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Dólar sobe 0,43% e vai a R$ 4,668; Bolsa emenda 3ª queda

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Do UOL, em São Paulo

19/04/2022 17h25

O dólar demonstrou recuperação ao encerrar esta terça-feira (19) em valorização de 0,43%, cotado a R$ 4,668. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3), continuou a tendência de baixa —a terceira seguida—, com perda de 0,55%, aos 115.056,66 pontos.

A moeda norte-americana subia desde hoje de manhã, com investidores à espera de novos comentários de autoridades do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) em meio à expectativa de que o órgão seja mais agressivo em seu aperto monetário, enquanto o foco doméstico tratava do cenário fiscal.

As ações da Vale, que foram as mais negociadas do dia, ajudaram a derrubar o Ibovespa, após queda nos contratos de minério de ferro na Ásia. A VALE3 encerrou o pregão em baixa de 3,28%, cotada a R$ 87,60 na venda.

O valor do dólar divulgado diariamente pela imprensa, inclusive o UOL, refere-se ao dólar comercial. Para quem vai viajar e precisa comprar moeda em corretoras de câmbio, o valor é bem mais alto.

Juros nos EUA

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, disse à Reuters que o foco de investidores ao redor do mundo deve recair sobre falas do presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, que podem oferecer mais pistas sobre os próximos passos do Banco Central.

Na véspera, o presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, disse que a inflação nos Estados Unidos está "alta demais" e voltou a defender o aumento da taxa de juros norte-americana para 3,5% até o fim do ano, a fim de desacelerar a maior inflação em 40 anos.

Isso parecia apoiar os rendimentos dos Treasuries, com a taxa de 30 anos superando 3% pela primeira vez desde 2019 e o retorno do título de dez anos, referência para investimentos, nos maiores patamares desde 2018. Isso, por sua vez, levou o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes a superar a marca de 101 pela primeira vez em dois anos.

Juros mais altos nos EUA são, no geral, fator de apoio para o dólar, já que atraem mais investimentos para o mercado de renda fixa norte-americano.

Nos mercados mais arriscados, o desempenho das moedas nesta terça-feira era misto. Dólar australiano e peso chileno subiam, enquanto peso mexicano e rand sul-africano recuavam.

No cenário doméstico, a atenção continuava nas contas públicas, disse Sanchez, com as negociações em torno de reajustes salariais para servidores públicos podendo "colocar o fiscal em trajetória pior", o que é visto como fator de pressão negativa sobre o real.

Na segunda-feira, o secretário especial do Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Esteves Colnago, disse que ainda não há decisão tomada sobre reajustes ao funcionalismo federal neste ano, mas já adiantou que o governo está prevendo em suas contas gasto de 11,7 bilhões de reais para aumentos salariais em 2023.

Para Sanchez, o dólar deve recuperar terreno contra a moeda brasileira até o final deste ano, chegando a 5,05 reais, dizendo não encontrar "razoabilidade" nos fundamentos locais para manutenção dos preços nos patamares atuais num prazo mais longo.

O dólar tem queda de mais de 16% frente ao real até agora em 2022, e a visão predominante nos mercados financeiros é de que a divisa local —líder global de desempenho no período— tem se beneficiado da disparada internacional do preço das commodities desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, no final de fevereiro, bem como do juro local alto.

"O real continua com bom desempenho no acumulado do ano, apoiado pelos termos de troca mais altos e pelo 'carry' elevado", disseram estrategistas do Citi.

"Esperamos que os fundamentos do real continuem dando suporte à moeda no curto prazo. Se o Banco Central estender o ciclo (de aperto monetário) além de maio, o que está começando a parecer mais provável, dadas as recentes leituras de inflação e comentários do BC, isso deve ajudar ainda mais", completaram em relatório desta terça-feira.

A Selic está atualmente em 11,75% ao ano, após o Banco Central iniciar há mais de um ano um ciclo de elevação de juros que tirou a taxa de uma mínima histórica de 2%. Isso foi aumentando gradativamente os retornos oferecidos pelo mercado de renda fixa doméstica, que se tornaram bastante atraentes quando comparados aos rendimentos das economias avançadas.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, chegou a indicar que a autarquia encerraria seu ciclo de aperto em maio, com ajuste de 1 ponto percentual na Selic, mas a surpresa para cima na leitura de março do IPCA, divulgada mais cedo neste mês, fez crescer a perspectiva de que a instituição estenderá a alta dos juros para além do próximo encontro.

*Com Reuters