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Boia-fria aos 7, criador da Morena Rosa vendeu Monza para abrir negócio

Lucas Gabriel Marins

Colaboração para o UOL, em Curitiba

23/02/2018 04h00Atualizada em 23/02/2018 11h21

Ele começou a trabalhar aos setes anos, como boia-fria, em fazendas de Cianorte (PR), a 506 quilômetros de Curitiba. Só conseguiu se alfabetizar aos 15 anos, fazendo supletivo. Na década de 1980, fez curso técnico de contabilidade e conseguiu uma vaga em uma empresa de doces. Hoje, aos 58 anos, Marcos Franzato é dono da marca de moda Morena Rosa, que tem 1.400 funcionários e produz quase 2 milhões de roupas por ano.

A virada aconteceu porque a fábrica de doces onde trabalhava corria o risco de falir. Franzato, então, resolveu ir atrás de um sonho antigo: montar seu próprio negócio. Em 1993, vendeu seu carro, um Monza, juntou o dinheiro com algumas economias da mulher, a professora de matemática Valdete Franzato, e chamou dois cunhados para serem seus sócios.

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O negócio começou com cerca de US$ 24 mil (cerca de R$ 78 mil em valores atuais). No início, a empresa tinha quatro máquinas de costura e confeccionava moletons para o atacado. Mas Valdete, como diretora de criação, sugeriu mudar o foco do negócio.

Minha mãe sempre foi vaidosa e gostava de comprar roupas. Insistiu para o meu pai focar em moda feminina.

Lucas Franzato, 28, presidente da empresa e filho dos fundadores

Atualmente, a produção das roupas é feita em um parque fabril de 25 mil metros quadrados, localizado em Cianorte, e em unidades em outros municípios do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Além da Morena Rosa, que tem roupas mais "sensuais", a empresa tem outras três marcas: Maria Valentina (clássica), Zinco (jovem) e Lebôh (urbana). A marca principal representa 55% do negócio. As peças são vendidas em mais de 6.000 lojas multimarcas espalhadas pelo Brasil, lojas próprias, outlets e franquias do Clube Morena Rosa. Os produtos também são vendidos em mais 11 países, como Estados Unidos, Alemanha e Japão.

O grupo não revela o faturamento, mas afirma que o crescimento em 2017 foi de 2%,  comparado ao ano anterior. O percentual é menor do que o registrado pelo setor, que apresentou alta de 13,3% no mesmo período, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção.

Fundador quer ser prefeito; filho assume

Depois de 25 anos à frente do grupo, Franzato, que quer ser prefeito de Cianorte em 2020, decidiu deixar o comando a carga do filho Lucas.

Lucas conta que desde criança frequentava as dependências da companhia e, aos 12, começou a digitar pedidos que chegavam por fax. Conheceu todas as áreas, ocupou o posto de gerente de marketing aos 18 anos e depois assumiu a vice-presidência.

Na nova gestão, Lucas diz que vai apostar nas vendas pela internet --que hoje representam 5% do que é comercializado.

O nosso grande desafio agora é passar de uma marca multimarca para uma multicanal, em que o consumidor, independente de onde esteja, possa adquirir nossos produtos.

Lucas Franzato, presidente da empresa

Localização favoreceu, diz especialista

O crescimento da Morena Rosa se deve principalmente a dois fatores --localização e qualidade--, segundo o professor de empreendedorismo da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) Luiz Eduardo de Araújo.

"O primeiro [fator] é o posicionamento da empresa na cidade paranaense, que se desenvolveu como um dos maiores polos do vestuário brasileiro", relata. Cianorte tem cerca de 300 empresas de vestuário, que empregam por volta de 18 mil trabalhadores. Cerca de 2 milhões de peças são produzidas por mês no município, segundo o Sindicato das Indústrias do Vestuário de Cianorte (Sinveste).

O segundo ponto apontado por Araújo é a questão da qualidade. "No setor de confecção, é preciso agregar muito valor à marca, e a Morena Rosa conseguiu fazer isso e se tornou umas das referências nacionais", diz.

Em relação à sucessão presidencial, no entanto, Araújo faz um alerta.

Conseguir que o sucessor tenha o mesmo talento que o fundador é uma luta. Vamos torcer para que nos próximos anos a empresa consiga passar tranquilamente por esse processo.

Luiz Eduardo de Araújo, professor de empreendedorismo

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