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Ex-pegador de bola de tênis abre rede de pizza enrolada e fatura R$ 86 mi

Paulo Rogério Moreira da Silva é um dos criadores da Pizza Crek, em São Paulo - Divulgação
Paulo Rogério Moreira da Silva é um dos criadores da Pizza Crek, em São Paulo Imagem: Divulgação

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

02/03/2022 04h00

Paulo Rogério Moreira da Silva ganhava uns trocados como pegador de bolinhas em clubes de tênis "de rico" em São Paulo, aos 12 anos de idade. Depois foi empacotador em supermercado, lavou copos em pizzaria e fez estágio como advogado. Ao ficar desempregado, ele se juntou ao cunhado para criar a Pizza Crek. Hoje, a rede tem 82 lojas (sendo quatro nos EUA), quatro sócios e faturou R$ 86,2 milhões em 2021.

O produto é uma pizza crocante enrolada, servida individualmente em embalagem descartável. São cerca de 60 sabores, entre pizzas salgadas, doces e veganas. Custam de R$ 10,90 a R$ 17. O minicrek é vendido a R$ 2,50.

Pizza Crek de chocolate com morango - Divulgação - Divulgação
Na Pizza Crek, a pizza de chocolate ao leite com morango custa R$ 12,90
Imagem: Divulgação

Filho de uma família pobre natural de Pedra (PE), Silva chegou a São Paulo com poucos meses de vida, em 1984. O pai, Genecy, foi o primeiro a vir; depois, buscou a esposa, Maria Selma, e os três filhos (Luciana, Adriano e Paulo). Outros dois filhos (Cristiano e Natália) nasceram em São Paulo. A família morou na periferia da capital e em Itaquaquecetuba (SP).

O primeiro trabalho de Silva foi ser pegador de bolinhas de tênis no Clube Sírio e depois no Play Tênis, ambos em áreas nobres da capital paulista. Ganhava cerca de R$ 5 por hora. Ele e o irmão Cristiano trabalhavam durante à tarde, de segunda a sexta, e o dia todo, nos finais de semana.

Não era uma profissão, mas uma oportunidade para mim e para o meu irmão. Aprendi a dar valor ao trabalho. Não vejo aquilo como uma desigualdade social. Vejo que ser pegador de bolinhas em clubes de tênis, que é um esporte de classe A, é uma oportunidade para jovens das comunidades terem o seu dinheirinho.
Paulo Rogério Moreira da Silva, sócio da Pizza Crek

Ele chegou a ganhar presentes dos clientes dos clubes, como raquetes, roupas e tênis.

Lavador de copos em pizzaria

Depois, Silva trabalhou como empacotador na rede Pão de Açúcar, contratado por uma empresa terceirizada. Em 2002, aos 18 anos, saiu do supermercado para trabalhar em uma pizzaria como lavador de copos nos finais de semana. Quando a pizzaria fazia eventos na casa dos clientes, ele ia como auxiliar de limpeza.

Foi trabalhando nessa pizzaria que Silva conheceu o cliente Marcos de Carvalho Pagliaro, que lhe ofereceu um estágio no seu escritório de advocacia, onde ficou por cinco anos. Silva fazia faculdade de direito, se formou, mas nunca exerceu a profissão.

Após sair do escritório, em 2008, ele ficou desempregado. "Nessa época que meu cunhado Valber de Araújo Silva, que é pizzaiolo, me deu para experimentar uma pizza que ele havia inventado: uma pizza crocante e enrolada. Foi aí que tivemos a ideia de fazer essas pizzas e iniciar em eventos nas casas das pessoas. Inicialmente, fazíamos as pizzas na cozinha da minha casa no Capão Redondo", explicou. Chamaram o negócio de Pizza Crek.

"Não tínhamos nada de recursos. Tínhamos força de vontade e um pouco de crédito, como o limite no banco, cartão de crédito. Muitas vezes, pegávamos o cartão emprestado com seu irmão Adriano", disse Silva.

Em seguida, abriram uma loja física em Paraisópolis, em 2009, mas as contas não fechavam. "Ficamos com essa unidade até 2013, mas sempre acumulando dívidas e devendo para agiotas. Hoje vejo que faltava planejamento."

Desanimado, ele ligou para Pagliaro (aquele cliente da pizzaria que lhe deu estágio) e contou sobre a Pizza Crek. Pagliaro aceitou entrar na sociedade juntamente com seu amigo Bruno Fagundes, também sócio do escritório de advocacia. O investimento dos dois sócios não foi revelado.

Sócios da Pizza Crek - Divulgação - Divulgação
Valber Silva (à esq.), Marcos Pagliaro e Paulo Rogério Moreira da Silva são sócios da Pizza Crek
Imagem: Divulgação

"Em um ano equalizamos as dívidas, saímos de Paraisópolis e abrimos duas lojas no Morumbi e uma na Vila Olímpia. Saímos de Paraisópolis, mas, estrategicamente, abrimos na mesma região, porém em um local com mais espaço para operação."

Em 2015, o negócio foi formato para virar franquia. Hoje, a rede tem 78 unidades no país e mais quatro nos EUA (duas em Miami e duas na Califórnia). Apenas sete são próprias. No ano passado, a rede faturou R$ 86,2 milhões. O lucro não foi divulgado.

Vim da periferia e, até hoje, sempre que posso dou oportunidades para jovens das comunidades e conselhos para quem quer empreender.
Paulo Rogério Moreira da Silva, sócio da Pizza Crek

Negócio tem diferenciais, diz consultora

Para Juliana Berbert, consultora de negócios do Sebrae-SP, a busca por oportunidade e conhecimento, a persistência e até sua rede de contatos mostram a veia empreendedora de Silva.

"Ele viu potencial na Pizza Crek e começou aos poucos. Por mais que tenha tido dificuldades no início, aprendeu com os erros e soube racionalizar os riscos, indo atrás de sócios e de alternativas para viabilizar o negócio", afirmou.

Segundo ela, o segmento de alimentação traz muitas oportunidades. "E a pizza, já tão tradicional em São Paulo, é um produto com diversos preços e formatos para todos os públicos. A Pizza Crek traz como diferenciais o formato e até a facilidade de comer sem talher. São atrativos do negócio", declarou.

Juliana diz, no entanto, que, apesar de pizza ser um produto de fácil aceitação no mercado, é preciso sempre olhar a concorrência em busca de boas práticas para se inspirar.

Outro ponto de atenção em uma rede de franquias é a padronização. "O cliente espera encontrar o mesmo produto em qualquer unidade. Para isso, a empresa precisa escolher bem o seu franqueado, para não colocar em risco o nome da marca, e ainda dar suporte a ele, para garantir todas as etapas do funcionamento do negócio."

Onde encontrar:

Pizza Crek - www.pizzacrek.com.br