Com desgaste de Guedes, dólar passa de R$ 5,61 e Bolsa cai mais de 2%
Com o desgaste de Paulo Guedes no Ministério da Economia durante esta quarta-feira (26), o dólar comercial acelerou a alta a mais de 1,5% e voltou a superar R$ 5,60, enquanto os juros futuros dispararam e a Bolsa caia mais de 2%.
Por volta de 15h40, o dólar comercial subia 1,52%, cotado a R$ 5,611 na venda. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, recuava 2,05%, a 100.027,30 pontos.
Insatisfação de Bolsonaro com o 'Renda Brasil'
A alta do dólar e a queda da Bolsa se intensificaram depois de o presidente Jair Bolsonaro rejeitar publicamente a proposta apresentada pelo Ministério da Economia para criação do programa Renda Brasil. O anúncio aumentou as incertezas do mercado sobre a agenda do governo para as contas públicas e o futuro do ministro Paulo Guedes no cargo.
A proposta de criação do Renda Brasil, que estava no pacote de medidas de aceleração da economia apresentadas ao presidente pelo ministro Paulo Guedes, previa um benefício maior que o valor atual do Bolsa Família. Para financiá-lo, a equipe econômica propôs o corte de outros programas sociais, como o abono salarial, o seguro-defeso e o Farmácia Popular.
Além da rejeição de Bolsonaro à proposta, crescem os ruídos entre Guedes, que quer cortar gastos, e a ala do governo que prefere aumentar investimentos públicos. O conflito causou saídas de importantes auxiliares do ministro da Economia e alimentando especulações sobre eventual substituição do chefe da pasta da Economia —com um dos nomes mais falados para seu lugar sendo o do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
O mercado piora o sinal porque entende que as divergências dificultam o cumprimento de uma agenda fiscal com menos gastos. Isso ameaça manter a dívida pública em trajetória de alta, deteriorando a percepção sobre as contas públicas do país e reduzindo a confiança dos investidores.
Teto de gastos sob risco
Os gastos extraordinários causados pela pandemia têm elevado temores sobre um possível desrespeito ao teto de gastos por parte do governo.
"O patamar do câmbio ainda reflete a expectativa de que o teto de gastos possa ser descumprido em 2021, principalmente tendo em vista o risco político da semana passada", disse à Reuters Alejandro Ortiz, economista da Guide Investimentos, referindo-se a boatos já desmentidos de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, deixaria seu cargo.
"Se o rompimento do teto vier acompanhado de avanço relevante nas reformas fiscais, o impacto no câmbio não será tão grande", comentou Ortiz. "Agora, se esse não for o caso", o dólar pode chegar a superar a marca de R$ 6, enquanto a curva de juros também sentirá o impacto.
Diante desse cenário incerto, que se soma ao ambiente de juros extremamente baixos, o dólar já salta cerca de 38% em 2020, com o real conquistando a posição de pior desempenho entre uma cesta de mais de 30 moedas.
Intervenção do BC
O Banco Central tem marcado presença no mercado para frear a desvalorização do real. No pregão de hoje, vendeu US$ 400 milhões e US$ 250 milhões em dois leilões de venda conjugados com leilões de compra seguidos.
"O BC com certeza vai continuar intervindo no mercado cambial, sempre repercutindo a mensagem de que vai corrigir a instabilidade financeira diante de alguma disfuncionalidade", disse Ortiz.
*Com Reuters
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