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Ele faz prótese barata de Homem de Ferro e Barbie para crianças sem braço

Renata Tavares

Colaboração para o UOL, em Uberlândia (MG)

21/02/2017 04h00

Crianças brasileiras que nasceram sem um braço ou o perderam por acidente estão recebendo próteses com desenhos de super-heróis ou princesas, a uma fração do custo normal.

O engenheiro mecatrônico e empreendedor Thiago Jucá, 26, de São Paulo, usa uma impressora 3D para fabricar as próteses em plástico ABS. Enquanto uma prótese importada custa até R$ 370 mil, segundo ele, o preço de sua produção vai de R$ 800 a R$ 1.500. Para quem não consegue pagar, o empresário doa.

O projeto começou em outubro do ano passado e atende também jovens e adultos.

Prótese imita braço do homem de ferro

Vanclever Machado Vila Nova dos Santos, o Pepi, 13 anos, nasceu sem o antebraço direito devido a uma má formação congênita e mora em Sete Lagoas (MG). Ele foi a inspiração para o início do negócio.

O processo de construção da prótese, segundo Thiago Jucá, foi todo a distância por meio de fotografias. “Os pais tiraram as medidas do braço que ele ainda tem, mas vieram as medidas erradas. Então pedi fotografias e consegui fazer a prótese.”

A prótese de Pepi não é uma comum, ela simula o braço do Homem de Ferrobusca. A mãe do menino, a costureira Dorca Rodrigues Machado, 45, disse que não tinha dinheiro.

“A gente nunca tinha conseguido a próteses por falta de recursos financeiros. Depois que ele ganhou a prótese percebemos o quanto ele tinha dificuldade em algumas coisas e tudo ficou mais simples.”

O adolescente se diz emocionado. “Sempre quis a sensação de ter o braço. Quando ganhei, me emocionei. Agora é muito mais fácil pegar um copo de água e outras coisas”, afirma.

Menina pediu mão para Papai Noel e ganhou prótese da Barbie

Isabelly Francini da Silva Teixeira, 7, de Vitória (ES) perdeu a mão ao brincar com um rojão em setembro do ano passado. Ela  escreveu uma cartinha para o Papai Noel, numa ação idealizada pelos Correios, pedindo uma mãozinha.

Um funcionário dos Correios entrou em contato com Thiago Jucá, que desenvolveu a prótese, vestiu-se de Papai Noel e entregou uma prótese, em formato de boneca Barbie, na escola de Isabelly. Todo o processo de criação também foi a distância.

A mãe dela, a consultora de vendas Fabiana da Conceição Silva, revela que a filha não queria sair de casa de vergonha e agora faz questão de mostrar a prótese. “Ela ficou muito feliz e eu também”.

Custo alto impossibilita a compra de próteses

Uma prótese que imite os movimentos dos órgãos superiores pode custar até R$ 370 mil. A assessoria de imprensa do SUS (Sistema Único de Saúde) informou que não há um banco com o número de pessoas à espera de próteses ou órteses, mas disse que contabiliza apenas a quantidade de procedimentos realizados por ano.

Em 2016, esse número chegou a 4,6 milhões. O registro de procedimentos não corresponde ao número de pessoas atendidas, podendo se repetir para um mesmo caso.

Projetos que usam impressoras 3D visam reduzir os custos

As próteses produzidas por Thiago Jucá, têm custos baixos entre R$ 800 e R$ 1.500,00. Além disso, segundo ele, crianças que não têm condições de pagar recebem gratuitamente.

Para arcar com os custos das próteses que são doadas, Jucá conta com um banco de doações. “É um negócio social com esquema de doação coletiva (crowdfunding)."

50 próteses por mês

O empreendedor conta que mais de 300 pessoas já solicitaram compra de próteses pelo site www.protesis.com.br. O objetivo, segundo ele, é produzir 50 próteses por mês. O engenheiro busca parceiros.

Sobre faturamento e lucros, Jucá afirma que a Protesis ainda é uma startup em fase inicial e conta com investimento "pequeno" (não revela quanto). Segundo Jucá, as primeiras vendas devem começar neste mês com a implantação do e-commerce. O faturamento esperado é de R$ 450 mil para os próximos meses.

Universidade também pesquisa solução

Pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) têm estudado o funcionamento de próteses fabricadas em impressoras 3D. O professor Edgar Lamounier, um dos pesquisadores, explica que a ideia é que é o paciente treine a adaptação à prótese antes da impressão. A prótese em 3D será modelada até o  encaixe perfeito com o membro.

“Já fizemos testes da impressão de mãos e funcionou. Agora estamos testando e configurando a nossa impressora com as ferramentas de modelagem. Essa fase do projeto está evoluída.”

"Negócio é promissor”, diz especialista

A doutora em Ciência da Computação e pesquisadora de recursos para educação a distância com foco em realidade aumentada, Alessandra Dahmer, conta que o uso das impressoras 3D para produção de próteses é um negócio promissor. Isso porque, segundo ela, elas têm um custo relativamente baixo

“É um negócio com foco no social, que tem tudo para dar certo porque está crescendo muito, além também de ser infinitamente mais barato”.