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Associação quer emprestar R$ 15 mil, mas não acha empresas com nome limpo

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Ricardo Marchesan

Do UOL, em São Paulo

28/05/2020 04h00Atualizada em 03/06/2020 19h02

"Precisamos emprestar crédito para MEIs com nome limpo. Pode ser em qualquer lugar de São Paulo, Minas Gerais, região Sul e Centro-Oeste".

A mensagem passada via WhatsApp por funcionários do Banco Pérola, uma associação de crédito para empreendedores, localizada em Sorocaba (SP), pode parecer estranha em meio a uma grande crise, como a atual. Mas a dificuldade de encontrar microempresários que não estejam com o nome sujo fez com que a instituição adotasse uma estratégia mais direta na busca por pessoas para conceder empréstimos de até R$ 15 mil.

Muita procura, mas maioria tem nome sujo

Mesmo com o volume de pedidos de microcrédito ao Pérola disparando no mês passado, a porcentagem dos que foram aceitos é baixa. Segundo eles, ao todo foram solicitados R$ 39 mil em janeiro, R$ 45 mil em fevereiro e R$ 53 mil em março. Em abril, esse número pulou para R$ 5,4 milhões.

Dessas solicitações em abril, 97,7% foram negadas. Apenas R$ 109 mil foram transformados em crédito.

O Banco Pérola afirma que as taxas cobradas pela instituição variam entre 1,1% e 2,25% ao mês, o que equivale a taxas anuais de 14% a 30,6%, aproximadamente.

Esse valor é compatível com o mercado. De acordo com dados do Banco Central, a taxa média de juros ao ano de microcrédito para empresas em geral (não só pequeno porte) ficou em 24,04% no primeiro trimestre. Para microempresas, a taxa média foi de 32,41%, e, para pequenas, de 14,66%.

"O microempreendedor sempre encontrou desafios na tomada de crédito. E o que vemos é que, com o avanço da pandemia, as restrições no nome do empreendedor, no nome da empresa, estão aumentando", afirma Alessandra França, fundadora do Banco Pérola.

De acordo com a Serasa Experian, em março eram 5,8 milhões de micro e pequenas empresas inadimplentes, um aumento de 0,6% no mês e 7,6% na comparação anual.

Alessandra afirma que os que procuram crédito neste momento necessitam do dinheiro para manter o negócio durante a crise, para ter capital de giro ou fazer a troca de dívidas.

Associação faz a ponte com investidores

Pérola - Divulgação - Divulgação
Alessandra França, fundadora do Banco Pérola
Imagem: Divulgação

O Banco Pérola atua como uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) com foco em microcrédito produtivo, aquele direcionado especificamente para o empreendedor investir na própria empresa, por exemplo para capital de giro, reforma ou pagamento de dívidas.

"O Pérola é um articulador de recursos. Estamos no meio, entre o investidor e o empreendedor. Conforme recebemos recursos, vamos disponibilizando", afirma Alessandra.

A busca por microempreendedores, portanto, é pela necessidade de manter seu negócio, mas a fundadora do Pérola diz que também considera "uma pena" ter os recursos, mas não encontrar a quem emprestar.

"O nosso negócio é crédito. É lógico que precisamos sobreviver também. Mas faz parte do nosso papel distribuir isso", afirma. "É uma pena ficarmos com recursos e não ter empreendedores que se qualifiquem, por isso estamos expandindo, indo atrás [de clientes]."

De Sorocaba para outros estados

Diante do aumento das restrições, a associação mudou a estratégia para encontrar empreendedores aptos a receber. Além de uma divulgação mais ativa, principalmente em redes sociais, a instituição ampliou a área de atuação. Até a pandemia, trabalhavam principalmente na região metropolitana de Sorocaba, mas hoje se estende para todo o estado de São Paulo, além de Minas Gerais e as regiões Sul e Centro-Oeste.

"Estamos tendo que dar passos maiores ainda para buscar empreendedores que não estejam com essa restrição no nome. Está cada vez mais difícil, porque as pessoas estão passando por muita dificuldade", diz Alessandra.

Eles também criaram uma página na internet para que os interessados possam fazer uma simulação de crédito e encaminhar o pedido: simulacao.creditoperola.digital.

Além da exigência de nome limpo, é necessário que o CNPJ esteja aberto há mais de um ano.

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