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Com R$ 30 mil, é possível abrir produtora de 'jingles'; relembre clássicos

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo (SP)

03/09/2013 06h00

O custo para abrir uma produtora fonográfica, atualmente, é um terço do que há 30 anos, quando surgiram as agências de criação de “jingles” famosos, como o do Danoninho, do Big Mac e D.D.Drin, segundo especialistas.

Hoje, com R$ 30 mil é possível comprar um computador, mesa de som, instrumentos musicais e começar a produzir. Em janeiro de 1983, por exemplo, o investimento girava em torno de Cr$ 4 milhões (aproximadamente R$ 90 mil hoje).

“Antes, os equipamentos eram quase todos importados. Hoje, a tecnologia barateou e um único computador pode fazer várias funções”, diz o presidente da Aprosom (Associação Brasileira das Produtoras de Fonogramas Publicitários), Kito Siqueira.

Apesar de não ter dados atualizados sobre o faturamento do mercado de produções fonográficas, a entidade estima que o setor cresça 2% em 2013. "É um crescimento baixo, mas que vem ocorrendo de forma constante nos últimos anos”, afirma Siqueira.

Segundo ele, as produtoras tendem a ter um faturamento elevado, dependendo da quantidade de trabalhos que fazem por mês. Um “jingle”, por exemplo, pode custar mais de R$ 25 mil.

“Nossa associação tem uma tabela referencial de preços que as empresas podem seguir. Mas, principalmente, produtoras regionais oferecem preços abaixo do mercado para conseguir competir com as grandes. Mesmo assim elas conseguem ter um lucro bom”, declara.

‘Jingle’ do Danoninho foi para a Europa

O compositor Luiz Roberto Rodrigues da Rocha, 68, mais conhecido como Luiz Orquestra, é o criador de “jingles” famosos para Danone, Estrela e outras empresas. Em 1986, ele abriu a própria produtora, a Orquestra e Cia, em São Paulo (SP).

Na época, ele afirma que chegava a produzir até cem trabalhos por mês, entre “jingles”, trilhas instrumentais e propagandas para rádio. Hoje, no entanto, ele produz um ou dois trabalhos, no máximo, por mês.

"Estou praticamente aposentado. Os trabalhos que faço é para um ou outro amigo."

A entrada de novas produtoras computadorizadas no mercado também inibiu a atuação de Rodrigues, segundo ele. "Eu produzia todo o meu material com o auxílio de outros instrumentistas e intérpretes. Hoje, quase todo o trabalho é feito por um computador”, diz.

Um de seus “jingles” mais famosos, o Danoninho, criado em 1987, foi gravado em outros idiomas e reproduzidos em países como Alemanha, Portugal e Suécia. “Foi um trabalho que me rendeu frutos durante 15 anos”, afirma o compositor.

Empresas investem pouco em 'jingle' atualmente

Para o sócio da produtora Ritmika Audio Arts Henrique Tanji, 31, o “jingle” está menos prestigiado do que no passado. Algumas empresas, inclusive, estão desistindo deste tipo de trabalho.

Por isso, segundo especialistas, as empresas do setor devem investir, também, na criação de outros serviços como podcasts (aúdios para internet), trilhas instrumentais, música ambiente para lojas e canções personalizadas

“O desafio do setor é resgatar o ‘jingle’ e mostrar para o cliente que um trabalho acertado causa um impacto muito positivo para a marca”, declara.

De acordo com a professora de criação publicitária da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Maria da Conceição Golobovante, o "jingle" tem a capacidade de ficar gravado na memória das pessoas, mais até do que a publicidade visual.

"Há pessoas na faixa dos 40 anos que ainda se lembram de 'jingles' ouvidos na infância. Algumas letras e ritmos ficaram marcados", afirma.

Casal cria músicas personalizadas para clientes

Em São Caetano do Sul (14 km a sudoeste de São Paulo), os sócios Raul Crespo, 36, e Barbara Hilsenbeck, 36, deixaram a produção de “jingles” para abrir a própria produtora de músicas personalizadas, a My Music.

A ideia do negócio veio em 2011, quando nasceu a primeira filha do casal, Maria Clara. Eles criaram uma música para ela, gravaram 30 CDs e distribuíram como lembrança para os amigos e funcionários da maternidade.

“As pessoas adoraram e acharam o presente diferente. Foi aí que percebemos uma brecha no mercado e a oportunidade de ganhar mais”, afirma Crespo.

O casal investiu R$ 20 mil, entre um computador novo e uma mesa de som para começar a empresa. As gravações começaram em casa. Há três meses, mudaram-se para um escritório com estúdio.

Para compor uma música personalizada, Crespo diz que precisa do máximo de informações possíveis sobre o homenageado, como manias, temperamento e histórias curiosas.

Depois de criada a letra, uma versão da música é enviada para aprovação do cliente. Segundo Crespo, é possível gravar a música com voz feminina, masculina ou infantil. Ao final, a canção é enviada em um CD por correio e custa R$ 600.

“Também trabalhamos com letras semiprontas, nas quais só inserimos o nome do cliente e gravamos”, diz o empresário. O valor da gravação é de R$ 100.

Produtoras devem oferecer outros serviços além de 'jingle'

Segundo a professora da PUC-SP, as produtoras dificilmente conseguem sobreviver produzindo apenas "jingles".

O mais indicado é que elas ampliem a oferta de serviços, com podcasts (aúdios para internet), trilhas instrumentais, música ambiente para lojas e canções personalizadas.

"Antigamente, as produtoras viviam só de 'jingles'. Hoje, elas precisam investir em outros formatos de anúncio e ampliar sua atuação no mercado", afirma Golobovante.