Senado, novas centrais hidrelétricas de até 50 MW no Centro-Oeste.
Quais são os subsídios?
Quem investiu em geração própria, por meio de um painel solar, por exemplo, e solicitou a ligação à rede de distribuição até janeiro deste ano paga somente pela energia extra que recebe e está isento das tarifas de distribuição, transmissão e encargos setoriais até 2045, apesar de receber energia das geradoras, distribuída e transmitida. O projeto de lei propõe ampliar esse prazo de conexão, mantendo os benefícios vigentes até janeiro deste ano. Quem pediu a conexão após 7 de janeiro não tem os mesmos benefícios, embora ainda tenha redução de tarifas por uma regra de transição.
Caso não estivesse conectado à rede de energia, o consumidor que produz a própria energia teria que ter uma bateria para ter luz à noite. O custo de transmissão e distribuição não pago por quem produz a própria energia é dividido entre os demais consumidores de energia elétrica, maioria dos brasileiros.
Os subsídios para energias renováveis entraram em vigor há dez anos, em 2012, para viabilizar e estimular os investimentos dos consumidores na geração própria, o que no longo prazo interessa ao país por diversificar a matriz energética e ampliar a participação das fontes renováveis. A ideia, no entanto, era que fossem revistos para não gerar desequilíbrios no sistema.
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