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Com desgaste de Guedes, dólar sobe 1,54% e vai a R$ 5,612; Bolsa cai 1,46%

Do UOL, em São Paulo*

26/08/2020 17h04Atualizada em 26/08/2020 17h16

Com o desgaste de Paulo Guedes no Ministério da Economia durante esta quarta-feira (26), o dólar comercial fechou em alta de 1,54%, vendido a R$ 5,612. É o maior valor de fechamento desde 20 de maio, quando chegou a R$ 5,69.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, emendou a segunda queda, de 1,46%, a 100.627,33 pontos.

O valor do dólar divulgado diariamente pela imprensa, inclusive o UOL, refere-se ao dólar comercial. Para quem vai viajar e precisa comprar moeda em corretoras de câmbio, o valor é bem mais alto.

Insatisfação de Bolsonaro com o 'Renda Brasil'

A alta do dólar e a queda da Bolsa se intensificaram depois de o presidente Jair Bolsonaro rejeitar publicamente a proposta apresentada pelo Ministério da Economia para criação do programa Renda Brasil. O anúncio aumentou as incertezas do mercado sobre a agenda do governo para as contas públicas e o futuro do ministro Paulo Guedes no cargo.

A proposta de criação do Renda Brasil, que estava no pacote de medidas de aceleração da economia apresentadas ao presidente pelo ministro Paulo Guedes, previa um benefício maior que o valor atual do Bolsa Família. Para financiá-lo, a equipe econômica propôs o corte de outros programas sociais, como o abono salarial, o seguro-defeso e o Farmácia Popular.

Além da rejeição de Bolsonaro à proposta, crescem os ruídos entre Guedes, que quer cortar gastos, e a ala do governo que prefere aumentar investimentos públicos. O conflito causou saídas de importantes auxiliares do ministro da Economia e alimentou especulações sobre eventual substituição do chefe da pasta da Economia —com um dos nomes mais falados para seu lugar sendo o do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

O mercado piora o sinal porque entende que as divergências dificultam o cumprimento de uma agenda fiscal com menos gastos. Isso ameaça manter a dívida pública em trajetória de alta, deteriorando a percepção sobre as contas públicas do país e reduzindo a confiança dos investidores.

Teto de gastos sob risco

Os gastos extraordinários causados pela pandemia têm elevado temores sobre um possível desrespeito ao teto de gastos por parte do governo.

"O patamar do câmbio ainda reflete a expectativa de que o teto de gastos possa ser descumprido em 2021, principalmente tendo em vista o risco político da semana passada", disse à agência de notícias Reuters Alejandro Ortiz, economista da Guide Investimentos, referindo-se aos boatos de que o ministro da Economia deixaria o cargo.

"Se o rompimento do teto vier acompanhado de avanço relevante nas reformas fiscais, o impacto no câmbio não será tão grande", comentou Ortiz. "Agora, se esse não for o caso", o dólar pode chegar a superar a marca de R$ 6, enquanto a curva de juros também sentirá o impacto.

Diante desse cenário incerto, que se soma ao ambiente de juros extremamente baixos, o dólar já salta quase 40% em 2020, com o real conquistando a posição de pior desempenho entre uma cesta de mais de 30 moedas.

Intervenção do BC

O Banco Central tem marcado presença no mercado para frear a desvalorização do real. No pregão de hoje, vendeu US$ 400 milhões e US$ 250 milhões em dois leilões de venda conjugados com leilões de compra seguidos.

"O BC com certeza vai continuar intervindo no mercado cambial, sempre repercutindo a mensagem de que vai corrigir a instabilidade financeira diante de alguma disfuncionalidade", disse Ortiz.

*Com Reuters