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Ela investiu R$ 800 em negócio para vender tapiocas; hoje fatura R$ 500 mil

Deia Lopes é dona do restaurante Toca da Tapioca, em Serra Grande, distrito de Uruçuca (BA) - Divulgação
Deia Lopes é dona do restaurante Toca da Tapioca, em Serra Grande, distrito de Uruçuca (BA) Imagem: Divulgação

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/10/2022 04h00

De família pobre na Bahia, Deia Lopes, 36, mudou-se para São Paulo aos 13 anos, em 1999, para morar com uma irmã e aqui trabalhou como faxineira, babá e no McDonald's. De volta à Bahia, em 2004, foi ajudante de cozinha em um resort em Itacaré; depois, em outro, fazia tapioca no café da manhã vestida de baiana. Em 2009, decidiu investir em um negócio próprio: abriu a Toca da Tapioca, em Serra Grande, distrito de Uruçuca (BA), com R$ 800. Em 2021, faturou R$ 500 mil.

Em julho deste ano, Deia lançou, inicialmente no mercado baiano, os discos de tapioca ultracongelados (similar à massa semipronta do Rap10), mas pretende expandir para todo o país. O pacote com 6 unidades sai por R$ 9,50 na Bahia. O preço não deve ser o mesmo em outras regiões.

"Durante uma ida ao mercado, vi uma moça saindo com alguns pacotes de Rap 10 e, nesse momento, teve o estalo para a criação dos discos de tapioca. Depois, nós o aperfeiçoamos para lançar o produto ultracongelado. A validade passou de 12 dias para três meses", diz ela.

Além da tradicional branca, há também discos de tapioca saborizados (cenoura com cúrcuma, beterraba e ervas).

Mãe vendia amendoim na rodoviária

Deia conta que cresceu vendo a mãe, Elenita da Conceição, se virando para cuidar dos 13 filhos, enquanto o marido ficava dois ou três anos fazendo bicos de pedreiro em outros estados, sem dar notícias. "A lembrança que tenho do meu pai [Valdemar Soares Santos] é que, quando ele aparecia, nós conseguíamos ter três refeições no dia: café, almoço e jantar", diz referindo ao dinheiro que ele levava para a família.

Segundo ela, para sustentar os filhos, Elenita fazia faxina, lavava roupas e também vendia amendoim na rodoviária de Ubaitaba (BA) "todo santo dia".

Acredito que minha veia empreendedora veio dessa cena de uma mulher forte e aguerrida.
Deia Lopes, dona da Toca da Tapioca

Aos 13 anos, Deia decidiu ir morar com uma irmã em Barueri (SP). Ficou em São Paulo até os 18 anos, quando engravidou e decidiu retornar à Bahia. Trabalhou como ajudante de cozinha em um resort em Itacaré, durante a temporada (de setembro a fevereiro). Na temporada seguinte, em 2005, em outro resort, Deia fazia tapioca durante o café da manhã dos hóspedes, sempre vestida com roupas de baiana. Ganhava várias gorjetas, diz.

"Por uns anos, trabalhei nas temporadas de primavera-verão em resorts no sul da Bahia e voltava para São Paulo, sempre fazendo bicos na gastronomia. Deixava o meu filho com minha mãe", diz.

De volta à Bahia de vez, em 2008, Deia foi trabalhar em uma pousada em Serra Grande, onde também morava com o filho.

Mas o dinheiro nunca dava. Por isso, coloquei na cabeça que precisaria mudar aquela situação. Então, com R$ 800 das primeiras férias, aluguei um ponto pequeno, comprei insumos e dois jogos de mesa e abri a Toca da Tapioca em 2009.
Deia Lopes, dona da Toca da Tapioca

Nordestina é a mais vendida

Tapioca Nordestina - Divulgação - Divulgação
A tapioca mais vendida é a Nordestina (carne seca desfiada, banana da terra grelhada e queijo muçarela)
Imagem: Divulgação

Na época, ela tinha apenas cinco tipos de recheio (que estão no cardápio até hoje). Atualmente, são 22 sabores.

Cinco anos depois, Deia mudou o negócio para um espaço maior. Em 2016, comprou um terreno e construiu o atual restaurante, que, além de tapiocas, passou a vender pratos à base de peixes, carnes e frutos do mar. No ano passado, o faturamento foi de R$ 500 mil, e o lucro, R$ 115 mil.

Entre as tapiocas, a mais vendida é a Nordestina (carne seca desfiada, banana da terra grelhada e queijo muçarela), por R$ 19. A mais barata é a Baianinha (coco fresco ralado e leite condensado), por R$ 7, e a mais cara, a Lampião (carne seca, queijo coalho, tomate e cebola grelhada), por R$ 24,90.

Fortalecer a marca dos discos de tapioca

Ariadne Mecate, consultora de negócios do Sebrae-SP, diz que Deia Lopes tem características empreendedoras, como persistência, iniciativa, busca por conhecimento e comprometimento com o que faz.

"Ela foi inovadora ao lançar os discos de tapioca. A sacada foi genial, pois o produto chega como uma solução prática para o dia a dia das pessoas, além de abrir outra frente de renda para a sua empresa", afirma.

A consultora diz, no entanto, que é preciso estruturar muito bem o plano de negócio do novo produto, como escolher os canais de venda (direta, e-commerce, representantes comerciais, etc.), precificar o produto para garantir sua margem de lucro e até registrar a marca, para se blindar da concorrência.

Para atrair a clientela, Ariadne diz que algumas opções são fazer degustação do produto, firmar parcerias com influenciadores digitais para a divulgação da marca e com hotéis, restaurantes e academias para a venda dos discos de tapioca e ainda criar planos de assinatura para os clientes.

Outro cuidado é com a concorrência. "Tapioca não é nova, mas os discos de tapioca são. É importante fortalecer a marca dela, para que ela seja vista como pioneira, e não descuidar da qualidade", declara.

Onde encontrar:

Toca da Tapioca: https://www.instagram.com/tocadatapioca.restaurante/